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sábado, 23 de janeiro de 2010

Cura moral dos encarnados



Cura moral dos encarnados
Revista Espírita, julho de 1865

Muitas vezes vêem-se Espíritos de natureza má ceder muito prontamente sob a influência da moralização e se melhorar. Pode-se agir do mesmo modo sobre os encarnados, mas com muito mais trabalho. Porque a educação moral dos Espíritos desencarnados é mais fácil que a dos encarnados?

Esta pergunta foi motivada pelo seguinte fato. Um jovem cego há doze anos tinha sido recolhido por um Espírito dedicado, que tinha empreendido curá-lo pelo magnetismo, pois os Espíritos haviam dito que era possível. Mas o jovem, em vez de se mostrar reconhecido pela bondade de que era objeto e sem a qual teria ficado sem asilo e sem pão, só teve ingratidão e mau procedimento e deu provas do pior caráter.

Consultado a respeito, respondeu o Espírito de São Luís:

"Esse jovem, como muitos outros, é punido por onde pecou e suporta a pena de sua má conduta. Sua enfermidade não é incurável, e uma magnetização espiritual, praticada com zelo, devotamento e perseverança, certamente terá êxito, ajudada por um tratamento médico destinado a corrigir seu sangue viciado. Já haveria uma sensível melhora em sua visão, que ainda não está completamente extinta, se os maus fluídos de que está cercado e saturado não opuseram um obstáculo à penetração dos bons fluídos que, de certo modo, são repelidos. No estado em que se encontra, a ação magnética será impotente enquanto, por sua vontade e sua melhora, não se desembaraçar desses fluidos perniciosos.

"É, pois, uma cura moral que se deve obter, antes de buscar a cura física. Um retorno sério sobre si-mesmo é a única coisa que pode tornar eficazes os cuidados de seu magnetizador, que os bons Espíritos procuram ajudar. Caso contrário, deve esperar-se que perca o pouco de luz que lhe resta e novas e muito terríveis provações que terá de sofrer.

"Agi, pois, sobre ele como fazeis com os maus Espíritos desencarnados, que quereis trazer ao bem. Ele não está sob uma obsessão: é sua natureza que é má e, além disso, perverteu-se no meio onde viveu. Os maus Espíritos que o assediam só são atraídos pela semelhante com o seu-próprio. À medida que se melhora, eles se afastarão. Só então a ação magnética terá todo o seu efeito. Dai-lhe conselhos; explicai-lhe sua posição; que várias pessoas sinceras se unam em pensamento para orar, a fim de atrair para ele influências salutares. Se ele as aproveitar não tardará a lhes experimentar os bons efeitos, porque será recompensado por um mais sensível na sua posição."

Esta instrução nos revela um fato importante, o obstáculo oposto pelo estado moral, em certos casos, à cura dos males físicos. A explicação acima é de uma lógica incontestável, mas não poderia ser compreendida pelos que apenas vêem em toda a parte a ação exclusiva da matéria. No caso de que se trata, a pura moral do paciente encontrou sérias dificuldades; foi o que motivou a pergunta acima, proposta na Sociedade Espírita do Paris.

Seis respostas foram obtidas, todas concordando perfeitamente entre si. Citaremos apenas duas, para evitar repetições inúteis. Escolhemos aquelas em que a questão é tratada com mais desenvolvimento.

"Como o Espírito desencarnado vê manifestamente o que se passa e os exemplos terríveis da vida, compreende tanto mais rapidamente o que o exortam a crer e a fazer. Por isso não é raro ver Espíritos desencarnados dissertar sabiamente sobre questões que, em vida, estavam longe de as comover. A adversidade amadurece o pensamento. Esta expressão é verdadeira sobretudo para as Espíritos desencarnados, que vêem de perto as conseqüências de sua vida passada.

A despreocupação e a idéia preconcebida, ao contrário, triunfam nos Espíritos encarnados; as seduções da vida e, até, os seus erros, dão-lhes uma misantropia ou uma indiferença completa pelos homens e pelas coisas divinas. A carne lhes faz esquecer o Espírito; uns fundamentalmente honestos, fazem o bem evitando o mal, por amor do bem, mas a vida de sua alma é quase nula; outros, ao contrário consideram a vida como uma comédia e esquecem seu papel de homens; outros, enfim, completamente embrutecidos e último degrau da espécie humana, nada vendo além, não pressentindo mesmo nada, entregam-se, como o animal, aos crimes bárbaros e esquecem sua origem. Assim, uns e outros, pela vida mesma, são arrastados, ao passo que os Espíritos desencarnados vêem, escutam e se arrependem com melhor vontade" - Lamennais (médium: Sr. A. Didier).

"Quantos problemas e questões a resolver antes que seja realizada a transformação humana conforme as idéias espíritas! A educação dos Espíritos e dos encarnados, do ponto de vista moral, está neste número. Os desencarnados estão desembaraçados da carne não mais lhe sofrem as condições inferiores, ao passo que os homens, encadeiados numa matéria imperiosa do ponto de vista pessoal, se deixam arrastar pelo estado das provas no qual estão metidos. É à diferença dessas diversas situações que se deve atribuir a dificuldade que os Espíritos iniciadores e os homens que têm essa missão experimentam para melhorar rapidamente e, por assim dizer, nalgumas semanas, aqueles homens que lhes são confiados. Ao contrário, os Espíritos aos quais a matéria não mais impõe as suas leis e não mais fornece os meios de satisfazer seus maus apetites, e que, por conseqüência, não tem mais desejos inconfessáveis, são mais aptos a aceitar os conselhos que lhes são dados. Talvez respondam com esta pergunta que tem a sua importância: Porque não escutam os conselhos de seus guias do espaço e esperam os ensinamentos dos homens? Porque é necessário que os dois mundos visível e invisível, reagem um sobre o outro e que a ação dos humanos seja útil aos que viveram, como a ação da maior parte destes é benéfica aos que vivem entre vós. E uma dupla corrente, uma dupla ação, igualmente satisfatória para esses dois mundos, que estão unidos por tantos laços. Eis o que julgo dever responder à pergunta feita por vosso presidente" - Erasto (médium: Sr. d'Ambel).

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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ESTUDANDO (SOBRE O PASSE ESPIRITA)

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ESTUDANDO (SOBRE O PASSE ESPIRITA)

"Livro dos Médiuns, Segunda Parte, cap. XIV, item 175 e 176

Diremos apenas que esse gênero da mediunidade consiste principalmente no dom de curar por simples toques, pelo olhar ou mesmo por um gesto, sem nenhuma medicação. Certamente dirão que se trata simplesmente de magnetismo.

É evidente que o fluido magnético exerce um grande papel no caso. Mas, quando se examina o fenômeno com devido cuidado, facilmente se reconhece à presença de mais alguma coisa.

A magnetização comum é uma verdadeira forma de tratamento, com a devida seqüência, regular e metódica. No caso referido as coisas se passam de maneira inteiramente diversa. Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, se souberem cuidar do assunto convenientemente.

Mas entre os médiuns curadores a faculdade é espontânea, e às vezes a possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo.

A intervenção de uma potência oculta, que caracteriza a mediunidade, torna-se evidente em certas circunstâncias. E o é, sobretudo, quando consideramos que a maioria das pessoas qualificáveis como médiuns curadores recorrem à prece, que é uma verdadeira evocação. (Ver o nº 131).

176. Eis as respostas que obtivemos dos Espíritos, a perguntas feitas a respeito:

1. Podemos considerar as pessoas dotadas de poder magnético como formando uma variedade mediúnica?
— Não podes ter dúvida alguma.

2. Entretanto, o médium é um intermediário entre os Espíritos e os homens, mas o magnetizador, tirando sua força de si mesmo não parece servir de intermediário a nenhuma potência estranha?
— É uma suposição errônea. A força magnética pertence ao homem, mas é aumentada pela ajuda dos Espíritos a que ele apela. Se magnetizares para curar, por exemplo, e evocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo doente, ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige os teus fluidos e lhes dá as qualidades necessárias.(17)

3. Há, porém, excelentes magnetizadores que não acreditam nos Espíritos?
— Pensas então que os Espíritos só agem sobre os que crêem neles? Os que magnetizam para o bem são auxiliados pelos Espíritos bons. Todo homem que aspira ao bem os chama sem o perceber, da mesma maneira que, pelo desejo do mal e pelas más intenções chamará os maus.

4. O magnetizador que acreditasse na intervenção dos Espíritos agiria com maior eficiência?
— Faria coisas que seriam consideradas milagres.

5. Algumas pessoas têm realmente o dom de curar por simples toques, sem o emprego dos passes magnéticos?
— Seguramente. Não tens tantos exemplos?

6. Nesses casos trata-se de ação magnética ou somente de influência dos Espíritos?
— Uma e outra. Essas pessoas são verdadeiros médiuns, pois agem sob a influência dos Espíritos, mas isso não quer dizer que sejam médiuns escreventes, como o entendes.

7. Esse poder é transmissível?
— O poder, não, mas sim o conhecimento do que se necessita para exercê-lo, quando se o possui. Há pessoas que nem suspeitariam ter esse poder se não pensarem que ele lhe foi transmitido.(18)

José Herculano Pires no livro Obsessão - O Passe - A Doutrinação oferece seus esclarecimentos.

