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sábado, 5 de junho de 2010

A fatalidade e os pressentimentos



Revista Espírita, março de 1858

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A fatalidade e os pressentimentos

INSTRUÇÕES DADAS POR SÃO LUÍS
Um dos nossos correspondentes nos escreveu o que segue:
"No mês de setembro último, uma embarcação leve, fazendo a travessia de Dunkerque à Ostende, foi surpreendida por um tempo agitado e pela noite; o barquinho soçobra, e das oito pessoas que o tripulavam, quatro perecem; as outras quatro, entre as quais me encontrava, conseguiram se manter sobre a quilha. Permanecemos toda a noite nessa horrível posição, sem outra perspectiva do que a morte, que nos parecia inevitável e da qual experimentamos todas as angústias. Ao amanhecer, tendo o vento nos levado à costa, pudemos ganhar a terra a nado.

"Por que nesse perigo, igual para todos, só quatro pessoas sucumbiram? Anotai que, por minha parte, é a sexta ou sétima vez que escapo de um perigo tão iminente, e quase nas mesmas circunstâncias. Sou verdadeiramente levado a crer que mão invisível me protege.
Que fiz para isso? Não sei muito; sou sem importância e sem utilidade neste mundo, e não me gabo de valer mais do que os outros; longe disso: havia, entre as vítimas do acidente, um digno eclesiástico, modelo de virtudes evangélicas, e uma venerável irmã de São Vicentede Paulo, que iam cumprir uma santa missão de caridade cristã.

A fatalidade me parece ter um grande papel no meu destino.
Os Espíritos, nela não estariam para alguma coisa?
Seria possível ter, por eles, uma explicação a esse respeito, perguntando-lhes, por exemplo, se são eles que provocam ou afastam os perigos que nos ameaçam?-" Conforme o desejo de nosso correspondente, dirigimos as perguntas seguintes ao Espírito de São Luís que gosta de se comunicar conosco todas as vezes que há uma instrução útil para dar.

1. Quando um perigo iminente ameaça alguém, é um Espírito que dirige o perigo, e quando dele escapa, é um outro Espírito que o afasta?

Resp. Quando um Espírito se encarna, escolhe uma prova; escolhendo-a se faz uma espécie de destino, que não pode mais conjurar, uma vez que a ele está submetido; falo de provas físicas. Conservando o Espírito no seu livre arbítrio, sobre o bem e o mal, é sempre o senhor para suportar ou repelir a prova; um bom Espírito, vendo-o enfraquecer, pode vir em sua ajuda, mas não pode influir, sobre ele, de maneira a dominar a sua vontade. Um Espírito mau, quer dizer, inferior, mostrando-lhe, exagerando-lhe um perigo físico, pode abalá-lo e amedrontá-lo, mas, a vontade do Espírito encarnado não fica menos livre de todo entrave.

2. Quando um homem está no ponto de perecer por acidente, me parece que o livre arbítrio nisso não vale nada. Pergunto, pois, se é um mau Espírito que provoca esse acidente, que dele é, de algum modo, o agente; e, no caso em que se livra do perigo, se um bom Espírito veio em sua ajuda.

Resp. O bom Espírito ou o mau Espírito não pode senão sugerir bons ou maus pensamentos, segundo a sua natureza. O acidente está marcado no destino do homem. Quando a tua vida é posta em perigo, trata-se de uma advertência que tu mesmo a desejaste, a fim de te desviares do mal e de te tomares melhor. Quando tu escapas desse perigo, ainda sob ainfluência do perigo que correste, pensas mais ou menos fortemente, segundo a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos, em te tomares melhor. O mau Espírito sobrevindo (digo mau subentendendo que o mal ainda está nele), pensas que escaparás do mesmo modo de outros perigos e deixas, de novo, tuas paixões se desencadearem.

3. A fatalidade que parece presidir aos destinos materiais de nossas vidas seria, pois, ainda o efeito do nosso livre arbítrio?

Resp. Tu mesmo escolheste tua prova: quanto mais ela é rude, melhor tu a suportes, mais tu te elevas. Aqueles que passam sua vida em abundância e na felicidade humana, são Espíritos frouxos que permanecem estacionários. Assim, o número dos infortunados sobrepuja em muito o dos felizes desse mundo, tendo em vista que os Espíritos procuram, em maior parte, a prova que lhes será a mais frutífera. Eles vêem muito bem a futilidade de vossas grandezas e de vossas alegrias. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada, não seria isso senão pela ausência da dor.

