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sexta-feira, 30 de março de 2012

Livro dos Espíritos 1º EDIÇÃO





Livro dos Espíritos 1º EDIÇÃO



Este trabalho é fruto do "escaneamento" (scanning) da edição bilíngüe do Livro dos Espíritos primeira edição realizada em 1957 com tradução então de Canuto Abreu.

O objetivo é fornecer material para pesquisadores do kardecismo, de modo a poderem comparar o texto da primeira edição com o das edições atuais (que vieram da
terceira e "definitiva" edição do Livro dos Espíritos, de 1860.

A primeira edição foi em 1857).
É importante que se identifique as diferenças entre a primeira e a terceira edições, e que se reflita a respeito dos possíveis motivos de tais diferenças.

Retirou-se as Notas do Tradutor e o Apêndice.
Este trabalho está longe de ser perfeito, ou seja, os erros de reconhecimento do programa OCR (optical character recognition) foram deixados sem correção.

Contudo, tenho confiança de que em pouquíssimas situações haverá dificuldade, ao se comparar os trechos em francês com os em português, de se identificar as idéias expressas.

Esperemos que em um futuro próximo alguma instituição espírita brasileira se conscientize da importância de se divulgar materias originais como esse, e ofereçam
edições oficiais do Livro dos Espíritos primeira edição, tanto em português como em francês."



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quinta-feira, 29 de março de 2012

Kardec Passo a passo


Kardec Passo a passo


Plano de O Livro dos Espíritos Carlos Imbassahy do livro A Missão de Allan Kardec Logo que apareceu O Livro dos Espíritos, apesar de sua grande saída, não se fez esperar a mofa dos inscientes e principalmente daqueles para os quais a obra viria abrir profundos sulcos nas tradições e em suas enraizadas idéias. Dir-se-ia que o grande trabalho espiritual iria naufragar em meio à tempestade universal do riso.
Mas as edições se foram sucedendo. Os mais preparados e os menos apaixonados perceberam que havia ali algo de notável e profundamente sério. E como trabalho do Alto, ditado pelos Espíritos prepostos ao nosso progresso, não podia ele ser sufocado pela insipiência ou pelo fanatismo, e assim abriu caminho através da mais furiosa oposição, para chegar às culminâncias em que o vemos.

O Antigo Testamento, excluídos os dez mandamentos, é posto à margem. As suas páginas obsoletas já não servem à nossa renovação espiritual. Mantém-se do Novo Testamento muitas lições edificantes e os Evangelhos, onde ressumbram as lições do Cristo. O Livro dos Espíritos é a coluna mestra do Novíssimo.

É ele a síntese dos princípios religiosos e do que diz respeito à Espiritualidade. Tudo o que toca ao Espírito, sua vida de aquém e de além-túmulo, sua evolução, as leis a que não pode fugir, as conseqüências à infração da Lei, ali está devidamente registrado. É o maior tratado sobre o Espírito e a vida espiritual.

Parte religiosa – Nessa parte trata de Deus e de seus atributos. O Deus antropomorfo, o Deus antigo, o Deus vingativo, o Deus bíblico não existe na descrição dos Espíritos, senão o Deus cheio de bondade e de amor, para o qual todos serão salvos e chegarão à suprema felicidade, purgadas as suas faltas nos dias amargos da Terra e chegados à consciência do Bem nas pungitivas meditações do Espaço.
E sobre Deus foi até onde podia ir. A nossa ignorância não no-lo deixaria compreender melhor. Era necessário, entretanto, compreendê-lo em face das misérias do mundo. É o que vai explicar O Livro dos Espíritos. O principal, porém, é que saibamos que Ele existe e nos protege com seus atributos.

Ainda nos explica a ação de anjos e demônios, o que são eles e o que eles representam; os anjos da guarda, os gênios, os protetores, a adoração e o respeito; a prece.

Parte filosófica – Entramos no campo da Filosofia, campo vasto, e que nos vem fazer descortinar mais claros horizontes. Os verdadeiros princípios filosóficos ali se acham condensados. Já se explica a razão de nosso sofrimento, de nosso destino, de nosso atraso; o que é a inteligência, o instinto, a razão de nosso ser. Estuda-se a palingenesia, o equilíbrio da natureza, o porquê das coisas.

Parte científica – Aqui vemos o que é o espírito e o que é a matéria, a formação dos mundos, a sua pluralidade; os seres orgânicos e inorgânicos, o materialismo, os reinos da natureza; os fenômenos.
Somente com os Evangelhos seríamos bons pela fé; com o Espiritismo sê-lo-emos pelo raciocínio. A fé às vezes bruxoleia, enfraquece e morre, outras vezes não se acende. Era preciso abalar fortemente o espírito humano, daí o ferro em brasa, que são as provas irrefragáveis trazidas pelos Espíritos, na época prevista e preparada pelo Senhor.

Etnografia – Interessante é o estudo desta parte, em que se trata das raças humanas, do povoamento, da moral primitiva. Estuda-se o homem, entra-se pela Geografia Humana e chega-se ao aperfeiçoamento do indivíduo e das raças.

Biologia – Não descuraram os Espíritos de falar da vida e da morte, da reprodução, da conservação e destruição dos seres, dos obstáculos à vida.

Moral – É a parte mais importante, porque é para chegar à perfeição humana pela moral que os Espíritos Superiores se deram ao ciclópico afã de vir até nós. É a lei natural por excelência. E temos nessa parte as sanções, os efeitos da falta, as conseqüências à infração. Os principais postulados da lei. Descreve-se o bem e o mal. Há referências ao duelo; largamente se ventila a crueldade e as terríveis dores que acarretam; em contraposição, nos são mostrados os efeitos da justiça, do amor, da caridade.
A lei do amor está escrita por toda parte; assim nos velhos códigos como nos modernos. Ela se resume na velha frase de Confúcio: “Não faças aos outros o que não queres que te façam”. Cristo nos apresenta o seu imperativo categórico: “Amai-vos uns aos outros”. Em O Livro dos Espíritos é ela a cúpula grandiosa do monumento arquitetônico que os Espíritos vieram trazer-nos e que Allan Kardec ajustou peça por peça.

Parte social – Não a esqueceram os Mensageiros. E falam-nos, então, no trabalho, no repouso. Ocupam-se do casamento, da poligamia, da guerra, da pena de morte, da vida social, da família, do progresso, da civilização, da liberdade, da igualdade, da fraternidade, lemas da Revolução Francesa e de outras revoluções, mas que não chegaram a firmar-se como princípios intangíveis, porque os homens pretenderam esculpi-las a ferro e fogo, porque a mancharam de sangue, e muitíssimas vezes, de sangue inocente. Deus nos aponta o fim que devemos atingir; mas nós devemos escolher os meios dentro das leis divinas.

O Espírito – Ensina-nos o que é a vida do Espírito na Terra e fora da Terra. O que é o Espírito, o perispírito, as diferentes ordens de Espíritos, a sua progressão; a sua separação do corpo.

A morte – Diz-nos o que é a alma após a morte; a dolorosa surpresa dos maus; a doce consolação dos bons, ao acharem a tranqüilidade, ao reverem os entes queridos, ao compreenderem as promessas do Nazareno. O progresso dos espíritos felizes; a perturbação dos faltosos.

A volta – Capítulo de relevo em O Livro dos Espíritos é dedicado à reencarnação, visto que é ela a chave dos mais importantes problemas filosóficos. O capítulo discorre sobre a afinidade, o parentesco, a simpatia, as semelhanças, a hereditariedade, as desigualdades, as idéias inatas, o gênio, a memória das vidas passadas, a razão do esquecimento, a emancipação do espírito; os sonhos, os desmaios, a letargia, a catalepsia, a morte aparente, os mundos transitórios, as sensações do Espírito, a vida errante, a escolha das provas futuras.

Os Espíritos tomam um corpo adequado às provas pelas quais têm de passar.
No espaço influem sobre os encarnados; os bons, transmitindo-lhes bons pensamentos, aconselhando-os; os maus, pela atuação, pela possessão, pela obsessão, que pode levar até à loucura.