O Passe I — Suas origens, aplicações e efeitos

O passe espírita é simplesmente a imposição das mãos, usada e ensinada por Jesus como se vê nos Evangelhos. Origina-se das práticas de cura do Cristianismo Primitivo. Sua fonte humana e divina são as mãos de Jesus. Mas há um passado histórico que não podemos esquecer. Desde as origens da vida humana na terra encontramos os ritos de aplicação dos passes, não raro acompanhados de rituais, como sopro, a fricção das mãos, a aplicação de saliva e até mesmo (resíduo do rito do barro), a mistura de saliva e terra para aplicação no doente. No próprio Evangelho vamos a descrição da cura de um cego por Jesus usando essa mistura. Mas Jesus agiu sempre, em seus atos e em suas práticas, de maneira que essas descrições, feitas entre quarenta e oitenta anos após a sua morte, podem ser apenas influência de costumes religiosos da época. Todo o seu ensino visava afastar os homens das superstições vigentes no tempo. Essas incoerências históricas, como advertiu Kardec, não podem provir dele, mas dos evangelistas. Caso, contrário, Jesus teria procedido de maneira incoerente no tocante aos seus ensinos e seus exemplos, o que seria absurdo.

O passe espírita não comporta as encenações e gesticulações em que hoje envolveram alguns teóricos improvisados, geralmente ligados a antigas correntes espiritualistas de origem mágica ou feiticista. Todo o poder e toda a eficácia do passe espírita dependem do espírito e não da matéria, da assistência espiritual do médium passista e não dele mesmo. Os passes padronizados e classificados derivam de teorias e práticas mesméricas, magnéticas e hipnóticas de um passado já há muito superado. Os espíritos realmente elevados não aprovam nem ensinam essas coisas, mas à prece e a imposição das mãos. Toda a beleza espiritual do passe espírita, que provém da fé racional no poder espiritual, desaparece ante as ginásticas pretensiosas e ridículas gesticulações.

As encenações preparatórias: mãos erguidas ao alto e abertas, para suposta captação de fluidos pelo passista, mãos abertas sobre os joelhos, pelo paciente, para melhor assimilação fluídica, braços e pernas descruzados para não impedir a livre passagem dos fluidos, e assim por diante, só serve para ridicularizar o passe, o passista e o paciente. A formação das chamadas pilhas mediúnicas, com o ajuntamento de médiuns em torno do paciente, as correntes de mãos dadas ou de dedos se tocando sobre a mesa – condenadas por Kardec – nada mais são do que resíduos do mesmerismo do século passado, inúteis, supersticiosos e ridicularizantes.

Todas essas tolices decorrem essencialmente do apego humano às formas de atividades materiais. Julgamo-nos capazes de fazer o que não nos cabe fazer. Queremos dirigir, orientar os fluidos espirituais como se fossem correntes elétricas e manipulá-los como se a sua aplicação dependesse de nós. O passista espírita consciente, conhecedor da doutrina e suficientemente humilde para compreender que ele pouco sabe a respeito dos fluidos espirituais – e o que pensa saber é simples pretensão orgulhosa – limita-se à função mediúnica de intermediário. Se pede a assistência dos Espíritos, com que direito se coloca depois no lugar deles? Muitas vezes os Espíritos recomendam que não se façam movimentos com as mãos e os braços para não atrapalhar os passes. Ou confiamos na ação dos Espíritos ou não confiamos e neste caso é melhor não os incomodarmos com os nossos pedidos.

O passe espírita é prece, concentração e doação. Quem reconhece que não pode dar de si mesmo, suplica a doação dos Espíritos. São eles que socorrem aqueles por quem pedimos, não nós, que em tudo dependemos da assistência espiritual.


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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Procedimentos para afastar os maus Espíritos


Procedimentos para afastar os maus Espíritos

Revista Espírita, setembro de 1859

A intromissão dos Espíritos enganadores nas comunicações escritas é uma das maiores dificuldades do Espiritismo; sabe-se, por experiência, que eles não têm nenhum escrúpulo em tomarem nomes supostos, e mesmo nomes respeitáveis; há meios de afastá-los? Aí está a questão. Certas pessoas empregam, para esse fim, o que se poderia chamar de procedimentos, quer dizer, sejam fórmulas particulares de evocação, sejam espécies de exorcismos, como fazê-los jurarem em nome de Deus de que dizem a verdade, fazê-los escrever certas coisas, etc. Conhecemos alguém que, a cada frase, intimava o Espírito para assinar seu nome; se fosse a verdade, ele escreveria o nome sem dificuldade; se fosse o falso, ele se deteria logo, ou no meio, sem poder terminá-lo; vimos essa pessoa receber as comunicações mais ridículas de parte dos Espíritos que assinavam o nome de empréstimo com uma firmeza perfeita. Outras pessoas pensam que o meio eficaz é fazer confessar Jesus em carne, ou outras verdades da religião. Pois bem! Declaramos nós que se alguns Espíritos, um pouco mais escrupulosos, detém-se pela idéia de um perjúrio ou de uma profanação, há os que juram tudo o que se quer, que assinam todos os nomes, que se riem de tudo, e afrontam a presença dos mais veneráveis sinais, de onde concluímos que, entre o que se pode chamar de procedimentos, não há nenhuma fórmula, nenhum expediente material que possa servir de preservativo eficaz.

Nesse caso, dir-se-á, não há senão uma coisa a fazer, que a de parar de escrever. Este meio não seria melhor; longe disso, seria pior em muitos casos. Dissemos, e não poderíamos repeti-lo muito, que a ação dos Espíritos sobre nós é incessante, e não é menos real porque é oculta. Se ela deve ser má, será mais perniciosa ainda pelo fato de que o inimigo estará oculto; pelas comunicações escritas, ele se revela, se desmascara, sabe-se com quem se tem relação, e pode-se combatê-lo. - Mas se não há nenhum meio de afastá-lo, que fazer então? Não dissemos que não haja nenhum meio, mas somente que a maioria daqueles que se empregam são impotentes; aí está o assunto que nos propomos desenvolver.

Não se pode perder de vista que os Espíritos constituem todo um mundo, toda uma população que preenche o espaço, que circula aos nossos lados, e que se mistura a tudo aquilo que fazemos. Se o véu que no-los oculta viesse a ser levantado, ve-los-íamos, ao redor de nós, irem, virem, serguir-nos ou evitar-nos segundo o grau de sua simpatia; uns indiferentes, verdadeiros vadios do mundo oculto, os outros muito ocupados, seja consigo mesmos, seja com homens aos quais se agarram, com um objetivo mais ou menos louvável, segundo as qualidades que os distinguem. Veríamos, em uma palavra, o duble do gênero humano com as suas boas e suas más qualidades, suas virtudes e seus vícios. Essa companhia, da qual não podemos escapar, porque não há lugar tão oculto que seja inacessível aos Espíritos, exerce sobre nós e com o nosso desconhecimento uma influência permanente; uns nos conduzem ao bem, os outros ao mal, e nossas determinações, muito freqüentemente, são o resultado de suas sugestões; felizes somos quando temos bastante julgamento para discernir a boa ou a má senda à qual procuram nos arrastar. Uma vez que os Espíritos não são outra coisa senão os próprios homens despojados de seu envoltório grosseiro, senão as almas que sobrevivem ao corpo, disso resulta que há Espíritos desde que haja seres humanos no Universo; é uma das forças da Natureza, e não esperam que haja médiuns escreventes para agirem, e a prova disso é que, em todos os tempos, os homens cometeram inconseqüências; eis porque dizemos que sua influência é independente da faculdade de escrever; essa faculdade é um meio de conhecer essa influência, de saber quem são aqueles que vagueiam ao nosso redor, que se agarram a nós. Crer que se pode subtrair deles abstendo-se de escrever, é fazer como as crianças que crêem escaparem de um perigo tapando os olhos. A escrita, revelando-nos aqueles que temos por acólitos, por amigos ou por inimigos, nos dá, por isso mesmo, uma arma para combater esses últimos, e devemos agradecer a Deus por isso; na falta da visão para conhecer os Espíritos, temos as comunicações escritas; por elas eles revelam o que são: é para nós um sentido que nos permite julgá-los; repeli-lo é comprazer-se em permanecer cego, e querer continuar exposto à mentira sem controle.

A intromissão dos. maus Espíritos nas comunicações escritas não é, pois, um perigo do Espiritismo, uma vez que, se houver perigo, o perigo existe sem isso, porque é permanente; eis do que não se poderia muito persuadir-se: é simplesmente uma dificuldade, mas da qual é fácil triunfar tomando-a convenientemente.

Pode-se primeiro colocar como princípio que os maus Espíritos não vão senão lá onde alguma coisa os atraia; portanto, quando se misturam às comunicações, é porque encontram simpatias no meio onde se apresentam, ou pelo menos lados fracos dos quais esperam se aproveitar; em todo o processo, é que não encontram uma força moral suficiente para repeli-los. Entre as causas que os atraem, é necessário colocar em primeira linha as imperfeições morais de toda natureza, porque o mal simpatiza sempre com o mal; em segundo lugar, a muito grande confiança com a qual se acolhe suas palavras. Quando uma comunicação acusa origem má, seria ilógico disso inferir uma paridade necessária entre o Espírito e os evocadores; freqüentemente, se vêem as pessoas mais honradas expostas aos embustes dos Espíritos enganadores, como acontece no mundo, pessoas honestas enganadas por velhacos; mas quando se está atento, os velhacos não têm o que fazer; é o que acontece também com os Espíritos. Quando uma pessoa honesta é enganada por eles, isso pode prender-se a duas causas: a primeira é uma confiança muito absoluta que a dissuade de todo exame; a segunda, que as melhores qualidades não excluem certos lados fracos que dão presa aos maus Espíritos, ansiosos em agarrar os menores defeitos da couraça. Não falamos do orgulho e da ambição, que são mais do que defeito, mas de uma certa fraqueza de caráter, e sobretudo de preconceitos que esses Espíritos sabem explorar habilmente lisonjeando-os, e, a esse respeito, tomam todas as máscaras para inspirar mais confiança.

As comunicações francamente grosseiras são as menos perigosas, porque não podem enganar a ninguém; as que mais enganam, são aquelas que não têm senão uma falsa aparência de sabedoria ou de seriedade, em uma palavra, a dos Espíritos hipócritas e dos pseudo-sábios; uns podem se enganar de boa fé, por ignorância ou por fatuidade, os outros não agem senão por astúcia. Vejamos, pois, o meio para desembaraçar-se deles.