4. Compreendemos perfeitamente essa doutrina, mas isso não nos explica se certos Espíritos têm uma ação direta sobre a causa material do acidente. Suponhamos que no momento em que um homem passa sobre uma ponte, essa ponte se desmorona. Que impeliu o homem a passar nessa ponte?

Resp. Quando um homem passa sobre uma ponte que deve se romper, não é um Espírito que
o conduz a passar nessa ponte, é o instinto do seu destino que para lá o leva.

5. O que fez desmoronar a ponte?

Resp. As circunstâncias naturais. A matéria tem nelas suas causas de destruição. No caso do qual se trata o Espírito, tendo necessidade de recorrer a um elemento estranho à sua natureza para mover as forcas naturais, recorrerá antes à intuição espiritual. Assim tal ponte adiante se rompe, a água tendo desconjuntado as pedras que a compõe, a ferrugem tendo corroído a corrente que a suspenda, o Espírito, digo eu, ensinará antes ao homem para que passe por essa ponte do que fazer romper uma outra sob seus passos. Aliás, tendes uma prova material do que eu adianto: qualquer acidente que chegue sempre naturalmente, quer dizer, de causas que se ligam umas as outras, e se conduzem insensivelmente.

6. Tomemos um outro caso no qual a destruição da matéria não seja a causa do acidente.
Um homem mal intencionado atira sobre mim, a bala me roça, não me atinge। Um Espírito benevolente pode tê-la desviado?

Resp. Não.

7. Os Espíritos podem nos advertir diretamente de um perigo?

Eis um fato que parece confirmá-lo: uma mulher saía de sua casa e seguia pelo boulevar. Uma voz íntima lhe diz: Vai-te; retorna para tua casa. Ela hesita. A mesma voz se faz ouvir várias vezes; então, ela volta sobre seus passos; mas, reconsiderando-se, ela se diz: que vou fazer em minha casa? Dela saí; é sem dúvida um efeito de minha imaginação. Então, ela continua o seu caminho.
A alguns passos dali, uma viga que se soltou de uma casa, atinge-lhe a cabeça e a derruba inconsciente. Qual era essa voz? Não foi um pressentimento do que ia acontecer a essa mulher?

Resp. A do instinto; aliás, nenhum pressentimento tem tais caracteres: sempre são vagos.

8. Que entendeis pela voz do instinto?
Resp. Entendo que o Espírito, antes de se encarnar, tem conhecimento de todas as fases de sua existência; quando estas têm um caráter saliente, delas conserva uma espécie de impressão no foro íntimo, e essa impressão, despertando quando o momento se aproxima, torna-se pressentimento.

Nota. As explicações acima reportam-se à fatalidade dos acontecimentos materiais. A fatalidade morai está tratada, de modo completo, em O Livro dos Espíritos.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

ESTUDO (Sobre o perispirito 3ºparte)




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AUTOR:Carlos de Brito Imbassahy
Nascido à 09/10/1931, na cidade Niterói (RJ), filho do saudoso confrade Carlos Imbassahy; conferencista e escritor, espírita; bacharel em Ciências Exatas, Filosofia, Engenharia Civil, Composição e Instrumentação (Música) e Jornalismo; professor de Física, Analítica Vetorial e Mecânica Quântica; redator e cronista do Diário do Comércio (RJ); membro do corpo de redação da Ediouro; com inúmeros livros publicados, dentre eles, "A Rainha Reencarnada", "Lendas de Osíris", "As Aparições e os Fantasmas", "A Bioenergia no Campo do Espírito", "Nos Domínios da Alma", etc...; autor da comédia "Vida de Professor", primeiro lugar no Prêmio Sintrasef de Teatro; autor de inúmeros artigos e crônicas, publicados em diversos jornais.

Com a evolução dos conceitos científicos, é preciso que os escritores e estudiosos espíritas que se dedicam à pesquisa do perispírito também atualizem os conhecimentos, baseando-se nas provas experimentais já obtidas a respeito do assunto.

1. Considerações Iniciais
Perispírito é um neologismo promíscuo criado por Allan Kardec para definir, segundo esclarecimentos de Entidades espirituais, o campo envoltório do Espírito.