O Espírito virá em prova ou em missão. A hierarquia do Espírito é dada pela moral. É o amor e não o orgulho que o eleva na categoria do Espaço.
A morte não é esse porto escuro, nebuloso e sempre noite, a não ser para os Espíritos votados ao mal. Para esses ela será a treva, o ranger dos dentes, o inferno das Escrituras, sem a eternidade. Para os bons, um dia de intensa claridade, e tal seja a sua dedicação aos irmãos planetários, um acordar num deslumbramento de apoteose.
Tal é o que nos diz O Livro dos Espíritos, nos seus assuntos capitais.

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quarta-feira, 28 de março de 2012

LIVRO DOS MEDIUNS (INTRODUÇÃO)



LIVRO DOS MEDIUNS (INTRODUÇÃO)

Introdução

Diariamente a experiência confirma a nossa opinião de que as dificuldades e desilusões encontradas na prática espírita decorrem da ignorância dos princípios doutrinários: Sentimo-nos felizes ao verificar que foi eficiente o nosso trabalho para prevenir os adeptos para os perigos do aprendizado, e que muitos puderam evitá-los, com a leitura atenta desta obra.

Muito natural o desejo dos que se dedicam ao Espiritismo, de entrarem pessoalmente em comunicação com os Espíritos. Esta obra destina-se a facilitar-lhes isso, permitindo-lhes aproveitar os frutos de nossos longos e laboriosos estudos. Pois bem errado andaria quem julgasse que, para tornar-se perito no assunto, bastaria aprender a pôr os dedos numa mesa para fazê-la girar ou pegar um lápis para escrever.

Igualmente se enganaria quem pensasse encontrar nesta obra uma receita universal infalível para fazer médiuns. Embora cada qual já traga em si mesmo os germes das qualidades necessárias, essas qualidades se apresentam em graus diversos, e o seu desenvolvimento depende de causas estranhas à vontade humana. Não fazemos poetas, nem pintores ou músicos com as regras dessas artes, que servem apenas para orientar os dons de quem possui os respectivos talentos. Sua finalidade é indicar os meios de desenvolvimento da mediunidade em que a possui, segundo as possibilidades de cada um, e sobretudo orientar o seu emprego de maneira proveitosa. Mas não é esse o nosso único objetivo.

Aumenta todos os dias, ao lado dos médiuns, o número de pessoas que se dedica a manifestações espíritas. Orientá-las nas suas observações, apontar-lhes as dificuldades que certamente encontrarão, ensinar-lhes a maneira de se comunicarem com os Espíritos, obtendo boas comunicações, é o que também devemos fazer para completar o nosso trabalho. Ninguém estranhe, pois, se encontrar ensinamentos que poderão parecer descabidos. A experiência mostrará que são úteis. O estudo atencioso deste livro facilitará a compreensão dos fatos a observar. A linguagem de certos Espíritos parecerá menos estranha. Como instrução prática ele não se dirige exclusivamente aos médiuns, mas a todos que querem observar os fenômenos espíritas.

Desejariam alguns que publicássemos um manual prático mais sucinto, indicando em poucas palavras como entrar em comunicação com os Espíritos. Entendem que um livrinho assim, mais barato podendo ser difundido com mais profusão, seria poderoso meio de propaganda, multiplicando o número de médiuns. Pensamos que isso seria mais nocivo do que útil, pelo menos no momento. A prática espírita é difícil, apresentando escolhos que somente um estudo sério e completo pode prevenir. Uma exposição sucinta poderia facilitar experiências levianas, que levariam a decepções. São coisas com as quais não se deve brincar, e acreditamos que seria inconveniente pô-las ao alcance de qualquer estouvado que inventasse conversar com os mortos. Dirigimo-nos aos que vêem no Espiritismo um objetivo sério, compreendendo toda a sua gravidade e não pretendem brincar com as comunicações do outro mundo.

Chegamos a publicar uma Instrução Prática para os médiuns que se encontra esgotada. Fizemo-la com objetivo sério e grave mas apesar disso não a reimprimiríamos, pois já não corresponde à necessidade de esclarecimento completo das dificuldades que podem ser encontradas. Preferimos substituí-la por esta, em que reunimos todos os dados de uma longa experiência e de um estudo consciencioso. Ela contribuirá, esperamos, para mostrar o caráter sério do Espiritismo, que é a sua essência, e para afastar a idéia de frivolidade e divertimento.

Acrescentaremos uma importante consideração: a de que as experiências feitas com leviandade, sem conhecimento de causa, provocam péssimas impressões nos principiantes ou pessoas mal preparadas, tendo o inconveniente de dar uma idéia bastante falsa do mundo dos Espíritos, favorecendo a zombaria e dando motivos a críticas quase sempre bem fundadas. É por isso que os incrédulos saem dessas reuniões raramente convencidos e pouco dispostos a reconhecerem o aspecto sério do Espiritismo. A ignorância e a leviandade de certos médiuns têm causado maiores prejuízos do que se pensa na opinião de muita gente.

Vem progredindo bastante o Espiritismo, desde alguns anos, mas o seu maior progresso se verifica depois que entrou no rumo filosófico, porque despertou a atenção de pessoas esclarecidas. Hoje não é mais uma diversão, mas uma doutrina de que não riem os que zombavam das mesas-girantes. Esforçando-nos por sustentá-lo nesse terreno, estamos certos de conquistar adeptos mais úteis do que através de manifestações levianas. Temos a prova disso todos os dias, pelo número de adeptos resultantes da simples leitura de O LIVRO DOS ESPÍRITOS.

Depois da exposição do aspecto filosófico da ciência espírita em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, damos nesta obra a sua parte prática, para aqueles que desejarem ocupar-se das manifestações, seja pessoalmente, seja pela observação de experiências alheias. Verão aqui os escolhos que poderão encontrar e estarão em condições de evitá-los. Essas duas obras, embora se completem, são até certo ponto independentes uma da outra. Mas a quem quiser tratar seriamente do assunto, recomendamos primeiramente a leitura de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, porque contém os princípios fundamentais, sem o quais talvez seja difícil a compreensão de algumas partes desta obra.

Esta segunda edição foi bem melhorada, apresentando-se mais completa do que a primeira. Foi corrigida com especial cuidado pelos Espíritos, que lhe acrescentaram grande número de observações e instruções do mais alto interesse. Como eles reviram tudo, aprovando ou modificando a vontade, podemos dizer que ela é, em grande parte, obra deles. Mesmo porque não se limitaram a intervir em algumas comunicações assinadas. Só indicamos os nomes, quando isso nos pareceu necessário para caracterizar algumas exposições mais extensas, como feitas textualmente por eles. De outra maneira, teríamos de mencioná-los quase em cada página, particularmente nas respostas dadas às nossas perguntas, o que nos pareceu inútil. Os nomes pouco importam, como se sabe, neste assunto. O essencial é que o trabalho corresponda, no seu conjunto, aos objetivos propostos. Esperamos assim que esta edição, mais perfeita que a primeira, seja tão bem recebida como aquela.

Como acrescentamos muitas coisas, e muitos capítulos inteiros, assim também suprimimos alguns trechos repetidos, como o da ESCALA ESPÍRITA, que já se encontra em O LIVRO DOS ESPÍRITOS.

Suprimimos ainda do vocabulário o que não se refere propriamente a esta obra, substituindo-o por coisas mais úteis. Esse vocabulário, aliás, não está completo, pretendemos publicá-lo mais tarde, em separado, na forma de um pequeno dicionário da filosofia espírita. Conservamos nesta obra, tão somente, as palavras novas específicas, relativas ao assunto de que nos ocupamos.(1)

(1) A segunda edição, que serviu para esta tradução, constitui o texto definitivo do livro. As características que se notam entre este final do prefácio e o das nossas demais traduções de O LIVRO DOS MÉDIUNS decorrentes de modificações nas edições francesas posteriores à morte de Kardec. É de particular interesse doutrinário a referência do Codificador ao seu desejo de publicar um Pequeno Dicionário da Filosofia Espírita, obra que continua a fazer falta na bibliografia doutrinária. (N. do T. )

segunda-feira, 26 de março de 2012

República dos Espiritos VOTAÇÃO




O Avast! Free Antivirus 6.0, um dos melhores e mais utilizados antivírus no mundo, lançou recentemente sua nova versão, com algumas novidades pra lá de interessantes, como o AutoSandbox (que, no inglês, significa caixa de areia - local para onde o vírus é levado, examinado e informado ao usuário, sem danificar o sistema) e o WebRep (que adiciona um plugin ao Internet Explorer, Chrome ou Mozilla Firefox para visualizar a reputação de sites visitados ou exibidos em motores de busca, como o Google Search).