A primeira coisa é de início não os atrair, e evitar tudo o que possa lhes dar acesso.

As disposições morais são, como vimos, uma causa preponderante; mas, abstração feita dessa causa, o modo empregado não é sem influência. Há pessoas que têm por princípio nunca fazerem evocações e esperarem a primeira comunicação espontânea que se apresente sob o lápis do médium; ora, querendo-se lembrar do que dissemos sobre a multidão muito misturada dos Espíritos que nos cercam, conceber-se-á, sem dificuldade, que é colocar-se segundo a opinião do primeiro que venha, bom ou mau; e como nessa multidão há mais maus do que bons, há maior chance de haver os maus, absolutamente como se abrísseis vossa porta a todos os que passam pela rua; ao passo que, pela evocação, fazeis vossa escolha, e vos cercando de bons Espíritos, impondes silêncio aos maus, que poderão muito bem, apesar disso, procurar algumas vezes se introduzirem habilmente, - os bons mesmo o permitirão para exercer a vossa sagacidade em reconhecê-los, - mas eles não terão influência. As comunicações espontâneas têm uma grande utilidade quando se está certo da qualidade de sua companhia, então, freqüentemente, deve-se felicitar pela iniciativa deixada aos Espíritos; o inconveniente não está senão no sistema absoluto que consiste em se abster do apelo direto e das perguntas.

Entre as causas que influem poderosamente na qualidade dos Espíritos que freqüentam os círculos espíritas, não se pode omitir a natureza das coisas das quais se ocupam. Aqueles que se propõem um objetivo sério e útil atraem, por isso mesmo, os Espíritos sérios; aqueles que não têm em vista senão satisfazerem uma vã curiosidade ou seus interesses pessoais, se expõem pelo menos às mistificações, se não tiverem piores. Em resumo, podem-se tirar das comunicações espíritas os mais sublimes ensinamentos, os mais úteis, quando se sabe dirigi-las; a questão toda está em não se deixar prender pela astúcia dos Espíritos zombeteiros ou malevolentes; ora, para isso, o essencial é saber com quem se lida. Escutemos, primeiro, a esse respeito, os conselhos que o Espírito de São Luís deu, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, por intermédio do senhor R..., um de seus bons médiuns. Esta é uma comunicação espontânea, que recebeu um dia em sua casa, com a missão de transmiti-la.

"Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, é uma recomendação que não poderíamos muito repetir, e que deveríeis sempre ter presente no pensamento quando vos entregais aos estudos: é de pesar e amadurecer, é submeter ao controle da razão mais severa todas as comunicações que recebeis; de não negligenciar, desde que uma resposta vos pareça duvidosa ou obscura, em pedir os esclarecimentos necessários para vos fixar.

"Sabeis que a revelação existiu desde os tempos mais remotos, mas foi sempre apropriada ao grau de adiantamento daqueles que a recebiam. Hoje, não é caso mais de vos falar por figuras e por parábolas: deveis receber os nossos ensinamentos de um modo claro, preciso e sem ambigüidade. Mas seria muito cômodo não ter senão que perguntar para ser esclarecido; isso seria, aliás, sair das leis progressivas que presidem ao adiantamento universal. Não estejais, pois, admirados se, para vos deixar o mérito da escolha e do trabalho, e lambem para vos punir por infrações que podeis cometer contra os nossos conselhos, algumas vezes é permitido a certos Espíritos, ignorantes mais do que mal intencionados, de responderem em qualquer caso às vossas perguntas. Isso, em lugar de ser para vós uma causa de desencorajamento, deve ser um poderoso estímulo para procurar a verdade com ardor. Sede, pois, bem convencidos que, seguindo essa rota, não podeis deixar de chegar a resultados felizes. Sede unidos de coração e de intenção; trabalhai todos', procurai, procurai sempre, e encontrareis."

Luís

A linguagem dos Espíritos sérios e bons tem um cunho do qual é impossível se equivocar, por pouco que se tenha de tato, de julgamento e do hábito da observação. Os maus Espíritos, por qualquer véu hipócrita que eles cobrem suas torpezas, não podem jamais sustentar seu papel indefinidamente; eles mostram sempre seus verdadeiros projetos por alguma cunha, de outro modo, se sua linguagem fosse sem mácula eles seriam bons Espíritos. A linguagem dos Espíritos é, portanto, o verdadeiro critério pelo qual podemos julgá-los; sendo a linguagem a expressão do pensamento, tem sempre um reflexo das qualidades boas ou más do indivíduo. Não é sempre pela linguagem que nós julgamos os homens que não conhecemos? Se recebeis vinte cartas de vinte pessoas que jamais vistes, é lendo-as que estareis impressionados diversamente? É que, pela qualidade do estilo, pela escolha das expressões, pela natureza dos pensamentos, por certos detalhes mesmos de forma, não reconheceis, naquilo que vos escreveu, um homem bem elevado de um homem grosseiro, um sábio de um ignorante, um orgulhoso de um homem modesto? Ocorre absolutamente o mesmo com os Espíritos. Suponde que sejam homens que vos escrevem, e julgai-os do mesmo modo; julgai-os severamente, os bons Espíritos não se ofendem de modo algum com essa investigação escrupulosa, uma vez que são eles mesmos que no-la recomendam como meio de controle. Sabemos que podemos ser enganados, portanto, nosso primeiro sentimento deve ser o de desconfiança; só os maus Espíritos que procuram nos induzir ao erro podem temer o exame, porque estes, longe de provocá-lo, querem ser acreditados sob palavra.

Desse princípio decorre, muito natural e muito logicamente, o meio mais eficaz de afastar os maus Espíritos, e de se premunir contra as suas velhacarias. O homem que não é escutado pára de falar; o velhaco que sabe que se está a par do que ele é, não faz tentativas inúteis. Do mesmo modo os Espíritos enganadores abandonam a parte onde vêem que nada têm a fazer, e onde não encontram senão pessoas atentas que rejeitam tudo o que lhes pareça suspeito.

Resta-nos, para terminar, passar em revistas os principais caracteres que nos revelam a origem das comunicações espíritas.

1. Os Espíritos superiores têm, como dissemos em muitas circunstâncias, uma linguagem sempre digna, nobre, elevada, sem mistura com qualquer trivialidade; eles dizem tudo com simplicidade e modéstia, não se vangloriam nunca, não exibem jamais seu saber nem sua posição entre os outros. A dos Espíritos inferiores ou vulgares tem sempre algum reflexo das paixões humanas; toda a expressão que exala a baixeza, a suficiência, a arrogância, a fanfarrice, a acrimônia, é um indício característico de inferioridade, ou de fraude se o Espírito se apresenta sob um nome respeitável e venerado.

2. Os bons Espíritos não dizem senão o que sabem; eles se calam ou confessam sua ignorância sobre o que não sabem. Os maus falam de tudo com segurança, sem se importarem com a verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choca com a razão e o bom senso, mostra a fraude se o Espírito se dá por um Espírito esclarecido.

3. A linguagem dos Espíritos elevados é sempre idêntica, senão pela forma, ao menos pelo fundo. Os pensamentos são os mesmos, quaisquer que sejam o tempo e o lugar; eles podem ser mais ou menos desenvolvidos segundo as circunstâncias, as necessidades e as facilidades de comunicar, mas não serão contraditórios. Se duas comunicações levando o mesmo nome estão em oposição uma com a outra, uma das duas, evidentemente, é apócrifa, e a verdadeira será aquela onde NADA desminta o caráter conhecido do personagem. Uma comunicação que tenha em todos os pontos o caráter da sublimidade e da elevação, sem nenhuma mácula, é que ela emana de um Espírito elevado, qualquer que seja o seu nome; encerre ela uma mistura de bom e de mau, será de um Espírito comum, se ele se der por aquilo que é; de um patife se enfeitar-se com um nome que não saiba justificar.

4. Os bons Espíritos nunca mandam; não se impõem: eles aconselham, e, se não são escutados, se retiram. Os maus são imperiosos: dão ordem, e querem ser obedecidos. Todo Espírito que se impõe trai sua origem.

5. Os bons Espíritos não lisonjeiam; eles aprovam quando se faz bem, mas sempre com reserva; os maus dão elogios exagerados, estimulam o orgulho e vaidade pregando a humildade, e procuram exaltar a importância pessoal daqueles que querem captar.

6. Os Espíritos superiores estão acima das puerilidades das formas, em todas as coisas; para eles o pensamento é tudo, a forma nada é. Só os Espíritos vulgares podem ligar importância a certos detalhes incompatíveis com idéias verdadeiramente elevadas. Toda prescrição meticulosa é um sinal de inferioridade e fraude da parte de um Espírito que toma o nome imponente.

7. É necessário desconfiar de nomes bizarros e ridículos que tomam certos Espíritos que querem se impor à credulidade; seria soberanamente absurdo tomar esses nomes a sério.

8. É necessário igualmente desconfiar daqueles que se apresentam, muito facilmente, sob nomes extremamente venerados, e não aceitar suas palavras senão com a maior reserva; é aí sobretudo que um controle severo é indispensável, porque, freqüentemente, trata-se de uma máscara que tomam para fazer crer em pretensas relações íntimas com os Espíritos fora de linha. Por esse meio eles agradam a vaidade, e dele se aproveitam para induzir, freqüentemente, a diligências lamentáveis ou ridículas.

9. Os bons Espíritos são muitos escrupulosos sobre os meios que possam aconselhar; eles não têm jamais, em todos os casos, senão um objetivo sério e eminentemente útil. Deve-se, pois, olhar com suspeitas todos aqueles que não tenham esse caráter e maduramente refletir antes de executá-los.