A grande maioria dos dicionários não o registra. Vamos, todavia, encontrá-lo no Houaiss, considerado o mais completo de todos, embora não dê a origem do termo. Promíscuo porque usa o prefixo grego peri (em torno de) e o termo latino spiritus, da quarta declinação e que, segundo Cícero, define o hálito, e aparece em Virgílio como princípio de vida, dando-nos posteriormente o conceito religioso que hoje o define.

Para Houaiss, perispírito simplesmente seria o invólucro fluido que serve de ligação entre o corpo e o espírito (sic).

Kardec quis evitar um termo agressivo, como seria "circunspírito", puramente latino, ou "perispsiquê", só com formação grega. Era-lhe um direito que o usou.

Evidentemente, os etimólogos, os puristas e ortoépicos da linguagem, os gramáticos, enfim, não são obrigados a dominar os conceitos científicos em toda sua plenitude, valendo-se simplesmente das idéias simplistas dos termos correlatos e conceitos que envolvam a fenomenologia específica de qualquer área científica.

Todo conceito espírita de Kardec data do início da segunda metade do século 19, já que ele veio a falecer em 1869, e seus estudos sobre os aludidos fenômenos espíritas datam da década de 1850 em diante.

Naquela época, a ciência ainda era incipiente na grande maioria dos fenômenos atualmente conhecidos, e insipiente na terminologia deles, por falta do conhecimento dos mesmos.
Como tal, tinha-se como fluido tudo o que não fosse sólido: como a energia elétrica, enfim, todo tipo que transcendesse às formas. Portanto, era chamado de fluido o conceito espiritual que representasse qualquer tipo ou natureza de algo que não fosse sólido.

Hoje, a conceituação mudou, porque, de fato, se considerarmos _ como o é - fluido uma fase material não sólida, não podemos incluir nela aquilo que não seja fase material e considerar como sendo fluido. É o caso da energia elétrica que, na época de Kardec, se chamava de fluido elétrico, embora não o fosse; ou seja, não pertencia à fase material das substâncias não sólidas.

Todavia, basta trocarmos o termo "fluido" por energia e se torna possível manter toda a conceituação kardequiana. Afinal, atualmente, fluidos são simplesmente os gases e os líquidos. Se insistirmos em conceitos desatualizados, jamais conseguiremos influenciar os cientistas em nossos estudos. Ou nos atualizamos com seus conceitos ou seremos banidos.

O que não se pode confundir é o conceito de que os campos energéticos continuem sendo chamados de fluídicos.

Infelizmente, em nome da pureza doutrinária, muitos são os que teimam em manter os conceitos arcaicos da época de Kardec, julgando-os perfeitos, esquecendo-se de que a ciência se adapta às novas descobertas e aos novos conceitos. Temos que nos atualizar nesse item: usar a nova linguagem para definir os antigos conceitos. E foi o próprio Kardec quem determinou que a doutrina por ele codificada devesse se atualizar com os novos conhecimentos científicos.

O fato é que, quem atualmente insistir em chamar o perispírito de fluido envoltório do Espírito, corpo fluídico ou o que o valha, usando esse conceito arcaico e, portanto, ultrapassado, não vai estar coerente, com a linguagem atual que, como tal, não poderá ser aceita pela comunidade científica, que exige a atualização conceitual. Ou nos conscientizamos que temos de nos atualizar na linguagem, ou vamos ser considerados como dogmáticos que querem impor conceitos contrários à verdade conhecida.
2. Estudos Empíricos Iniciais
Infelizmente é que, na atualidade, uma porção de autores e interpretadores de textos mediúnicos se arvora em escrever sobre o assunto, confiando exclusivamente em tais mensagens, desconhecendo por inteiro as provas experimentais que já foram obtidas a respeito desse campo, demonstrando fé apenas em declarações inteiramente sem propósito de Espíritos que não têm o mínimo saber sobre o assunto. Se é que as mensagens sejam, de fato, de tais Espíritos.

O início dos estudos relativos ao perispírito foi deflagrado quando informaram sua existência a Kardec, definindo-o como sendo o elo de ligação entre o corpo material e o Espírito encarnante. Kardec foi conciso e definitivo em sua conceituação, embora cingido aos conceitos científicos da sua época.

Naquela época, a ciência tinha a molécula como indivisível, a eletricidade - como todo outro e qualquer tipo de energia - era tida como fluido; não se sabia que uma fonte de energia era capaz de criar um campo em seu entorno, muito menos que tais fontes existissem de forma atuante. O magnetismo dos ímãs era tido como sendo uma particularidade ou peculiaridade de algumas pedras oxi-ferrosas chamadas de magnetita, cujo nome advém da região Magnésia, na Tessália, Grécia, onde primeiramente foram encontradas tais pedras. E também chamada de fluido magnético; portanto, a generalidade advinha da falta de conhecimento. Atualmente, temos que nos identificar com os verdadeiros conceitos.