Livro dos Médiuns Bicorporeidade.



Livro dos Médiuns Bicorporeidade.


Cap. 7 – BICORPOREIDADE E TRANSFIGURAÇÃO

Aparições de Espíritos de Vivos / Homens Duplos / Santo Afonso de Liguori e Santo Antonio de Pádua / Vespasiano / Transfiguração / Invisibilidade

114 – Esses dois fenômenos são variedades de manifestações visuais. Por mais maravilhosos que possam parecer à primeira vista, facilmente se reconhecerá, pelas explicações que deles se podem dar, que não saem da ordem dos fenômenos naturais. Ambos se fundam no princípio de que tudo o que foi dito sobre as propriedades do perispírito após a morte se aplica ao perispírito dos vivos.

Sabemos que o Espírito, durante o sono, recobra em parte a sua liberdade, ou seja, que ele se afasta do corpo. E é nesse estado que muitas vezes temos a ocasião de observá-lo. Mas o Espírito, tanto do vivo quanto do morto, tem sempre o seu envoltório seminatural, que pelas mesmas causas já referidas pode adquirir a visibilidade e a tangibilidade. Há casos bastante positivos que não podem deixar nenhuma dúvida a esse respeito. Citaremos somente alguns exemplos de nosso conhecimento pessoal, cuja exatidão podemos garantir, pois todos estão em condições de acrescentar outros, recorrendo às suas lembranças.


115. A mulher de um nosso amigo viu repetidas vezes, durante a noite, entrar no seu quarto, com luz acessa ou no escuro, uma vendedora de frutas da vizinhança que ela conhecia de vista, mas com a qual nunca havia falado. Essa aparição a deixou muito apavorada, tanto mais que a senhora, na época, nada conhecia de Espiritismo e o fenômeno se repetia com freqüência. A vendedora estava perfeitamente viva e de certo dormia naquela hora. Enquanto o seu corpo material estava em casa, seu Espírito e seu corpo fluídico estavam na casa da senhora. Qual o motivo? Não se sabe. Nesse caso, um espírita já experimentado lhe teria feito a pergunta, mas a senhora nem sequer teve essa idéia. A aparição sempre se desfazia sem que ela soubesse como, e sempre, após o seu desaparecimento, ela ia ver se todas as portas estavam bem fechadas, assegurando-se de que ninguém poderia ter entrado no seu quarto.

Essa precaução mostra que ela estava bem acordada e não era iludida por um sonho. De outra vez ela viu, da mesma maneira, um homem desconhecido, mas um dia viu seu irmão, que então se encontrava na Califórnia. A aparência era tão real que, no primeiro momento, pensou que ele havia regressado e quis falar-lhe, mas ele desapareceu sem lhe dar tempo. Uma carta recebida depois lhe provou que ele não havia morrido. Esta senhora era o que se pode chamar um médium vidente natural. Mas nessa época, como já dissemos, ela nunca ouvira falar de médiuns.
116. Outra senhora que reside na província, estando gravemente enferma, viu certa noite, cerca das dez horas, um senhor idoso da sua mesma cidade, que encontrava às vezes na sociedade mas com o qual não tinha intimidade. Estava sentado numa poltrona ao pé da sua cama e de vez em quando tomava uma pitada de rapé. Parecia velar por ela. Surpresa com essa visita àquela hora, quis perguntar-lhe o motivo, mas o senhor lhe fez sinal para não falar e dormir. Várias vezes tentou falar-lhe, e de cada vez ele repetia a recomendação. Acabou por adormecer.
Alguns dias depois, já restabelecida, recebeu a visita do mesmo senhor, mas em hora conveniente e de fato em pessoa. Estava vestido da mesma maneira, com a mesma tabaqueira e precisamente com os mesmos gestos. Certa de que ele a visitara durante a doença, agradeceu-lhe o trabalho que tivera. O senhor, muito espantado, disse que há tempos não tinha o prazer de vê-la. A senhora que conhecia os fenômenos espíritas, compreendeu o que se passara, mas não querendo entrar em explicações a respeito, contentou-se em dizer que provavelmente sonhara.
O provável é isso, dirão os incrédulos, os espíritos fortes, os que por essa expressão entendem pessoas esclarecidas. Mas o que consta é que essa senhora não dormia tanto como a outra. – Então sonhava acordada, ou seja, teve uma alucinação. – Eis a palavra final,a explicação de tudo o que não se compreende. Como já refutamos suficientemente essa objeção, prosseguiremos para aqueles que podem compreender-nos.
117. Eis, porém, um caso mais característico, e gostaríamos de ver como se poderia explicá-lo por um simples jogo de imaginação.

Um senhor, residente na província, jamais quis se casar, malgrado as instâncias da família. Haviam principalmente insistido a favor de uma jovem de cidade vizinha, que ele nunca vira. Certo dia, em seu quarto, foi surpreendido com a presença de uma jovem vestida de branco, a fonte ornada por uma coroa de flores. Ela lhe disse que era a sua noiva, estendeu-lhe a mão, que ele tomou nas suas e notou que tinha um anel. Em poucos instantes tudo desapareceu. Surpreso com essa aparição, e seguro de que estava bem acordado, procurou informar-se se alguém havia chegado durante o dia . Responderam-lhe que ninguém fora visto na casa.


Um ano depois, cedendo a novas solicitações de um parente, decidiu-se a ir ver aquela que lhe propunham. Chegou no Dia de Corpus-Christi. Todos voltavam da procissão e uma das primeiras pessoas que viu, ao entrar na casa, foi uma jovem que reconheceu como a que lhe aparecera. Estava vestida da mesma maneira, pois o dia da aparição havia sido também o de Corpus-Christi. Ficou atônito, e a moça, por sua vez, gritou de surpresa e sentiu-se mal. Voltando a si, ela explicou que já vira aquele senhor, nesse mesmo dia, no ano anterior. O casamento se realizou. Estava-se em 1835. Nesse tempo não se tratava dos Espíritos, e além disso ambos são pessoas extremamente positivas, dotadas da imaginação menos exaltada que pode haver no mundo.
Poderão dizer que ambos estavam tocados pela idéia da união proposta e que essa preocupação provocou uma alucinação. Mas não se deve esquecer que o futuro marido permanecera tão indiferente ao caso, que passou um ano sem ir ver a noiva que lhe ofereciam. Mesmo admitindo-se essa hipótese, restaria a explicar a semelhança da aparição, a coincidência das vestes com o Dia de Corpus-Christi, e finalmente o reconhecimento físico entre pessoas que jamais se haviam visto, circunstâncias que não podem ser produzidas pela imaginação.(1)

118. Antes de prosseguir, devemos responder a uma pergunta que inevitavelmente será feita: como o corpo pode viver enquanto o Espírito se ausenta? Poderíamos dizer que o corpo se mantém pela vida orgânica, que independe da presença do Espírito, como se prova pelas plantas, que vivem e não têm Espírito.Mas devemos acrescentar que, durante a vida, o Espírito jamais se retira completamente do corpo.
Os Espíritos, como alguns médiuns videntes, reconhecem o Espírito de uma pessoa viva por um traço luminoso que termina no seu corpo, fenômeno que jamais se verifica se o corpo estiver morto, pois então a separação é completa. É por meio dessa ligação que o Espírito é avisado, a qualquer distância que estiver, da necessidade de voltar ao corpo, o que faz com a rapidez do relâmpago. Disso resulta que o corpo nunca pode morrer durante a ausência do Espírito e que nunca pode acontecer que o Espírito, ao voltar, encontre a porta fechada, como tem dito alguns romancistas em estórias para recrear. (O Livro dos Espíritos, nº 400 e seguintes).

