
A nova ordem da América Latina
Por Sérgio Marcondes Soares
Lula sonha com uma nova ordem, mas apenas contempla os interesses de Fidel e Chávez
Naquele que deve ser o seu último giro pela América Latina antes do fim do segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reencontrou os irmãos Castro em Cuba, estimulou a formação de um novo bloco político, com a exclusão de Estados Unidos e Canadá, e tenta ratificar hoje (25/02) a posição do Brasil como líder do processo de reconstrução do Haiti.
Ao lado de colegas como os presidentes do México e da Argentina, Felipe Cálderon e Cristina Kirchner, respectivamente, o líder petista vende a ideia de uma nova ordem econômica e social na América Latina, incorporando a ditadura cubana e as aventuras autoritárias de Hugo Chávez. Na esfera da geopolítica, no entanto, pouca coisa poderá estar mais deslocada da realidade do que esta organização latino-americana anunciada como auspiciosa sucessora da OEA (Organização dos Estados Americanos).A política intervencionista da diplomacia brasileira tem colecionado sucessivos fracassos na América Latina, sem fazer do Brasil uma liderança alternativa aos Estados Unidos. O caso mais emblemático deu-se em Honduras, onde a articulação do governo brasileiro para isolar os golpistas que derrubaram o ex-presidente Manuel Zelaya foi minada pelos norte-americanos e a eleição de um novo presidente foi legitimada por Washington. Restou ao Itamaraty negociar a remoção honrosa de Zelaya da embaixada brasileira em Tegucigalpa e os termos de reconhecimento do governo recém-eleito.
Se a OEA tem se revelado incapaz de administrar os conflitos entre os países americanos e funciona à sombra de Washington, a criação de um organismo alternativo surge como uma provocação política, destinada a contemplar os interesses da ditadura cubana e de Hugo Chávez. Quando os interesses do governo norte-americano estabeleceram um conflito efetivo com os projetos de reestruturação econômica de alguns países latino-americanos, como na formulação da Área de Livre Comércio das Américas, bastou que todas as divergências fossem explicitadas.
Em um mundo que tenta superar os efeitos da crise econômica e se une na luta contra o terrorismo, é impensável uma organização multilateral no continente americano sem a participação dos Estados Unidos. Assim, Lusla pode voltar de seu giro pelo Caribe tomado pela ilusão de que ajudou a construir uma nova ordem, mas terminará seu segundo mandato longe de alcançar o principal objetivo de sua política externa desde 2003: a conquista de um assento definitivo no conselho de segurança da ONU.
Para europeus, chineses e norte-americanos, o Brasil pode ser o parceiro econômico mais interessante da América Latina, mas ninguém parece disposto a alimentar pretensões que possam ir além da balança comercial.
A morte do preso político em Cuba reforça a idéia de que o Brasil tem escolhido o lado errado e mais desumano para a diplomacia brasileira.
FONTE: http://sergiomsoares.blogspot.com/2010/02/nova-ordem-da-america-latina.html