10. Os bons Espíritos não prescrevem senão o bem. Toda máxima, todo conselho que não esteja estritamente conforme a pura caridade evangélica não pode ser a obra de bons Espíritos; ocorre o mesmo com toda insinuação malévola tendente a excitar ou entreter sentimentos de ódio, de ciúme ou de egoísmo.

11. Os bons Espíritos não aconselham jamais senão coisas perfeitamente racionais; toda recomendação que se afastasse da direita linha do bom senso e das leis imutáveis da Natureza acusa um Espírito limitado e ainda sob a influência de preconceitos terrestres, e, por conseguinte, pouco digno de confiança.

12. Os Espíritos maus, ou simplesmente imperfeitos, se trairiam ainda por sinais materiais com os quais não poderia equivocar-se. Sua ação sobre o médium, algumas vezes, é violenta, e provoca em sua escrita movimentos bruscos e irregulares, uma agitação febril e convulsiva, que contrasta com a calma e a doçura dos bons Espíritos.

13. Um outro sinal de sua presença é a obsessão. Os bons Espíritos não obsidiam jamais; os maus se impõem em todos os instantes; é por isso que todo médium deve desconfiar da necessidade irresistível de escrever que se apodera dele nos momentos mais inoportunos. Esse não é nunca o fato de um bom Espírito, e não deve a isso ceder.

14. Entre os Espíritos imperfeitos que se misturam às comunicações, há os que se insinuam, por assim dizer, furtivamente, como para fazer uma travessura, mas que se retiram tão facilmente quanto vieram, e isso à primeira intimação; outros, ao contrário, são tenazes, se obstinam junto de um indivíduo, e não cedem senão com o constrangimento e a persistência; apoderam-se dele, subjugam-no, fascinam-no a ponto de fazê-lo tomar os mais grosseiros absurdos por coisas admiráveis, felizes quando pessoas de sangue frio conseguem abrir-lhes os olhos, o que não é sempre fácil, porque esses Espíritos têm a arte de inspirar a desconfiança e o distanciamento para quem possa desmascará-los; de onde se segue que se deve ter por suspeito de inferioridade ou má intenção todo Espírito que prescreva o isolamento, o distanciamento de quem possa dar bons conselhos. O amor próprio vem em sua ajuda, porque lhe custa, freqüentemente, confessar que foi vítima de mistificação, e reconhecer um velhaco naquele sob cujo patrocínio se glorificava por se colocar. Essa ação do Espírito é independente da faculdade de escrever; na falta da escrita, o Espírito malévolo tem cem meios de agir e de enganar; a escrita é para ele um meio de persuasão, e não uma causa; para o médium, é um meio de se esclarecer.

Passando todas as comunicações espíritas pelo controle das considerações precedentes, se lhes reconhecerá facilmente a origem, e poder-se-á frustrar a malícia dos Espíritos enganadores que não se dirigem senão àqueles que se deixam benevolentemente enganar; se vêem que se ajoelha diante de suas palavras, disso aproveitam, como fariam simples mortais; está, pois, em nós provar-lhes que perdem seu tempo. Acrescentamos que, para isso, a prece é um poderoso recurso, por ela chama-se a si a assistência de Deus e dos bons Espíritos, aumenta-se a própria força; mas conhece-se o preceito: Ajuda-te e o céu te ajudará; Deus quer muito nos assistir, mas com a condição de que façamos, de nossa parte, o que é necessário.

Ao preceito acrescentamos um exemplo. Um senhor, que eu não conhecia, veio um dia me ver, e me disse que era médium; que recebia comunicações de um Espírito muito elevado que o encarregara de vir junto a mim fazer-me uma revelação a respeito de uma trama que, segundo ele, se urdia contra mim, da parte de inimigos secretos que ele designou. "Quereis, acrescentou, que eu escreva em vossa presença? De bom grado, respondi; mas devo dizer-vos, desde logo, que esses inimigos devem ser menos temidos do que credes. Eu sei que os tenho; quem não os tem? E os mais obstinados, freqüentemente, são aqueles a quem se fez mais bem. Tenho para mim a consciência de não ter feito, voluntariamente, mal a ninguém; os que me fizerem não poderão dizer-o mesmo, e Deus será o juiz entre nós. Vejamos, todavia, o aviso que vosso Espírito quer me dar." Sobre isso esse senhor escreveu o que se segue:

"Eu ordenei a C... (o nome do senhor) que é o facho da luz dos bons Espíritos, e que recebeu deles a missão de difundi-la entre seus irmãos, de ir à casa de Allan Kardec, que deverá crer cegamente no que lhe direi, porque estou em nome dos eleitos nomeados por Deus para velar pela salvação dos homens, e que venho anunciar a verdade....." Eis o bastante, disse-lhe, não tomeis o trabalho de prosseguir. Essa exortação basta para me mostrar com qual Espírito estais relacionado; não acrescentarei senão uma palavra, é que para um Espírito que se quer fazer de espertalhão, ele é bem inábil.

Esse senhor pareceu bastante escandalizado com o pouco caso que fiz de seu Espírito, que ele tivera a bondade de tomar por algum arcanjo, ou pelo menos por algum santo da primeira ordem, vindo propositadamente para ele.

"Mas, disse-lhe, esse Espírito mostra suas intenções por algumas palavras que acaba de escrever, e é preciso convir que ele sabe bem pouco esconder seu jogo. De início, vos ordena: portanto, ele quer vos ter sob sua dependência, o que é próprio de Espíritos obsessores; ele vos chama o facho da luz dos bons Espíritos, linguagem passavelmente enfática e ambígua, bem longe da simplicidade que caracteriza a dos bons Espíritos, e por aí lisonjeia o vosso orgulho, e exalta a vossa importância, o que basta para torná-lo suspeito. Ele se coloca, sem cerimônia, em nome dos eleitos nomeados por Deus: jactância indigna de um Espírito verdadeiramente superior. Enfim, ele me disse que devo crer-lhe cegamente; isso coroa a obra. Está bem aí o estilo desses Espíritos mentirosos que querem que sejam acreditados sob palavra, porque sabem que têm tudo a perder em um exame sério. Com um pouco mais de perspicácia, ele saberia que não me paga com belas palavras, e que se dirigiria mal prescrevendo-lhe uma confiança cega.

De onde concluo que sois o joguete de um Espírito que vos mistifica e abusa de vossa boa-fé. Eu vos convido a prestar séria atenção nisso, porque se vós não vos guardais, ele poderá vos pregar uma peça a seu modo."

Não sei se esse senhor aproveitou a advertência, porque jamais o revi, assim como o seu Espírito. Eu não terminaria se contasse todas as comunicações desse gênero que me submetem, algumas vezes seriamente, como emanando dos maiores santos, da Virgem Maria, e mesmo do Cristo, e era verdadeiramente curioso ver as torpezas que se debitavam a esses nomes venerados; é preciso ser cego para se equivocar com sua origem, então que, freqüentemente, uma única palavra equívoca, um único pensamento contraditório, bastam para fazer descobrir a fraude a quem quer que se dê ao trabalho de refletir. Como exemplos notáveis de apoio, convidamos os nossos leitores a terem a bondade de se reportarem aos artigos publicados nos números da Revista Espírita dos meses de julho e outubro de 1858.

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Trajetos do Espiritismo no Brasil (FINAL)



O NAU, Núcleo de Antropologia Urbana, formado em 1988 no Departamento de Antropologia da USP, é um grupo de pesquisa e discussões teórico-metodológicas sobre questões relativas às sociedades urbano-industriais contemporâneas.

Jacqueline Stoll, Sandra. Religião, ciência ou auto-ajuda? trajetos do Espiritismo no Brasil
Disponível via WWW no URL http://www.n-a-u.org/Stoll1.html
CAPTURADO em 19 / 01 / 10

Sandra Jacqueline Stoll é professora da. Universidade Federal do. Paraná
Departamento de Antropologia ­ UFPR

Esse afastamento do ideal kardecista da caridade caracteriza um deslizamento significativo com relação à tradição. A essa prática soma-se ainda, neste caso, a reintepretação da noção de karma de uma forma mais positiva, permitindo assim a passagem da ética da caridade ­ que implica a noção de doação como sacrifício ­ para a ética da prosperidade ­ tema do repertório neo-esotérico e de auto-ajuda, que tem como objeto a questão do bem-estar dos indivíduos, aqui e agora.

O percurso trilhado por Luiz Gasparetto descreve, portanto, um modo particular de produção da inovação da tradição espírita, sem implicar um total rompimento com esta, como no caso de Waldo Vieira. Isso porque o uso da mediunidade em moldes espíritas continua sendo a forma de produção da mediação entre este e o "outro mundo", prática religiosa que se mantém como fonte de autoridade das práticas e idéias que o grupo sustenta. Trata-se, portanto, de um outro modo de "ser espírita" menos convencional, menos constrangido pelo moralismo católico, mais afeito ao experimentalismo no que diz respeito ao uso de linguagens, de técnicas de comunicação, e mais voltado às questões de ordem psicológica.

Retomando, enfim, o argumento de início, esse "sistema de personagens" sugere serem diversos os modos de produção da fragmentação do campo espírita, que a colocam, cada um a seu modo, a tradição sob "riscos empíricos" (cf. Sahlins, 1990). Um dos resultados produzidos é o alargamento do campo das interlocuções estabelecidas: os casos apresentados sugerem um processo de redefinição das margens de trânsito, confronto e aliança, tanto dentro como fora do campo religioso. No que se refere ao aspecto da crítica ao sincretismo católico, este movimento se coaduna com o que alguns autores observam em relação a certos segmentos do Candomblé28. No entanto, as respostas apresentadas pelo Espiritismo parecem ter um espectro mais amplo, uma vez que estas incluem tanto projetos que visam o distanciamento completo de um viés religioso ­ caso dos grupos que, a exemplo de Waldo Vieira, buscam uma reaproximação da ciência , como grupos ou movimentos que buscam a renovação das idéias e práticas espíritas por meio do amálgama de possibilidades que oferece o chamado universo neo-esotérico. Desse segundo movimento emerge um aspecto inovador, que consiste na abertura de um novo campo de diálogo no interior do campo religioso, na medida em que o ideário da prosperidade se apresenta como moeda moral que agrega segmentos tradicionais e novos do campo religioso, dentre eles, certas correntes do universo neo-esotérico, do Espiritismo e das religiões neopentencostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus.