119. Voltemos ao nosso assunto. O espírito de uma pessoa viva, afastado do corpo, pode aparecer como o de um morto, com todas as aparências da realidade. Além disso, pelos motivos que já explicamos, pode adquirir tangibilidade momentânea. Foi esse fenômeno, designado por bicorporeidade, que deu lugar às estórias de homens duplos, indivíduos cuja presença simultânea se constatou em dois lugares diversos. Eis dois exemplos tirados, não das lendas populares, mas da História Eclesiástica.
Santo Afonso de Liguori foi canonizado antes do tempo exigido por se haver mostrado simultaneamente em dois lugares diferentes, o que passou por milagre.

Santo Antonio de Pádua estava na Espanha e no tempo em que ali pregava, seu pai, que se encontrava em Pádua, ia sendo levado ao suplício, acusado de assassinato. Nesse momento Santo Antonio aparece, demonstra inocência do pai e dá a conhecer o verdadeiro criminoso que, mais tarde sofreu o castigo. Constatou-se que naquele momento Santo Antonio não havia deixado a Espanha. Santo Afonso, evocado e interrogado por nós sobre o fato referido, deu as seguintes respostas.(2)

1. Poderias dar-nos a explicação desse fenômeno?
— Sim. Quando o homem se desmaterializou completamente por sua virtude, tendo elevado sua alma a Deus, pode aparecer em dois lugares ao mesmo tempo. Eis como: o Espírito encarnado, sentindo chegar o sono, pode pedir a Deus para se transportar a algum lugar. Seu Espírito ou sua alma, como quiseres, abandona então o corpo, seguido de uma porção do seu perispírito, e deixa a matéria imunda num estado vizinho da morte. Digo vizinho da morte porque o corpo permanece ligado ao perispírito e a alma à matéria, por um liame que não pode ser definido.O corpo aparece então no lugar pedido. Creio que é tudo o que desejas saber.

2. Isso não nos dá a explicação da visibilidade e da tangibilidade do perispírito?
— Estando desligado da matéria, segundo o seu grau de elevação o Espírito pode se tornar tangível à matéria.

3. É indispensável o sono do corpo para o aparecimento do Espírito em outros lugares?
— A alma pode se dividir quando se deixa levar para longe o corpo. Pode ser que o corpo não durma,embora seja isso muito raro, mas então estará em perfeita normalidade. Estará sempre mais ou menos em êxtase. (3)
Nota de Kardec: A alma não se divide, no sentido literal da palavra. Ela irradia em várias direções e pode assim manifestar-se em muitos lugares, sem se fragmentar. É o mesmo que se dá com a luz ao refletir-se em muitos espelhos.

4. Estando um homem mergulhado no sono, enquanto seu Espírito aparece ao longe, que aconteceria se fosse subitamente despertado?
— Isso não aconteceria, porque se alguém tivesse a intenção de acordá-lo o Espírito voltaria ao corpo, antecipando a intenção, pois o Espírito lê o pensamento.
Explicação inteiramente idêntica nos foi dada muitas vezes por Espíritos de pessoas mortas ou vivas. Santo Afonso explica o fato da presença dupla, mas não oferece a teoria da visibilidade e da tangibilidade.

120. Tácito refere um caso semelhante:
Durante os meses que Vespasiano passou em Alexandria, esperando a volta periódica dos ventos estivais e da estação em que o mar oferece segurança, muitos prodígios aconteceram, pelos quais se manifestou a proteção do céu e o interesse dos deuses por aquele príncipe.

Esses prodígios aumentaram o desejo de Vespasiano de visitar a morada do Deus para consultá-lo a respeito do Império. Ordenou que o templo fosse fechado para todos. Entrou e estava inteiramente atento ao que o oráculo ia pronunciar, quando percebeu atrás dele um dos egípcios mais importantes, chamado Basilido, que ele sabia estar doente em lugar distante muitos dias de Alexandria. Perguntou aos sacerdotes se Basilido viera ao templo naquele dia, informou-se com os transeuntes se o tinham visto na cidade e por fim enviou homens a cavalo e assegurou-se de que, naquele momento, ele se encontrava a oitenta milhas de distância. Então não teve mais dúvidas de que a visão era sobrenatural e o nome de Basilido ficou sendo para ele um oráculo.(Tácito, Histórias, livro IV, caps. 81 e 82 traduço de Burnouf.)(4)

121. A pessoa que se mostra simultaneamente em dois lugares diversos tem portanto dois corpos. Mas desses corpos só um é real, o outro não passa de aparência. Pode-se dizer que o primeiro tem a vida orgânica e o segundo a anímica. Ao acordar os dois corpos se reúnem e a vida anímica penetra o corpo material. Não parece possível, pelo menos não temos exemplos, e a razão parece demonstrar que, quando separados, os dois corpos possam gozar simultaneamente e no mesmo grau da vida ativa e inteligente. Ressalta, ainda, do que acabamos de dizer, que o corpo real não poderia morrer enquanto o corpo aparente permanece visível: a aproximação da morte chama sempre o Espírito para o corpo, mesmo que só por um instante. Disso resulta também que o corpo aparente não poderia ser assassinado, pois não é orgânico e nem formado de carne e osso: desaparece no momento em que se quiser matá-lo.(5)

122. Passemos a tratar do segundo fenômeno, o da transfiguração, que consiste na modificação do aspecto de um corpo de vivo. Eis, a respeito,um caso cuja perfeita autenticidade podemos garantir, ocorrido entre os anos de 1858 e 1859, nas cercanias de Saint-Étienne:
Uma jovem de uns quinze anos gozava da estranha faculdade de se transfigurar, ou seja, de tomar em dados momentos todas as aparências de algumas pessoas mortas. A ilusão era tão completa que se acreditava estar na presença da pessoa, tamanha a semelhança dos traços do rosto, do olhar, da tonalidade da voz e até mesmo das expressões usuais na linguagem. Esse fenômeno repetiu-se centenas de vezes, sem qualquer interferência da vontade da jovem. Muitas vezes tomou a aparência de seu irmão, falecido alguns anos antes, reproduzindo-lhe não somente o semelhante, mas também o porte e a corpulência.

Um médico local, que muitas vezes presenciara esses estranhos fenômenos, querendo assegurar-se de que não era vítima de ilusão, fez interessante experiência. Colhemos a informações dele mesmo, do pai da moça e de muitas outras testemunhas oculares, bastante honradas e dignas de fé. Teve ele a idéia de pesar a jovem no seu estado normal e durante a transfiguração, quando ela tomava aparência do irmão que morrera aos vinte anos e era muito maior e mais forte do que ela. Pois bem: verificou que na transfiguração o peso da moça era quase o dobro.
A experiência foi conclusiva, sendo impossível atribuir a aparência a uma simples ilusão de óptica. Tentemos explicar esse fato, que sempre foi chamado de milagre mas que chamamos simplesmente de fenômeno.

123. A transfiguração pode ocorrer, em certos casos, por uma simples contração muscular que dá à fisionomia expressão muito diferente, a ponto de tornar a pessoa irreconhecível. Observamo-la freqüentemente com alguns sonâmbulos. Mas, nesses casos, a transformação não é radical. Uma mulher poderá parecer jovem ou velha, bela ou feia, mas será sempre mulher e seu peso não aumentará nem diminuirá. No caso de que tratamos é evidente que há algo mais. A teoria do perispírito nos vai pôr no caminho.

Admite-se em princípio que o Espírito pode dar ao seu perispírito todas as aparências. Que por uma modificação das disposições moleculares, pode lhe dar a visibilidade, a tangibilidade e em conseqüência a opacidade. Que o perispírito de uma pessoa viva, fora do corpo pode passar pelas mesmas transformações e que essa mudança de estado se realiza por meio da combinação dos fluidos.
Imaginemos então o perispírito de uma pessoa viva, não fora do corpo, mas irradiando ao redor do corpo de maneira a envolvê-lo como uma espécie de vapor. Nesse estado ele pode sofrer as mesmas modificações de quando separado. Se perder transparência, o corpo pode desaparecer, tornar-se invisível, velar-se como se estivesse mergulhado num nevoeiro. Poderá mesmo mudar de aspecto, ficar brilhante, de acordo com a vontade ou o poder do Espírito. Outro Espírito, combinando o seu fluido com esse, pode substituir a aparência dessa pessoa, de maneira que o corpo real desapareça, coberto por um envoltório físico exterior cuja aparência poderá variar como o Espírito quiser.