Como tal, ao definir o perispírito, Kardec não poderia ir além do que foi. Por isso é que os estudos relativos ao perispíritos acabaram sendo configurados pelas obras de Gabriel Delanne, contidas em três títulos fundamentais: O Espiritismo Perante a Ciência, A Alma É imortal e A Evolução Anímica, nem todas traduzidas para nosso idioma. Evidentemente, nada escrito naquele século poderá conter conceitos atualizados porque, no século seguinte, toda essa conceituação sofreu mudança tão radical que se torna preciso reformular as postuladas por Kardec, em questão de termos, e não de preceitos fundamentais.

Seria perda de tempo ficar fazendo considerações a respeito desses conceitos desatualizados. Por isso, passemos aos estudos efetivos correlatos com o Perispírito.

Os primeiros resultados experimentais correlatos com o perispírito são devidos a Cromwell Varley, engenheiro eletrônico assistente de Williams Crookes nas pesquisas correlatas com a existência dos fantasmas que foram feitas por uma equipe de sábios convocada pela rainha da Inglaterra.

Cromwell Edington Fleetwood Varley se tornara famoso porque construíra o primeiro cabo submarino de telefonia entre os Estados Unidos e a Inglaterra; havia ainda adaptado o motor de Weetstone à corrente contínua para a corrente elétrica alterna (usual). Fora convocado para preparar o sistema eletrônico de controle que serviria de verificação dos fenômenos realizados para estudo da comissão presidida por Crookes.

Foi exatamente este engenheiro eletrônico que a London's Dialectical Society convocou para prestar esclarecimentos relativos aos estudos e pesquisas da referida comissão em pesquisas para provar a "inexistência" do fantasma. Alguns depoimentos foram prestados entre 1890 e 1892, os quais Monsieur Dussard encerrou numa obra em 1905, editada pela Leimarie, em Paris.

A primeira conclusão óbvia que pode ser tirada de tais depoimentos é a de que, para se materializar, o Espírito põe em jogo um campo energético possivelmente envoltório de sua existência espiritual. Rigorosamente como diz Kardec. E mais: esse campo poderia ser detectado por um fonte de energia catódica de uma célula fotoelétrica construída por Varley.

Essas experiências foram realizadas entre 1888 e 1894, ou seja, após o desencarne de Kardec, e jamais poderiam ter sido de seu conhecimento.

Para controle do fenômeno, Varley havia montado, na porta de acesso à cabine onde ficava o médium - inicialmente Dunglas Home e, posteriormente, Florence Cook -, um sistema eletrônico que não permitisse que alguém por ali passasse sem que fosse registrado tal fato. Estava criada a primeira célula foto eletrônica de controle, semelhante às que existem nas portas dos elevadores.

Varley verificou que, quando alguém ou algum corpo sólido passava, a corrente eletrônica da sua célula era interrompida; por isso, seria fácil comprovar se alguém entrasse ou se o médium saísse da cabine. Todavia, quando era uma Entidade espiritual, isso não ocorria, mas o fluxo de emissão da célula era modulado pelo campo de energia do Espírito, provando que este possuía um "envoltório" capaz de impressionar as fontes de energia de OEM (ondas eletromagnéticas) das ditas emissões catódicas de sua foto-célula.

Por que não admitir que esse envoltório seja o perispírito anunciado nas obras de Kardec? Suas coincidências são enormes. E suas propriedades são as de um campo de energia atuante, todavia, induzido por uma fonte que não pôde ser especificada como sendo de origem física. De fato, sendo espiritual, terá outra procedência.

Esse campo energético, sem dúvida, fora detectado; restava provar que era o aludido perispírito, coisa que os ingleses não tiveram a menor preocupação de verificar.

3. Pesquisas Científicas Laicas
Está claro que, como Kardec assimilou o Espiritismo aos ensinos religiosos cristãos, os cientistas passaram a não mais lhe dar crédito porque, sem dúvida, com os cânones evangélicos e os dogmas teológicos, o Cristianismo era tido como inimigo do progresso científico - não apenas em decorrência da Santa Inquisição que queimara uma série de pesquisadores sérios, como ainda pelo lado fanático religioso de seus adeptos, principalmente dos impositores, que eram os sacerdotes da Igreja, contrários às conclusões científicas que negavam suas afirmativas religiosas.