Publicado originalmente na Revista de Antropologia. v.45 n.2 São Paulo 2002

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Notas
1 Este ensaio condensa algumas das principais idéias que apresento em minha tese de doutorado em Antropologia Social, defendida na Universidade de São Paulo, intitulada Entre dois mundos: o espiritismo da França e no Brasil (1999, mimeo.). Agradeço a José Guilherme Magnani, orientador, pelo estímulo constante e a Capes pelo financiamento das condições materiais para a realização desta pesquisa.
2 Esses dados foram obtidos em matérias de imprensa divulgadas à época pelas agências on-line: Isto É Online; GloboNews; Folha Online; JB Online.
3 Publicado em 1932 pela Federação Espírita Brasileira, Parnaso de além-túmulo teve como primeiro comentarista o escritor e jornalista Humberto de Campos, que escreveu dois artigos no Diário Carioca. O jornal O Globo entrou no debate mais tarde. Em 1935 enviou um jornalista, Clementino de Alencar, a Pedro Leopoldo (MG), onde vivia Chico Xavier, para investigar in loco a autenticidade de suas práticas mediúnicas. Publicadas semanalmente, as matérias desse jornalista ocuparam as páginas do jornal O Globo por mais de um mês.
4 Os termos desse processo judicial bem como artigos de juristas e literatos que na época participaram dos debates foram compilados por Miguel Timponi (1978 [1959]). Para mais detalhes sobre esse episódio veja-se Stoll (1999).
5 Além de ser noticiado na imprensa espírita, o fato foi comentado com escárnio pelo National Enquire e pelo Physis News dos Estados Unidos. Apesar disso, outras mensagens psicografadas por Chico Xavier foram utilizadas como instrumento de defesa em dois outros processos, nos anos 80 (cf. Souto Maior, 1995: 207).
6 Matérias sensacionalistas ainda por vezes ocorrem, mas nestas os personagens centrais são hoje seus familiares, haja vista as recentes denúncias registradas na imprensa quanto aos maus tratos que o médium estaria sofrendo por parte destes, alguns dos quais também se acusa de estarem envolvidos no desvio de donativos destinados a instituições filantrópicas. A título de exemplo consulte-se a matéria "Casa da guerra. Filho adotivo e nora de Chico Xavier brigam por dinheiro" (Veja, 14 de fevereiro de 2001).
7 A íntegra do programa se encontra publicada sob o título Pinga-fogo com Chico Xavier (São Paulo, Edicel, 1987).
8 Os trabalhos mais recentes produzidos sobre o tema incluem estudos de caráter histórico como o de Damazio (1994), predominando, porém, os estudos antropológicos, entre eles, Cavalcanti (1983), Giumbelli (1994) e D'Andrea (1996 e 1997).
9 Veja-se Birman (1992 e 1994); Sanchis (1994a e 1994b); Mariz & Machado (1994); Negrão (1997); dentre outros.
10 A Livraria Garnier, considerada à época a principal casa editorial do Rio de Janeiro, lançou o primeiro título, O livro dos espíritos, em português, em 1875. Isto é, 15 anos depois da segunda edição do mesmo na Europa. Segundo consta, o sucesso de público alcançado pela obra estimulou o lançamento pela Livraria Garnier, nesse mesmo ano, de dois outros títulos publicados por Allan Kardec: O livro dos médiuns (1861) e O céu e o inferno (1865). Cf. Machado (1983: 117).
11 Cândido Procópio Camargo publicou o primeiro título sobre o tema – Kardecismo e Umbanda –, em 1960. Mais tarde publicou um novo estudo, intitulado Católicos, Espíritas e Protestantes (1963).
12 Roger Bastide escreveu primeiro um artigo, Spiritism au Brésil, publicado em Archives des Sciensces Sociales des Religions (24, juil.-dec. 1967). As idéias básicas deste artigo foram posteriormente reapresentadas num capítulo de As religiões africanas no Brasil (1985 [1960]).
13 Para análise detalhada da produção desses autores a respeito do Espiritismo, assim como de outros que os sucederam no estudo desse tema, veja-se Stoll (1999: capítulo 2).
14 Giumbelli (1994) chama atenção no seu trabalho para a complexidade dessas relações fora do campo religioso, destacando em particular a interlocução entre o Espiritismo e os campos médico e jurídico no Brasil, entre 1890 e 1940.
15 Magnani (1999) sugere o uso do termo neo-esotérico em lugar de expressões correntes como "movimento Nova Era" (Amaral, 1998) ou "New Age" (D'Andrea, 1996) na medida em que não se trata exatamente de um movimento articulado, mas de um conjunto de sistemas religiosos, filosofias e práticas de origens e matizes os mais diversos, cujos pontos de articulação estão em constante movimento e reconstrução.
16 A literatura espírita e acadêmica sustenta ter sido Bezerra de Meneses, fundador e primeiro presidente da Federação Espírita Brasileira, um dos principais responsáveis pela institucionalização da feição religiosa de que se revestiu o Espiritismo no Brasil. O papel de Chico Xavier parece-me, porém, fundador na medida em que sua exemplaridade o torna um modelo a ser seguido pelos adeptos da doutrina.
17 "Palavras minhas", texto publicado na introdução de seu primeiro livro, Parnaso de além-túmulo (1932), descreve a iniciação de Chico Xavier na experiência e prática da mediunidade. "Explicando", publicado em Emmanuel (1938), relata o seu primeiro encontro com Emmanuel, seu guia-espiritiual.
18 Lembra Le Goff a respeito de São Francisco de Assis que "o santo, em sua humildade, não trata de si próprio. Não se pode, portanto, esperar de sua obra [...] informação [...] sobre sua vida" (2001: 45). Quando isso ocorre, porém, como nos casos contados por Chico Xavier, a intenção é que estes sirvam "como exemplo" (idem).
19 Para a construção desse modelo narrativo baseio-me em Certeau (1982) e Beinert (1990).
20 Trata-se do espírito de Adolfo Bezerra de Meneses, morto em abril de 1900, no Rio de Janeiro. No meio espírita ele é reverenciado como um dos principais divulgadores da doutrina kardecista no século passado. Além de médico, jornalista e presidente da Federação Espírita Brasileira, ocupou cargos eletivos: foi vereador por duas gestões e elegeu-se deputado geral em 1867. Morreu aos 69 anos e, segundo os relatos registrados na bibliografia consultada, logo em seguida começou "a se manifestar" mediunicamente por meio de Chico Xavier. A sua relação com o médium não é historiada pela literatura consultada. Apenas se informa que foi por meio desse espírito que Chico Xavier praticava a atividade receitista.
21 Emmanuel, que se apresenta como espírito que teve algumas encarnações à época do Império Romano, segundo relato de Chico Xavier em sua última experiência terrena, foi o jesuíta Manoel da Nóbrega, um dos fundadores da cidade de São Paulo. Veja-se a esse respeito Costa e Silva (1995 [1977]); Tavares (1991 [1967]) e Machado (1983); dentre outros.
22 Afirma Da Matta sobre esse tema: "sabemos que o modelo de quem renuncia na sociedade ocidental é aquele encampado e legitimado pela Igreja, em sua incorporação do paradigma de Cristo" (1981: 207; destaque meu). Esse modelo permite, porém, segundo o autor, duas formas de aproximação: "A primeira é feita pela própria ideologia da Igreja Católica, com sua vida votiva de castidade (renúncia à reprodução e ao prazer físico), de pobreza (renúncias às glórias deste mundo) e de obediência (renúncia à própria individualidade) [...]. A segunda é feita com a política, quando em certas sociedades e circunstâncias históricas, o líder político que atinge o poder [...] apresenta-se como um sacrificado e verdadeiro renunciador das glórias desse mundo" (: 207-8).
23 Os dados relativos à história pessoal e carreira de Waldo Vieira se baseiam no trabalho de D'Andrea (2000).
24 A constituição de um glossário é a base da produção literária de Waldo Vieira. Em geral, os conceitos por ele produzidos resultam de uma construção etimológica baseada na bricolagem de prefixos e sufixos de palavras preexistentes. É o caso de termos como, por exemplo, holopensene, que resulta da seguinte conjunção: holo=todo, pen=pensamento, sen=sentimento, ene=energia, ou seja, "um conjunto-padrão de pensamentos, sentimentos e energias" (apud D'Andrea, 2000: 167), que se acredita influenciar todo e qualquer grupo de pessoas, "auxiliando-o ou prejudicando-o" (idem) conforme o contexto.
25 O Instituto de Projeciologia apresenta organização administrativo-burocrática "complexa e altamente departamentalizada". Seguindo moldes empresariais de estruturação, a "matriz" se liga uma rede de "filiadas"e "núcleos" espalhados pelo Brasil, assim como no exterior. Os seus dirigentes porém raramente são remunerados (cf. D'Andrea, 2000: 165).
26 Observa D'Andrea (: 171) que esse deslizamento perde força com o tempo: da mesma forma que ocorreu com Kardec, no movimento organizado por Waldo Vieira cresce, com o passar do tempo, a tendência à moralização do discurso.
27 Os dados sobre Luiz Gasparetto constam de minha tese de doutorado, tendo sido obtidos por meio de pesquisa etnográfica e documental.
28 Sobre essa questão da busca de redefinição da identidade do Candomblé baiano veja-se os artigos de Consorte (1999) e Ferretti (1999), dentre outros.