Essa parece ser a verdadeira causa do fenômeno estranho — e raro, convém dizer, — da transfiguração. Quanto à diferença de peso, explica-se da mesma maneira que a dos corpos inertes. O peso do próprio corpo não varia, porque a sua quantidade de matéria não aumenta, mas o corpo sofre a influência de um agente exterior que pode aumentar-lhe ou diminuir-lhe o peso relativo, segundo explicamos nos números 78 e seguintes. É provável, portanto, que a transfiguração na forma de uma criança diminua o peso de maneira proporcional.

124. Concebe-se que o corpo possa tomar uma aparência maior que a sua ou das mesmas dimensões, mas como poderia tornar-se menor, do tamanho de uma criança, como acabamos de dizer? Nesse caso, o corpo real não deveria ultrapassar os limites do corpo aparente? Por isso não dizemos que o fato se tenha verificado, mas quisemos apenas mostrar, referindo-nos à teoria do peso específico, que o peso aparente poderia também diminuir.
Quanto ao fenômeno em si, não afirmamos nem negamos a sua possibilidade. No caso de ocorrer, o fato de não se poder explicá-lo satisfatoriamente não o infirmaria. É preciso não esquecer que estamos no começo desta ciência e que ela ainda está longe de haver dito sua última palavra sobre este ponto, como sobre muitos outros. Aliás, as partes excedentes do corpo poderiam perfeitamente ser tornadas invisíveis.
A teoria do fenômeno da invisibilidade ressalta naturalmente das explicações precedentes e das que se referem ao fenômeno de aportes, nº 96 e seguintes.(6)

125. Teríamos de falar do estranho fenômeno dos agêneres, que por mais extraordinário que possa parecer á primeira vista, não é mais sobrenatural do que os outros. Mas como já o explicamos na Revista Espírita (fevereiro de 1859) achamos inúteis repetir aqui os seus detalhes(7). Diremos apenas que é uma variedade de aparições tangíveis.
É uma condição em que certos Espíritos podem revestir momentaneamente as formas de uma pessoa viva, a ponto de produzir perfeita ilusão. (Do grego: a, privativo, e géine, géinomai, gerado: não-gerado)(8)

(1) Tenta-se hoje explicar os casos dessa natureza pela telepatia, como se vê no livro de Tyrrell. “Aparições”. Mas essas teorias parapsicológicas são apenas tentativas de escapar à explicação espírita e se tornam ridículas pelos expedientes absurdos de que têm de servir-se. Como notou o prof. Harry Price, da Universidade de Oxtord, Inglaterra, o próprio Tyrrell reconhece que sua teoria “deixa grande quantidade de casos sem explicar”. Isso no prefácio do livro. Na verdade, só a teoria explica até hoje, todos os casos, sem as incongruências dessas hipóteses engenhosas, como Price chamou a de Tyrrell. (Ver: Apparitions, G. N. M Tyrrell, Pantheon Books, New York, 1952, ou tradução castelhana: Apariciones, Editorial Paidós, Buenos Aires, 1965, versão de Juan Rojo. (N. do T.)

(2) Os Espíritos elevados não se recusam a ensinar os que sinceramente desejam aprender. A evocação é um apelo humilde e não uma fórmula exigente, Kardec só fazia as evocações que fossem aprovadas pelo guia da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que era São Luis. Veja-se, na Revista Espírita, a secção Palestras Familiares de Além túmulo e a secção de boletins dos trabalhos da Sociedade. (N. do T.)

(3) Ernesto Bozzano relata casos de comunicações por psicografia ou aparição de pessoas em estado de vigília,mas sempre em momentos de distração ou cochilo. As pesquisas parapsicológicas atuais consideram esses casos como de telepatia, mas sempre admitindo um estado de inconsciência ou semiconsciência como condição necessária. Muitos parapsicólogos já admitem o fenômeno de “projeção do eu” que corresponde à irradiação da alma, de que trata Kardec na nota seguinte à explicação de Santo Afonso. (N. do T.)

(4) Este episódio histórico adquire maior importância quando sabemos que os egípcios se dedicavam a práticas de desdobramento ou “projeção do eu”, servindo-se até mesmo de drogas alucinógenas em seus templos. Experiências atuais confirmam esses fatos. (N. do T.)

(5) Ver na Revista Espírita de janeiro de 1859 o artigo O Duende de Bayonne; de maio de 1859, O Liane entre o Espírito e o corpo; de novembro de 1859, A alma errante; de janeiro de 1860. Espírito de um lado e corpo de outro; março de 1860, Estudos sobre o Espírito de pessoas vivas, o doutor V e a senhorita I; de abril de 1860, o fabricante de São Petersburgo, aparições tangíveis; de novembro de 1860, História de Maria d´Agreda; de julho de 1861, Uma aparição providencial. (Nota de Allan Kardec)
(6) Há numerosos casos de observação de uma máscara transparente sobre o rosto do médium, reproduzindo o rosto do Espírito comunicante. Observamos um desses casos em 1946, em São Paulo, com o médium Urbano de Assis Xavier. Nesses casos, como se vê, acima, a máscara se torna pela combinação fluídica do perispírito do médium com o do Espírito comunicante. É fenômeno de sintonia e não de penetração do Espírito no corpo do médium. (N. do T.)

(7) Como se vê, a teoria dos agêneres se encontra apenas na Revista Espírita, o que ressalta a importância dessa coleção de Kardec, somente agora publicada em nossa língua. (N. do T.)

(8) Estas explicações de Kardec foram posteriormente confirmadas por numerosas experiências científicas e ocorrências espontâneas, em toda as partes do mundo. Nada a não ser hipóteses gratuitas, que caíram sucessivamente por si mesmas, até hoje pôde contradizer as teorias, apresentadas neste capítulo. As experiências metapsíquicas, desde as realizadas pelo prof. Karl Friedrik Zolner, da Universidade de Leipzig, na Alemanha, com notável, equipe de pesquisadores, até as experiências famosas de Richet, Gustave Geley, Eugene Osty, Paul Gibier, na França, explica-se por estas teorias. Recentemente, no campo das pesquisas parapsicológicas, mais restritas e cautelosas, a confirmação vem se fazendo da mesma maneira. As experiências de Soal e Wathely Carington, na Universidade de Cambridge, Inglaterra, com levitação e voz-direta; as de Harry Price, da Universidade de Oxford, com telecinesia (movimento, ocultação e reaparecimento de objetos); os relatos de Louise Rhine, de Duke University, EUA, sobre “alucinações visuais referentes a mortos” e os de Karl Gustav Jung no mesmo sentido provam isso. (N. do T.)


Como estudar o Espiritismo?





"Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande, só pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. Não sabemos como dar esses qualificativos aos que julgam "a priori", levianamente, sem tudo ter visto; que não imprimem a seus estudos a continuidade, a regularidade e o recolhimento indispensáveis. Ainda menos saberíamos dá-los a alguns que, para não decaírem da reputação de homens de espírito, se afadigam por achar um lado burlesco nas coisas mais verdadeiras, ou tidas como tais por pessoas cujo saber, cujo caráter e convicções, lhes dão direito à consideração de quem quer que se preze de bem-educado. Abstenham-se, portanto, os que entendem não serem dignos de sua atenção os fatos. Ninguém pensa em lhes violentar a crença; concordem, pois, em respeitar a dos outros."

O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá. (...)".

MÉTODO
. O desejo muito natural e louvável dos adeptos, que não se precisaria se estimular, é o de fazer prosélitos. Para facilitar-lhes a tarefa é que nos propomos a examinar aqui o meio mais seguro, segundo pensamos, de atingir esse objetivo poupando esforços inúteis.

Dissemos que o Espiritismo é toda uma Ciência, toda uma Filosofia. Quem desejar conhecê-lo seriamente deve pois, como primeira condição, submeter-se a um estudo sério e persuadir-se de que, mais do que qualquer outra ciência, não se pode aprendê-lo brincando. O Espiritismo, já o dissemos, se relaciona com todos os problemas da Humanidade. Seu campo é imenso e devemos encará-lo sobretudo quanto às suas conseqüências. A crença nos Espíritos constitui sem dúvida a sua base, mas não basta para fazer um espírita esclarecido, como a crença em Deus não basta para fazer um teólogo. Vejamos, pois, de que maneira convém proceder no seu ensino, para levar-se com mais segurança à convicção.

Que os adeptos não se assustem com a palavra ensino. Não se ensina apenas do alto da cátedra ou da tribuna, mas também na simples conversação. Toda pessoa que procura persuadir outra por meio de explicações ou de experiências, ensina. O que desejamos é que esse esforço dê resultados. Por isso julgamos nosso dever dar alguns conselhos, que poderão ser aproveitados pelos que desejam instruir-se a si mesmos e que terão aqui o meio e chegar mais segura e prontamente ao alvo.

19. Acredita-se geralmente que para convencer é suficiente apresentar os fatos. Esse parece realmente o procedimento mais lógico, e no entanto a experiência mostra que nem sempre é o melhor, pois freqüentemente encontramos pessoas que os fatos mais evidentes não convencem de maneira alguma. A que se deve isso? É o que tentaremos demonstrar.

No Espiritismo, a questão dos Espíritos está em segundo lugar, não constituindo o seu ponto de partida. E é esse, precisamente, o erro em que se cai e que acarreta o fracasso com certas pessoas. Sendo os Espíritos simplesmente as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é então a existência da alma. Como pode o materialista admitir a existência de seres que vivem fora do mundo material, quando ele mesmo se considera apenas material? Como pode crer na existência de Espíritos ao seu redor, se não admite seu próprio Espírito? Em vão se amontoarão aos seus olhos as provas mais palpáveis. Ele contestará a todas elas, porque não admite o princípio.

Todo ensino metódico deve participar do conhecido para o desconhecido. Para o materialista, o conhecido é a matéria. Parti, pois, da matéria e tratai de lhe demonstrar, antes de tudo, que há nele próprio alguma coisa que escapa às leis materiais. Numa palavra: antes de torná-lo espírita procurai fazê-lo ESPIRITUALISTA. Mas, para isso, é necessária outra ordem de fatos e se deve proceder, por outros meios, a uma forma especial de ensino. Falar-lhe de Espíritos antes que ele esteja convencido de ter uma alma é começar pelo fim, pois ele não pode admitir a conclusão se não aceita as premissas.

Antes, pois, de tentar convencer um incrédulo, mesmo por meio dos fatos, convém assegurar-se de sua opinião sobre a alma, ou seja, se ele crê na sua existência, na sua sobrevivência ao corpo, na sua individualidade após a morte. Se a resposta for negativa, será tempo perdido falar-lhe dos Espíritos. Eis a regra. Não dizemos que não haja exceção. Mas nesse caso deve existir outra razão que o torne menos refratário.

20. Devemos distinguir duas classes de materialistas: na primeira estão os que o são por sistema. Para eles não há dúvida, mas a negação absoluta, segundo a sua maneira de raciocinar. Aos seus olhos o homem não passa de uma máquina enquanto vivo, mas que se desarranja e depois da morte só deixa o esqueleto. Seu número é felizmente bastante restrito e em parte alguma representa uma escola abertamente declarada. Não precisamos acentuar os deploráveis efeitos que resultariam para a ordem social da vulgarização de semelhante doutrina. Estendemo-nos suficientemente a respeito em O LIVRO DOS ESPÍRITOS (nº 147 e parágrafo III da Conclusão).

Quando dissemos que a dúvida dos incrédulos cessa diante de uma explicação racional, é necessário excetuar os materialistas radicais, que negam toda potência e qualquer princípio inteligente fora da matéria. A maioria se obstina nessa opinião por orgulho e acha que deve mantê-lo por amor próprio. Persistem nela apesar de todas as provas contrárias porque não querem ficar por baixo. Nada se tem a fazer com eles. Nem se deve acreditar na falsa expressão de sinceridade dos que dizem: Fazei-me ver e acreditarei. Há os que são mais francos e logo dizem: Mesmo se eu visse não acreditaria.

21. A segunda classe de materialistas, muito mais numerosa, compreende os que o são por indiferença, e, podemos dizer, por falta de coisa melhor, já que o materialismo real é um sentimento antinatural. Não o são deliberadamente e o que mais desejam é crer, pois a incerteza os atormenta. Sentem uma vaga aspiração do futuro, mas esse futuro lhes foi apresentado de maneira que sua razão não pode aceitar, nascendo daí a dúvida, e como conseqüência da dúvida, a incredulidade. Para eles, pois, a incredulidade não se apóia num sistema. Tão logo lhes apresenteis alguma coisa de racional, eles a aceitarão com ardor. Esses podem nos compreender, porque estão mais próximos de nós do que poderiam supor.

Com os primeiros, não faleis de revelação, nem de anjos ou do Paraíso, pois, não compreenderiam. Mas colocai-vos no seu próprio terreno e provai-lhes, primeiro, que as leis da Filosofia não podem explicar tudo: o resto virá depois. A situação é outra quando não se trata de incredulidade preconcebida, pois nesse caso a crença não foi totalmente anulada e permanece como germe latente, asfixiado pelas ervas daninhas, que uma centelha pode reanimar. É o cego a que se restitui à vista e que se alegra de rever a luz, é o náufrago a que se atira uma tábua de salvação.

22. Ao lado dos materialistas propriamente ditos há uma terceira classe de incrédulos que, embora espiritualistas, pelo menos no nome, não são menos refratários ao Espiritismo: são os incrédulos de má vontade. Esses não querem crer, porque isso lhes perturbaria o gozo dos prazeres materiais. Temem encontrar a condenação de sua ambição, do seu egoísmo e das vaidades humanas com que se deliciam. Fecham os olhos para não ver e tapam os ouvidos para não ouvir. Só podemos lamentá-los.

23. Somente para lembrá-la, falaremos de uma quarta categoria a que chamaremos de incrédulos interesseiros ou de má fé. Estes sabem muito bem o que há de certo no Espiritismo, mas o condenam ostensivamente por motivos de interesse pessoal. Nada temos a dizer deles nem a fazer com eles. Se o materialista radical se engana, tem ao menos a desculpa da boa fé; podemos corrigi-lo, provando-lhe o erro. Neste último, há uma determinação contra a qual se esboroam todos os argumento. O tempo se encarregará de lhe abrir os olhos e lhe mostrar, talvez á sua própria custa, onde estavam os seus verdadeiros interesses. Porque, não podendo impedir a expansão da verdade, eles serão arrastados pela correnteza, juntamente com os interesses que pensavam salvaguardar.

24. Além dessas categorias de opositores há uma infinidade de variações, entre as quais se podem contar os incrédulos por covardia, que terão coragem quando verificarem que os outros não foram prejudicados; os incrédulos por escrúpulo religioso, que um ensino esclarecido fará ver que o Espiritismo se apóia nos próprios fundamentos da Religião e respeita todas as crenças, tendo como um de seus efeitos despertar os sentimentos religiosos nos descrentes, fortalecendo-os nos vacilantes; os incrédulos por orgulho, por espírito de contradição, por negligência, por leviandade, etc. etc.

25. Não podemos esquecer uma categoria que chamaremos de incrédulos por decepção. Abrange os que passaram de uma confiança exagerada à incredulidade, por terem sofrido desilusões. Assim, desencorajados, abandonaram tudo e tudo rejeitaram. São como aquele que negasse a boa fé por ter sido enganado. São ainda as conseqüências de um estudo incompleto do Espiritismo e da falta de experiência. Aquele que é mistificado por Espíritos, geralmente é porque lhes fez perguntas indevidas ou que eles não podiam responder, ou porque não estavam bastante esclarecidos para distinguir a verdade da impostura. Muitos, aliás, só vêem o Espiritismo como uma nova forma de adivinhação e pensam que os Espíritos existem para ler a buena-dicha. Ora, os Espíritos levianos e brincalhões não perdem a oportunidade de se divertirem á sua custa: é assim que anunciarão casamentos para as moças; honrarias, heranças e tesouros ocultos para os ambiciosos, e assim por diante. Disso resultam, freqüentemente, desagradáveis decepções, de que o homem sério e prudente sabe sempre se preservar.