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Trajetos do Espiritismo no Brasil 6º PARTE


O NAU, Núcleo de Antropologia Urbana, formado em 1988 no Departamento de Antropologia da USP, é um grupo de pesquisa e discussões teórico-metodológicas sobre questões relativas às sociedades urbano-industriais contemporâneas.

Jacqueline Stoll, Sandra. Religião, ciência ou auto-ajuda? trajetos do Espiritismo no Brasil
Disponível via WWW no URL http://www.n-a-u.org/Stoll1.html
CAPTURADO em 19 / 01 / 10

Sandra Jacqueline Stoll é professora da. Universidade Federal do. Paraná
Departamento de Antropologia ­ UFPR

Conhecido no meio espírita pela produção de livros em co-autoria com Chico Xavier, Waldo Vieira realizou um percurso que pode ser balizado em dois momentos: o primeiro, aquele de sua juventude, compreende o período em que desenvolveu a prática mediúnica sob a liderança e na companhia de Chico Xavier; a ruptura com o Espiritismo, em meados dos anos 60, marca a segunda etapa, fase em que, depois de dedicar-se ao estudo da medicina, decide investir numa carreira solo, assumindo, alguns anos mais tarde, a liderança de um grupo voltado à prática de "experiências fora do corpo" (ou "viagem astral" como a denominam os espíritas). Conhecido pelo nome de Projeciologia, esse grupo fundado e liderado por Waldo Vieira teve o seu desenvolvimento desdobrado em duas fases: na primeira, segundo D'Andrea (1981) que realizou estudo de caso sobre o tema, predomina a construção carismática da imagem pública de sua liderança; a outra, mais recente, envolve a institucionalização e burocratização organizacional do grupo.

Assim como outras correntes que integram o universo das chamadas paraciências, a Projeciologia se caracteriza pela pretensão de promover uma síntese entre saberes científicos e não-científicos. Trata-se, portanto, da construção de um pensamento de cunho secular sobre fenômenos que, no senso comum, são tidos como próprios do domínio religioso. Neste caso, o objeto-alvo de produção de conhecimento é a experiência de consciência "fora do corpo físico".

Waldo VieiraFundador do Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia, Waldo Vieira começou a divulgar sua experiência pessoal e conhecimentos sobre o tema por meio da realização de palestras públicas e da produção de livros. Os mais conhecidos dentre estes últimos foram lançados nas últimas décadas, com um intervalo de aproximadamente dez anos: Projeciologia: panorama das experiências da consciência fora do corpo humano foi publicado em 1986; 700 experimentos de Conscienciologia foi lançado em 1994. Nesse ínterim, entre uma publicação e outra, deu-se a institucionalização do movimento. Segundo D'Andrea esse processo foi conduzido por Waldo Vieira por meio da realização de cursos de treinamento, visando a formação de professores. Criando por meio desse expediente uma ampla rede de disseminadores de suas idéias, Waldo Vieira passou a ter nestes "profissionais" uma base para a disseminação de núcleos de estudo e pesquisa, os quais se encontram hoje espalhados no Brasil e no exterior.

Observa D'Andrea que esse processo de disseminação não atinge, contudo, a produção intelectual, que permanece sendo monopólio de seu fundador.

O estilo de liderança adotado é de tipo carismático: à semelhança de certos gurus indianos, Waldo Vieira usa uma vasta barba (branca), veste-se sempre de branco e ostenta, para além de traços distintivos de aparência, certos dons, dentre eles a mediunidade, a projetibilidade, a clarividência e a manipulação de energias para cura e materializações. A essas faculdades se soma ainda, como fator de distinção, a ostentação de sua condição de médico. A formação acadêmica serve nesse caso não apenas como fator de prestígio, mas, também, como suporte para a pretensão de cientificidade que reinvidica para a sua produção.

Com relação a esse último aspecto observa-se que a tentativa de aproximação do campo científico se realiza basicamente por meio de dois expedientes: 1) ênfase no experimentalismo, prática que envolve o desenvolvimento e a catalogação de técnicas de produção da projetibilidade, isto é, da capacidade de "sair do corpo"; e 2) investimento na construção de um universo conceitual singular. O rebuscamento lingüístico se apresenta como índice desse layout pretensamente científico, o qual se caracteriza pela criação de palavras, supostamente novas, que gradativamente vão sendo agregadas a um repertório cujo traço marcante é estar sempre em construção24. A própria mudança de denominação do grupo para Conscienciologia se insere nessa lógica. Sendo seu objetivo é expresso nos seguintes termos: trata-se de um movimento que visa o "estudo da consciência (a partir de uma) abordagem integral, holossomática, multidimensional, bioenergética, projetiva, autoconsciente e cosmoética" (D'Andrea, 2000: 164; destaques meus).

Concebido como "índice de racionalidade", esse investimento de ordem lingüística visa marcar, simbolicamente, o distanciamento de Waldo Vieira de outros sistemas de idéias, que operam essas mesmas práticas, tendo porém como fundamento orientações tradicionais, doutrinárias. O intenso investimento na organização burocrático-administrativa, implementada por ele especialmente nos últimos anos, tem esse mesmo sentido: os padrões de racionalidade, eficiência e profissionalismo adotados visam, dentre outros, marcar seu distanciamento do campo religioso25.

É interessante observar nessa trajetória a tendência à aproximação daquele que era o projeto de Allan Kardec, isto é, fazer do Espiritismo uma doutrina científica. Essa mesma intenção mobiliza Waldo Vieira com relação à Projeciologia, projeto que o distancia definitivamente da tradição espírita, em especial da interpretação religiosa consolidada sob a liderança de Chico Xavier. Como resultado tem-se, portanto, um deslizamento, isto é, a constituição de uma corrente dissidente, que assume como característica básica o deslocamento da ênfase no aspecto moral em favor do experimentalismo26.

Waldo Vieira sinaliza dessa forma um afastamento da tradição religiosa que marcou a sua iniciação. Os sinais diacríticos utilizados remetem simbolicamente à modernidade, cujo discurso tem na racionalidade um de seus valores fundamentais. Esses valores são explicitados de duas formas: por meio da produção discursiva e da ênfase que vem sendo dada nos anos mais recentes à organização burocrática.

Luiz Antonio Gasparetto: entre o Espiritismo, a auto-ajuda e a cosmologia new age

Luiz Antonio Gasparetto seguiu caminho oposto ao de Waldo Vieira, realizando um percurso que é emblemático do carnavalesco, termo empregado aqui tal como utilizado por Da Matta (1981). Sua trajetória segue, em princípio, o mesmo modelo acima observado: a primeira fase é marcada por forte influência de Chico Xavier e da Federação Espírita Brasileira; a segunda envolve o desenvolvimento de um percurso voltado à inovação, prática que, "pelas artes do sincretismo", se concretiza por meio da incorporação de idéias e práticas de auto-ajuda e do universo da chamada Nova Era.

Este é, portanto, um percurso que implica, como no caso anterior, em distanciamento da tradição, embora não configure, como no caso de Waldo Vieira, um total rompimento com o Espiritismo27.

Os anos 80 constituem nesse caso o marco da mudança. Por essa época Luiz Gasparetto realizou uma série de viagens à Europa e aos Estados Unidos com a finalidade de promover a divulgação do Espiritismo. As sessões públicas de pintura mediúnica e programas de TV de que participou lhe permitiram observar a atuação de outros médiuns. Numa dessas viagens esteve também em Esalem, o centro new age da Califórnia (EUA), onde entrou em contato com idéias e práticas de diversos sistemas de conhecimento, especialmente com o então chamado "pensamento positivo" e técnicas de psicoterapia corporal. De volta ao Brasil, Luiz Gasparetto começou a se indispor com a Federação Espírita Brasileira. O alvo principal de suas críticas era dirigido ao moralismo espírita, manifesto, entre outros, no tratamento de certos temas, sexo e dinheiro, por exemplo.

Quando viajo para o estrangeiro e converso com os médiuns, os espíritos conversam abertamente de sexo e seus problemas. Aqui não. No Brasil nenhum espírito toca nesse assunto [...]. Aqui só dizem: "vai tomar passe, vai tomar passe!" [...] "apesar dos espíritos terem tentado passar uma mensagem libertadora, aqui os médiuns eram católicos e a linguagem que usaram era própria de sua estrutura mental. Passou o que foi possível. O resto ficou cheio de catolicismo. (Apud Stoll, 1999: 46)

Pouco tempo depois, aliando sua formação de psicólogo à experiência mediúnica, Luiz Gasparetto acabou criando um espaço alternativo de trabalho. Inaugurado em São Paulo nos anos 80, o Espaço Vida e Consciência passou a integrar o circuito dos espaços neo-esotéricos da cidade. Suas atividades regulares são cursos e palestras, às quais se somam shows e workshops, realizados eventualmente.

Luiz GasparettoPor muitos anos Luiz Gasparetto se dividiu entre essas atividades e o exercício da prática da pintura mediúnica no centro Os Caminheiros, dirigido pela sua mãe, Zíbia Gasparetto. Por mais de dez anos a complementaridade definiu o trabalho realizado nesses dois espaços. Ou seja: no centro as atividades obedeciam ao padrão espírita tradicional (realização de sessões públicas de pintura mediúnica e aconselhamento; manutenção de uma creche a título de trabalho de caridade; destinação dos recursos financeiros, oriundos das atividades mediúnicas da família, para esta última); por sua vez, no Espaço Vida e Consciência, local definido como de exercício de atividade de cunho profissional, predominava a realização de atividades em caráter experimental, destacando-se entre estas, cursos e práticas voltados à questão da auto-ajuda. Com essa perspectiva Luiz Gasparetto explorou, nesse "espaço", as mais diversas linguagens. Além de novos usos dados à pintura mediúnica, como o de objeto de cenografia para seus shows, verifica-se a utilização de práticas discursivas diversas, incorporando-se ao seu repertório o uso da música, da expressão corporal, de técnicas de relaxamento e do psicodrama, bem como da representação teatral.