26. Uma classe muito numerosa, a mais numerosa de todas, mas que não poderia figurar entre os opositores, é a dos vacilantes. São geralmente espiritualistas por princípio. Na sua maioria tem uma vaga intuição das idéias espíritas e desejam alguma coisa que não podem definir. Falta-lhes apenas coordenar e formular os seus pensamentos. O Espiritismo aparece-lhes como um raio de luz: é a claridade que afugenta as névoas. Por isso o acolhem com sofreguidão, pois ele os liberta das angústias da incerteza.

27. Se lançarmos agora um olhar sobre as diversas categorias de crentes, encontraremos primeiro os espíritas sem o saber. São uma variedade ou uma subdivisão da classe dos vacilantes. Sem jamais terem ouvido falar da Doutrina Espírita, tem o sentimento inato dos seus grandes princípios e esse sentimento se reflete em algumas passagens de seus escritos ou de seus discursos, de tal maneira que, ouvindo-os, acredita-se que sejam verdadeiros iniciados. Encontram-se numerosos desses exemplos entre os escritores sacros e profanos, entre os poetas, os oradores, os moralistas, os filósofos antigos e modernos.

28. Entre os que se convenceram estudando diretamente os assuntos podemos distinguir:

1º) Os que acreditam pura e simplesmente nas manifestações.Consideram o Espiritismo como uma simples ciências de observação, apresentando uma série de fatos mais ou menos curiosos. Chamamo-los: espíritas experimentadores.

2º) Os que não se interessam apenas pelos fatos e compreendem o aspecto filosófico do Espiritismo, admitindo a moral que dele decorre, mas sem a praticarem. A influência da Doutrina sobre o seu caráter é insignificante ou nula. Não modificam em nada os seus hábitos e não se privariam de nenhum de seus prazeres. O avarento continua insensível, o orgulhoso cheio de amor próprio, o invejoso e os ciumentos sempre agressivos. Para eles, a caridade cristã não passa de uma bela máxima. São os espíritas imperfeitos.

3º) Os que não se contentam em admirar apenas a moral espírita, mas a praticam e aceitam todas as suas conseqüências. Convictos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar na senda do progresso, única que pode elevá-los de posição no Mundo dos Espíritos, esforçando-se para fazer o bem e reprimir as suas más tendências. Sua amizade é sempre segura, porque a sua firmeza de convicção os afasta de todo mau pensamento. A caridade é sempre a sua regra de conduta. São esses os verdadeiros espíritas, ou melhor os espíritas cristãos.(1)

4º) Há, por fim, os espíritas exaltados. A espécie humana seria perfeita, se preferisse sempre o lado bom das coisas. O exagero é prejudicial em tudo. No Espiritismo ele produz uma confiança cega e freqüentemente pueril nas manifestações do mundo invisível, fazendo aceitar muito facilmente e sem controle aquilo que a reflexão e o exame demonstrariam ser absurdo ou impossível, pois o entusiasmo não esclarece, ofusca. Esta espécie de adeptos é mais nociva do que útil a causa do Espiritismo. São os menos capazes de convencer, porque se desconfia com razão do seu julgamento. São enganados facilmente por Espíritos mistificadores ou por pessoas que procuram explorar a sua credulidade. Se apenas eles tivessem de sofrer as conseqüências o mal seria melhor, mas o pior é que oferecem, embora sem querer, motivos aos incrédulos que mais procuram zombar do que se convencer e não deixam de imputar a todos o ridículo de alguns. Isso não é justo nem racional, sem dúvida, mas os adversários do Espiritismo, como se sabe, só reconhecem como boa a sua razão e pouco se importam de conhecer a fundo aquilo de que falam.


29) Os meios de convicção variam extremamente, segundo os indivíduos. O que persuade a uns não impressiona a outros. Se um se convence por meio de certas manifestações materiais, outro por comunicações inteligentes, a maioria é pelo raciocínio. Podemos mesmo dizer que, para a maior parte dos que não estão em condições de apreciá-los pelo raciocínio, os fenômenos materiais são de pouca significação. Quanto mais extraordinários são esses fenômenos, afastando-se bastante das leis conhecidas, maior oposição encontram. E isso por um motivo muito simples: é que somos naturalmente levados a duvidar daquilo que não tem uma sansão racional. Cada qual o encara a seu modo e dá sua explicação particular: o materialista descobre uma causa física ou uma trapaça; o ignorante e o supersticioso, uma causa diabólica ou sobrenatural. Entretanto, uma explicação antecipada tem o efeito de destruir as idéias preconcebidas e mostrar, se não a realidade, pelo menos a possibilidade do fato. Compreende-se antes de ver, pois desde que aceitamos a possibilidade, três quartos da convicção foram realizados.

30. Será útil procurar convencer um incrédulo obstinado? Já dissemos que isso depende das causas e da natureza da sua incredulidade. Muitas vezes, nossa insistência em persuadi-lo o leva a crer na sua importância pessoal, que é uma razão para mais se obstinar. Aquele que não se convence pelo raciocínio nem pelos fatos, deve ainda sofrer a prova da incredulidade. Devemos deixar à Providência o cuidado de encaminhá-lo a circunstâncias mais favoráveis. Há muita gente que só deseja receber a luz, para estarmos perdendo tempo com os que a repelem. Dirigi-vos, pois, aos homens de boa vontade, cujo número é maior do que se pensa, e o exemplo destes, multiplicando-se, vencerá mais facilmente as resistências do que as palavras. Ao verdadeiro espírita nunca faltará oportunidade de fazer o bem. Há corações aflitos a aliviar, consolações a dispensar, desesperos a acalmar, reformas morais a operar. Essa é a sua missão e nela encontrará a verdadeira satisfação. O Espiritismo impregna a atmosfera: expande-se pela própria força das circunstâncias e porque torna felizes aqueles que o professam. Quando os seus adversários sistemáticos o ouvirem ressoando ao seu redor, entre os seus próprios amigos, compreenderão o isolamento em que se encontram e serão forçados a calar ou a se renderem.

31. Para se proceder, no ensino do Espiritismo, como se faz nas ciências ordinárias, seria necessário passar em revista toda a série de fenômenos que podem produzir-se, a começar dos mais simples até chegar, sucessivamente, aos mais complicados. Ora, isso é impossível, porque não se pode fazer um curso de Espiritismo experimental como se faz um curso de Física ou de Química. Nas Ciências Naturais opera-se sobre a matéria bruta, que se manipula a vontade e quase sempre se consegue determinar os efeitos. No Espiritismo, tem-se de lidar com inteligências dotadas de liberdade e que provam, a cada instante, não estarem sujeitas aos nossos caprichos. É necessário, pois observar, esperar os resultados e colhê-los na ocorrência.

Por isso declaramos energicamente que: todo aquele que se vangloriar de obtê-los à vontade não passa de ignorante ou impostor. Eis porque o verdadeiro Espiritismo jamais servirá para exibições nem subirá jamais aos palcos. É mesmo ilógico supor que os Espíritos se entreguem a exibições e se submetam à pesquisa como objetos de curiosidade. Os fenômenos, por isso mesmo, podem não ocorrer quando mais os desejamos ou apresentar-se de maneira muito diversa da que pretendíamos. Acrescentemos ainda que, para obtê-los, necessitamos de pessoas dotadas de faculdades especiais, que variam ao infinito, segundo a aptidão de cada indivíduo. Ora, sendo extremamente raro que uma mesma pessoa tenha todas as aptidões, a dificuldade aumenta, pois, seria necessário dispormos sempre de uma verdadeira coleção de médiuns, o que não é possível.

É muito simples o meio de evitar estes inconvenientes. Basta começar pela teoria. Nela, todos os fenômenos são passados em revista, são explicados e se pode conhecê-los e compreender a sua possibilidade, as condições em que podem ser produzidos e os obstáculos que podem encontrar. Dessa maneira, qualquer que seja a ordem em que as circunstâncias nos fizerem vê-los, nada terão que possa surpreender-nos. E há ainda outra vantagem: a de evitar muitas decepções ao experimentador. Prevenido quanto às dificuldades, pode manter-se vigilante e poupar-se das experiências à própria custa.