A divulgação das atividades desenvolvidas nesses dois "espaços" contou com recursos diversos de mídia, destacando-se dentre eles os programas de rádio que nos últimos anos passaram a ser diários. Protagonizados pelo próprio médium, Luiz Gasparetto, nos últimos anos estes passaram a contar, às segundas-feiras, com a participação de Zíbia Gasparetto, mãe de Luiz, cuja presença tem sido uma constante nas listas dos livros de auto-ajuda ou não-ficção mais vendidos.

Essa duplicidade dos "espaços" e das atividades desenvolvidas ­ uma caracterizada como profissional, a outra como mediúnica ­ manteve-se por mais de uma década, tendo sido preservada, em larga medida, em função da restrição dos espíritas quanto à remuneração da atividade mediúnica.

Como outras já citadas, essa reinterpretação espírita da tradição cristã tem em Chico Xavier um modelo exemplar. Tensões crescentes em relação a esse modelo, moral e ético, levaram afinal a família Gasparetto ao rompimento com a prática institucional espírita, fato consumado em 1995, quando se decidiu encerrar as atividades do centro Os Caminheiros. Essa decisão, assumida publicamente como resultado da "orientação dos espíritos", abriu caminho para se promover, com mais liberdade, o uso da mediunidade com fins lucrativos. Um primeiro passo nessa direção fora dado anteriormente, quando se decidiu fechar a editora do centro Os Caminheiros. A abertura de um novo selo, desvinculado do centro, tornou possível a apropriação dos direitos autorais de livros psicografados, prática condenada na tradição espírita. "Podemos fazer uma mediunidade moderna", disse Gasparetto numa de suas palestras, sintetizando nessa fala a possibilidade do médium fazer uso da mediunidade visando o seu próprio bem-estar (inclusive financeiro), além de utilizá-la para a orientação dos indivíduos na solução de seus problemas cotidianos.

Origem do Caráter Católico do Espiritismo.



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Origem do Caráter Católico do Espiritismo.

Para quem inicia no espiritismo encontra na web mais particularmente no orkut informações contraditórias que gera muita confusão.

Portanto para conseguir entender o atual estado das coisas é preciso remontar a historia da doutrina, voltar lá para o passado e caminhar vagarosamente juntando os fatos ocorridos neste período inicial.

Unindo as peças deste quebra cabeças, que vai pouco a pouco revelando por que atualmente temos esta catolização e ritualização dentro de uma doutrina que nasceu racionalmente, e hoje encontra um misto de crendices absurdas com um misticismo religioso que beira à tolice; sem nenhum comprometimento com o bom senso.

A questão é a seguinte, quando a doutrina chegou em terras brasileiras, a religião dominante era a católica portanto você tinha duas opções, ou era católico ou dizia que era apenas para não causar mal estar entre a maioria.

Neste contexto a professora Sandra Jacqueline Stoll da Universidade Federal do Paraná apresenta um trabalho excelente que vai mostrando e demonstrando como foi o trajeto da doutrina no Brasil.(1)

Fica evidente neste trabalho que apesar da projeção social do médium Chico Xavier isto não provocou repercussão no meio acadêmico.
Por isso dentre as religiões ditas brasileiras, o Espiritismo tem sido a menos estudada.

No decorrer deste estudo a professora Sandra vai provando como ocorreu a síntese que Chico Xavier realiza, entre o Catolicismo popular, e o Espiritismo deixando o leitor à vontade para tirar suas próprias conclusões.

Como todos sabem a mediunidade não é propriedade da Doutrina Espírita ela esta em todas as religiões, portanto fica evidente que Chico Xavier foi um excelente mediun católico.

Seguindo na linha de montagem do quebra cabeça vamos ver que a Federação Espírita Brasileira foi fundada por ex-católicos carolas, que embora não conseguissem mais acreditar nos infalíveis dogmas da Santa Madre Igreja, ainda conservavam consigo certas coisas muito caras à carolice católica. Uma delas era a Mariolatria.

Quem revela esta parte é O Dr. Ary Lex que nas lides doutrinárias desempenhou muitas funções importantes: conselheiro da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP) de 1942 até seu desencarne, conselheiro da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE) desde 1947, ex-presidente do Instituto Espírita de Educação (IEE) e da Associação Médico-Espírita de São Paulo (AMESP). (2)

Vem revelar a obra salvadora destes ex-católicos: "Os quatro Evangelhos" de J. B. Roustaing". Esse autor, contemporâneo de Kardec, desenterrou a defunta heresia docetista e fez de Jesus um fantasma materializado.
Com isso, Maria o teria "gerado" numa gravidez ilusória, com um parto ilusório e, principalmente, em plena virgindade. E, é claro, teria continuado sendo uma esposa absolutamente casta.. Maravilha! Agora sim os febeanos tinha a sua Nossa Senhora de volta. Com isso, não ligaram a mínima para as grandes bobagens que Roustaing disse, em total oposição à doutrina espírita.
O presidente da FEB, Guillon Ribeiro, traduziu essa obra indigesta e repetitiva e a FEB cuidou de divulgá-la. Devido ao fato de ser muito massuda, outros febeanos escreveram obras rustainguistas menores, que resumiam o pensamento de Roustaing.

E vamos colocando uma peça aqui outra ali e descobrindo que após Bezerra, pacificador e tolerante, o roustainguismo passou a imperar na FEB; para ser dirigente ou conselheiro, era preciso ser roustainguista.

A FEB proibia a realização de qualquer Congresso, no Brasil, sem seu consentimento. Mas em alguns Estados (São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, principalmente) começou-se a esboçar a libertação da ditadura febiana.

Portanto vamos percebendo que o atual estado das coisas não é obra de uma pessoa ou de um grupo isolado mas na verdade de um conjunto de coisas e fatores e um deles é a preguiça mental da grande maioria que quer respostas prontas.

Por isso que temos os espiritólicos que nada mais são do que espíritas católicos.

Qual é o resultado disso na estrutura funcional e as práticas da maioria dos centros espíritas?
O primeiro resultado é a falta de rigor, nos moldes do Instituto Parisiense de Estudos Espíritas, fundado por Kardec, que atuava sob enfoque filosófico e com metodologia científica de pesquisa.

A maioria dos espíritas brasileiros, e conseqüentemente, a sociedade em geral, acha que Kardec recomendava práticas evangelizadoras por haver escrito o livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo". Kardec não escreveu ou compilou obras de pregação religiosa, não visava fazer apologia e proselitismo cristão.
Seu objetivo era o de explicar o pensamento de Jesus sob o enfoque espírita.
Caso contrário seria “O Espiritismo Segundo o Evangelho”

Portanto, espero poder ter contribuído para esclarecer você que chega agora e mesmo àquele que já esta há mais tempo dentro da Doutrina, entender o porquê uns dizem isto é espiritismo, outros afirmam não é, e outros dizem, mas pode ser.

Aqui você vai encontrar farto material para estudar e tirar suas próprias conclusões

E se não concordar com algo e quiser postar sua opinião use os comentários.


(1) Este estudo esta em partes que inicia no link abaixo.
http://ensinoespirita.blogspot.com/2010/01/trajetos-do-espiritismo-no-brasil.html

(2) Este estudo do Dr. Ary Lex esta dividido em 3 partes a 1º no link a seguir
http://ensinoespirita.blogspot.com/2010/01/origem-dos-mundos-fluidicosnosso-lar.html



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Trajetos do Espiritismo no Brasil 5º PARTE



O NAU, Núcleo de Antropologia Urbana, formado em 1988 no Departamento de Antropologia da USP, é um grupo de pesquisa e discussões teórico-metodológicas sobre questões relativas às sociedades urbano-industriais contemporâneas.

Jacqueline Stoll, Sandra. Religião, ciência ou auto-ajuda? trajetos do Espiritismo no Brasil
Disponível via WWW no URL http://www.n-a-u.org/Stoll1.html
CAPTURADO em 19 / 01 / 10

Sandra Jacqueline Stoll é professora da. Universidade Federal do. Paraná
Departamento de Antropologia ­ UFPR


Vida de santo

Num seu trabalho recente, Le Goff (2001) define São Francisco de Assis como figura de transição entre o medieval e o moderno, sugerindo ter sido uma de suas contribuições a renovação da santidade católica a partir de seu estilo de vida e de apostolado. Em suas palavras: "Tomando e dando como modelo o próprio Cristo e não mais seus apóstolos, ele comprometeu o cristianismo com uma imitação do Deus-Homem" (: 13-4). Além disso, combateu o modelo eremítico de santidade, vigente desde o século IV: "Vencendo ele próprio a tentação da solidão [foi viver em] meio da sociedade [...], nas cidades e não nos desertos, nas florestas ou no campo" (: 13-4). Essas inovações introduzidas implicaram a constituição do espaço público e da vida cotidiana em "esfera de salvação". Com relação a esse último aspecto ­ a santificação da vida cotidiana ­, observa-se, porém, tendência à preservação de práticas institucionais estabelecidas. Segundo Le Goff, os escritos de São Francisco exortam a necessidade de "respeitar os três votos: de obediência, de pobreza e castidade" (: 93).

O "itinerário de santidade" (Certeau, 1982) de Chico Xavier segue esse mesmo modelo, o que significa que a narrativa de sua vida e carreira religiosa encenam uma noção de santidade que, a exemplo de São Francisco de Assis, "se manifestam menos por milagres [...] e pela exibição de virtudes, do que pela linha geral de uma vida totalmente exemplar", conforme sugere Le Goff (: 43).