Desde que nos ocupamos de Espiritismo foram tantas as pessoas que nos acompanharam, que seria difícil presenciar o seu número. Entre elas, quantas permaneceram indiferentes ou incrédulas diante dos fatos mais evidentes, só se convencendo mais tarde através de uma explicação racional. Quantas outras foram predispostas a aceitar por meio do raciocínio; e quantas, afinal, acreditaram sem nada terem visto, levados unicamente pela compreensão. Falamos, portanto, por experiência, e por isso afirmamos que o melhor método de ensino espírita é o que se dirige à razão e não aos olhos. É o que seguimos em nossas lições, do que só temos que nos felicitar.(2)

32. O estudo prévio da teoria tem ainda a vantagem de mostrar imediatamente a grandeza do objetivo e o alcance desta Ciência. Aquele que se inicia vendo uma mesa girar ou bater pode inclinar-se à zombaria, porque dificilmente imaginaria que de uma mesa possa sair uma doutrina regeneradora da Humanidade. Acentuamos sempre que os que crêem sem ter visto, porque leram e compreenderam, ao invés de superficiais são os mais ponderados. Ligando-se mais ao fundo que à forma, o aspecto filosófico é para eles o principal, e os fenômenos propriamente ditos são apenas o acessório. Chegam mesmo a dizer que se os fenômenos não existissem, nem por isso a filosofia deixaria de ser a única que resolve tantos problemas até hoje insolúveis; a única que oferece ao passado e ao futuro humano a teoria mais racional. Preferem, assim, uma doutrina que realmente explica, aquelas que nada explicam ou que explicam mal. Quem refletir a respeito compreenderá claramente que se pode fazer abstração das manifestações, sem que a doutrina tenha por isso de desaparecer. As manifestações corroboram, a confirmam, mas não constituem um fundamento essencial. O observador sério não as repele, mas espera as circunstâncias favoráveis para observá-las. A prova disso é que antes de ouvirem falar das manifestações muitas pessoas tiveram a intuição dessa doutrina, que veio apenas corporificar num conjunto as suas idéias.

33. Aliás, não seria certo dizer que, aos que começam pela teoria, faltem às observações práticas. Eles as possuem, pelo contrário, e certamente mais valiosas aos seus olhos que as produzidas nas experiências: são os fatos numerosos de manifestações espontâneas, de que trataremos nos capítulos seguintes. São poucas as pessoas que não as conhecem, ao menos por ouvir dizer, e muitas as que as obtiveram, sem prestar-lhes a devida atenção. A teoria vem dar-lhes explicação, e consideramos esses fatos de grande importância, quando se apóiam em testemunhos irrecusáveis, porque não se pode atribuir-lhes qualquer preparação ou conivência. Se os fenômenos provocados não existissem, nem por isso os espontâneos deixariam de existir, e se o Espiritismo só servisse para lhes dar uma explicação racional, isto já seria bastante. Assim, a maioria dos que lêem previamente referem os princípios a esses fatos, que são para eles uma confirmação da teoria.

34. Seria absurdo supor que aconselhamos a negligenciar os fatos, pois foi pelos fatos que chegamos à teoria. É verdade que isso nos custou um trabalho assíduo de muitos anos e milhares de observações. Mas desde que

os fatos nos serviram e servem diariamente, seríamos incoerentes se lhes contestássemos a importância, sobretudo agora que fazemos um livro para ensinar como conhecê-los. Sustentamos apenas que, sem o raciocínio, eles não bastam para levar á convicção. Que uma explicação prévia, afastando as prevenções e mostrando que eles não são absurdos, predispõe a aceitá-los.

Isso é tão certo que, de dez pessoas estranhas ao assunto, que assistam a uma sessão de experimentação, das mais satisfatórias para os adeptos, nove sairão sem convencer-se, e algumas delas ainda mais incrédulas do que antes, porque as experiências não corresponderam ao que esperavam. Acontecerá o contrário com as que puderam informar-se dos fatos por um conhecimento teórico antecipado. Para estas, esse conhecimento servirá de controle e nada as surpreenderá, nem mesmo o insucesso, pois saberão em que condições os fatos se produzem e que não se lhes deve pedir o que eles não podem dar. A compreensão prévia dos fatos torna-as capazes de perceber todas as dificuldades, mas também de captar uma infinidade de pormenores, de nuanças quase sempre muito sutis, que serão para elas elementos de convicção que escapam ao observador ignorante. São esses os motivos que nos levam a só admitir em nossas sessões experimentais pessoas suficientemente preparadas para compreender o que se passa, pois sabemos que as outras perderiam o seu tempo ou nos fariam perder o nosso.

35. Para aqueles que desejarem adquirir esses conhecimentos preliminares através das nossas obras, aconselhamos a seguinte ordem:


1º) O que é o Espiritismo: Esta brochura, de apenas uma centena de páginas, apresenta uma exposição sumária dos princípios da Doutrina Espírita, uma visão geral que permite abranger o conjunto num quadro restrito। Em poucas palavras se percebe o seu objetivo e se pode julgar o seu alcance. Além disso, apresenta as principais perguntas ou objeções que as pessoas novatas costumam fazer. Essa primeira leitura, que exige pouco tempo, é uma introdução que facilita o estudo mais profundo.(3)







2º) O Livro dos Espíritos: contém a doutrina completa ditada pelos Espíritos, com toda a sua Filosofia e todas as suas conseqüências मोर
ais। É o destino do homem desvelado, a iniciação ao conhecimento da natureza dos Espíritos e os mistérios da vida de além túmulo. Lendo-o, compreende-se que o Espiritismo tem um objetivo sério e não é um passatempo frívolo.













3º) O Livros dos Médiuns: Destinado a orientar na prática दस
manifestações, proporcionando o conhecimento dos meios mais apropriados de nos comunicarmos com os EspíritosÉ um guia para os médiuns e para os evocadores e o complemento de O Livro dos Espíritos.


4º) A Revista Espírita: Uma variada coletânea de fatos, de explicações teóricas e de trechos destacados que completam a exposição das duas obras precedentes, e que representa de alguma maneira a sua aplicação. Sua leitura pode ser feita ao mesmo tempo em que a daquelas obras, mas será mais proveitosa e mais compreensível sobretudo após a de O Livro dos Espíritos.

Isso no que nos concerne. Mas os que desejam conhecer completamente uma ciência devem ler necessariamente tudo o que foi escrito a respeito, ou pelo menos o principal, não se limitando a um único autor. Devem mesmo ler os prós e os contras, as críticas e as apologias, iniciarem-se nos diferentes sistemas a fim de poder julgar pela comparação.

Neste particular, não indicamos nem criticamos nenhuma obra, pois não queremos influir em nada na opinião que se possa formar. Levando nossa pedra ao edifício, tomamos apenas o nosso lugar. Não nos cabe ser ao mesmo tempo juiz e parte e não temos a pretensão ridícula de ser o único a dispensar a luz.

Cabe ao leitor separar o bom do mau, o verdadeiro do falso.(4)

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(1) Sendo o Espiritismo uma doutrina eminentemente cristã, essa designação de espírita cristão pode parecer redundante. Por outro lado, poderia sugerir a existência de uma forma de Espiritismo não cristão, que na verdade não existe Kardec a emprega, porém, como designação do verdadeiro espírita, para distinguir estes daqueles que não seguem, como se vê acima, os princípios do Espiritismo (N. do T.)

(2)
Ao pé da página, Kardec acrescentou esta nota: “Nosso ensino teórico e prático é sempre gratuito”. Com isso, evitava interpretações maldosas e dava o exemplo que foi sempre seguido pelos espíritas responsáveis em todo o mundo. O verdadeiro ensino espírita é sempre gratuito (N. do T.)

(3) Apesar de já estarmos há mais de cem anos do lançamento desse pequeno livro, ele se conserva oportuno e até mesmo de leitura obrigatória para principiantes. E podemos acrescentar que mesmo os adeptos mais experimentados deviam relê-lo de vez em quando. (N. do T.)

(4) A conhecida modéstia de Kardec, bem demonstrada nestas palavras, leva algumas pessoas a não reconhecerem o valor fundamental da sua obra, que aliás não é apenas dele, mas principalmente dos Espíritos Superiores. Essa atitude, entretanto, reforça ainda mais a sua posição de Codificador, pois os verdadeiros missionários não se arrogam superioridade e os verdadeiros mestres querem, antes de mais nada, o desenvolvimento da compreensão própria e da capacidade de discernimento dos discípulos. (N.doT.)

A História do Café da Manhã