Para Chico Xavier, como outros santos, a constituição dessa vida santificada não transcorreu, porém, sem hesitações, incertezas, dificuldades. Sua narrativa, de início, é, portanto, freqüentemente marcada pelo lamento. Mas com o tempo ele próprio começa a produzir provas de humildade, um dos preceitos básicos da vida de santo. Trata-se de um ideal de comportamento, que deve se manifestar publicamente de várias formas, inclusive como modo de auto-representação, como indicam alguns dos exemplos acima mencionados.

A renúncia complementa esse modelo de construção da vida de santo. Nesse caso, porém, ela não se manifesta por meio do retiro da sociedade e, sim, pela criação de um estilo de vida sui generis, cuja marca de separação consiste na oposição a certos valores culturais e práticas correntes em seu meio social. Os relatos biográficos de Chico Xavier evidenciam que essa construção de uma vida santificada não teve o mérito da inovação. Em larga medida ele a produziu inspirando-se no modelo monástico de virtuosidade católica, para o qual constitui preceito fundamental a renúncia ao sexo, ao casamento e a bens materiais:

Para que os livros nascessem de minhas pobres faculdades, de modo mais intenso [...] foi preciso, diz-nos Emmanuel, que eu aceitasse a existência em que me encontro, na qual o matrimônio [...] não seria possível. Isto não quer dizer que a mediunidade crie antagonismos entre médium e casamento terrestre, mas sim que determinadas tarefas mediúnicas requisitam condições especiais para que se façam cumpridas. (Folha Espírita, nov. 1976, apud Nobre, 1996: 145)

A renúncia ao matrimônio como condição de realização plena da potencialidade mediúnica sugere a concepção cristã do sacerdócio. No depoimento de Chico Xavier, como no de outros médiuns (cf. Dantas, 1988; Rodrigues, 1987; Prandi, 1996), observa-se que a imposição da castidade legitima a releitura da própria biografia como a história de uma eleição. Os relatos consultados evidenciam, porém, que a tendência de Chico Xavier ao celibato se configurou, a princípio, independente da questão mediúnica.

Na fase adulta, o tema passou do circuito familiar à especulação pública. Os boatos, muitas vezes contraditórios, corriam com freqüência na imprensa. "Boatos de [um] possível casamento", afirma Schubert, "aconteceram mais de uma vez" (1986: 297). A maioria das especulações, no entanto, girava em torno da suposta homossexualidade do médium. A fala fina e mansa, complementada por maneiras delicadas, alimentou com freqüência insinuações a respeito. Chico Xavier, porém, jamais aceitou o rótulo de homossexual. Celibatário convicto, ele inúmeras vezes explicitou essa sua condição. Ele se defendia de insinuações a respeito de sua conduta sexual recorrendo a frases feitas: "De que vale um perfume preso a um frasco?" (Souto Maior, 1995: 74). Ou então: "Por que ficar preso a uma mulher?" (idem). Fazendo uso dos mesmos argumentos de que se serve o clero católico, por vezes dizia: "minha família é a humanidade" (idem).

Capitalizadas simbolicamente, as práticas do celibato e da castidade foram no decorrer do tempo ressignificadas, transformando-se de componente da personalidade do médium em forma de expressão modelar da mediunidade espírita. Não sendo esta, porém, uma norma doutrinária, o que esse percurso sinaliza é a apropriação por Chico Xavier de práticas institucionais de construção da santidade católica.

O mesmo se observa no que se refere à relação com bens materiais. A experiência de pobreza veio-lhe de berço. Mas o desapego aos bens materiais, como forma de sinalizar distanciamento das "coisas do mundo", foi uma experiência construída, referenciada no voto de pobreza católico. Dos relatos de Chico Xavier se depreende que este pouco desfrutou, em mais de 90 anos de existência, das benesses do chamado "mundo moderno". A princípio, em conseqüência das restrições financeiras que caracterizaram as condições de vida de sua família. Mais tarde, por opção pessoal: seus livros psicografados, traduzidos em várias línguas, renderam milhões em direitos autorais. Ele, contudo, nunca se apropriou de qualquer parcela desses rendimentos. Oficialmente, por meio de registro em cartório, doou os proventos dos livros mediúnicos às editoras de seus livros, bem como a inúmeras obras sociais. Viveu sempre exclusivamente de seu minguado salário de funcionário público de baixo escalão. Como prova de gratidão, muita gente chegou a lhe oferecer dinheiro. Chico recusava sistematicamente: "Ajude o primeiro necessitado que encontrar", dizia ele. O mesmo fazia com os presentes com que era agraciado. Sistematicamente recusou também doações que lhe foram feitas, envolvendo terras e dinheiro. Tudo foi repassado a instituições de caridade.

Complementa esse exercício de renúncia, a prática da caridade, cujas formas introduzidas por Chico Xavier se tornaram, mais tarde, modelares para a prática espírita. Também com relação a essas se observa inspiração em práticas institucionais católicas. É o caso da peregrinação, denominação dada por Chico Xavier às visitas semanais que realizava, aos sábados à tarde, a famílias que viviam embaixo de uma ponte em Pedro Leopoldo. Acompanhado de um grupo de amigos, ele lhes levava doações feitas durante a semana em roupas e alimentos. O cenário urbano servia-lhe, assim, de palco para a pregação do Evangelho. Em Uberaba, onde ele se estabeleceu alguns anos mais tarde, essa atividade se estendeu também aos bairros de periferia. Realizadas ao ar livre, suas pregações se tornaram famosas. Essa atividade "extramuros" era complementada com as visitas a doentes em hospitais e a presidiários. Ao contrário dos evangélicos, porém, Chico Xavier não fazia pregações: "Não poderia aproveitar que eles estão atrás de grades para fazer sermão" (Souto Maior,1995: 218). Finalmente, à época do Natal, saía em caravana de carros pelos bairros de periferia distribuindo presentes.

No bojo dessas práticas insinua-se a idéia de que a santidade como modo de vida se realiza por meio da prática de doação. Este é um elemento-chave da ética cristã da santidade: enquanto os demais fazem e acumulam para si (ou para os seus), o santo é aquele que acumula gestos e práticas de doação aos outros. Esse ideal se realiza a partir de padrões culturais, podendo concretizar-se, portanto, de formas variadas. O que distingue a santidade espírita no Brasil, concretizada pela vida de Chico Xavier, é o éthos institucional católico de que esta se impregnou22.

O Espiritismo no Brasil: versões concorrentes

"Santidade", afirma Rubem C. Fernandes, "é um tema maior da religiosidade brasileira" (1994: 197). Sua importância é de tal ordem que no Catolicismo "ouve-se costumeiramente falar em 'Santa Trindade', 'São Bom Jesus', 'Festa do Divino'" (idem). Segundo o autor, "pelas artes do sincretismo", essa noção estendeu-se também a outros universos religiosos.

As divindades africanas de origem ioruba, os orixás, também são chamados costumeiramente de santos. Com efeito, os fiéis afro-brasileiros são referidos como "povo do santo" e diz-se de alguém iniciado que ele ou ela "é do santo". Os pentecostais assimilam a palavra evangélica "sede santos como eu sou santo" e distinguem-se entre as denominações protestantes pela ênfase na presença ativa do Espírito Santo. (Idem)

O Espiritismo também não foge à regra, se considerarmos que Chico Xavier, seu personagem-símbolo, tornou-se conhecido, dentro e fora do âmbito espírita, como um "homem santo".

Resistências a esse modelo de expressão do Espiritismo brasileiro, no entanto, começaram a se delinear especialmente a partir dos anos 80. Configurando tendências ainda em construção, essas novas correntes se apresentam como outras leituras da tradição. O ponto comum entre elas, parece-me, reside na busca de afastamento da leitura católica de que se impregnou o Espiritismo com Chico Xavier. Na maioria dos casos a estratégia adotada consiste na constituição de outros interlocutores, dentro e fora do campo religioso, resultando, em conseqüência, a possibilidade de se trilhar caminhos diversos, como ocorreu, por exemplo, com Waldo Vieira e Luiz Antonio Gasparetto. O primeiro, depois de abandonar a prática espírita, envolveu-se na organização de um movimento de cunho paracientífico (a chamada Projeciologia, posteriormente renomeada Conscienciologia), ao passo que Luiz Antonio Gasparetto procurou promover a inovação da doutrina por meio da síntese desta com idéias e práticas de auto-ajuda e do universo da chamada Nova Era.

D'Andrea (2000) sugere que o aumento do número de adeptos do Espiritismo ocorrido nos últimos anos está intimamente associado a essa fragmentação do movimento, ocorrida nas últimas décadas. Segundo esse autor, o processo de fragmentação do Espiritismo resultou da incapacidade deste em atender a demandas divergentes de segmentos da população que se diferenciam "especialmente no que tange a estilos de vida, articulados com níveis de renda" (: 136). O ponto crucial, acrescenta ele, consiste nas "pressões [...] e necessidades [...] de indivíduos de classe média alta [que] se chocam com o excessivo tradicionalismo e intelectualismo dogmático das instituições kardecistas oficiais" (: 139).

Protagonistas desse movimento, os dois personagens citados têm capitalizado essas demandas, juntamente a outros grupos e lideranças. As alternativas por eles construídas expressam, de forma exemplar, duas tendências dominantes, que podem ser observadas também em outros contextos nacionais: a busca de aproximação com a ciência, de um lado; o estabelecimento de interlocução com grupos, seitas e práticas que remetem ao ideário da chamada Nova Era, de outro. No presente caso a trajetória de Waldo Vieira ilustra a primeira alternativa, enquanto o percurso de Luiz Gasparetto ilustra a segunda. No que segue apresento uma síntese do percurso desses dois personagens, de forma a delinear com mais precisão a construção dessas duas alternativas, surgidas do confronto com o viés católico assumido pelo Espiritismo no Brasil.

CONTINUA . . .

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