Além do geocentrismo conivente com as Santas Escrituras, outros dogmas evangélicos se interpunham entre as verdades científicas e os postulados considerados divinos nos quais, segundo os conceitos cristãos, Deus dispunha a seu bel-prazer de tudo o que existisse.

Contudo, nenhuma circunstância demonstrava a existência desse Deus religioso de qualquer natureza, tido exclusivamente como uma necessidade do povo para crer em algo que pudesse servir de apoio à sua existência.

Por parte do Cristianismo, tinha-se um Deus absurdo, onipotente, onisciente, todo-poderoso, responsável por tudo; todavia, incoerente com a verdadeira existência humana cheia de inequívocos incidentes que provavam que, ou Deus não era perfeito, ou não seria magnânimo, misericordioso, diante do que realmente existe no mundo. Enfim, os contrastes existentes entre os predicados divinos e a existência real eram tantos que, ou o Deus cristão seria uma farsa, ou não tinha nenhum valor científico.

Todas essas incoerências só eram admitidas como tabus, ou seja, dogmas religiosos aos quais não convinha nenhuma análise porque seriam recusadas pela mais comezinha análise de sua existência.

Pouco se sabia sobre o universo: tinham-no como infinito e, como tal, Deus teria que estar contido nele; neste caso, Ele passaria a ser um de seus elementos e não seu Criador. A outra hipótese seria a de que o universo estaria contido em Deus e, como tal, Ele não poderia ser esta figura antropomórfica idealizada pelos sacerdotes em tela. O universo é que espelharia, como conteúdo, seu continente e, neste caso, Deus não teria imagem, muito menos semelhança com a criatura humana, restrita à existência na Terra e por ela adstrita.

Com a evolução das novas descobertas, esse aspecto cada vez mais distanciava os conhecimentos científicos dos dogmas religiosos, a ponto de não mais se admitir qualquer perspectiva de análise com relação às posturas doutrinárias de caráter místico.

Insistir em ligar a ciência a qualquer tipo de correlação religiosa, inclusive com os Evangelhos, é criar uma barreira inevitável entre quaisquer possibilidades de se ter um estudo sério sobre qualquer assunto, pois a ciência só aceita aquilo que esteja devidamente comprovado experimentalmente e equacionado pela matemática.

A própria moral científica prega a perfeição pelas leis do equilíbrio universal, enquanto a religiosa admite que seus princípios é que devem ser seguidos pelos fiéis, embora incoerentes com as leis que regem o universo.

Toda essa incoerência torna impossível a coexistência pacífica entre os conceitos existentes, quer de origem científica, quer de origem religiosa.

4. Breve Histórico
Façamos um ligeiro resumo dos estudos que já fiz relativos às pesquisas de campo, do campo de vida ou princípio vital da criatura humana.

Em 1945, logo após a guerra, foi publicado pela mídia européia um estudo que estaria sendo realizado por pesquisadores italianos financiados pelo regime nazista.

Esse estudo foi intitulado de "bebê de proveta" e consistia em se idealizar um processo pelo qual se poderia obter um feto numa proveta sem necessidade do útero materno. Baseava-se no argumento de que teria sido detectado um campo de energia envolvente do útero materno, que seria responsável pelo comando da fecundação. Sem esse campo, por mais sadia que fosse a mulher, ela não engravidaria, mesmo que já tivesse filhos anteriores e continuasse com o mesmo parceiro.

Esse campo detectado pelos italianos daquela época acompanhava o feto no ato do nascimento, porque desaparecia do útero materno, embora este pudesse, posteriormente, ser dotado de outro campo.

A pesquisa se resumia no fato de que se os cientistas pudessem elaborar um campo semelhante, não mais precisariam da mãe para porte do filho: bastava que dispusessem de óvulos e esperma para que a fecundação e o desenvolvimento fetal fossem feitos em provetas próprias. Terminada a guerra, o papa Pio XII proibiu a seqüência de experimentos relativos a esse estudo.

O que se poderia pressupor é que os pesquisadores estivessem diante do campo perispiritual do candidato a nascituro. Todavia, tais estudos aí foram encerrados e não mais voltaram a ser cogitados.

A segunda etapa científica relativa à existência de um domínio externo à matéria que comande a existência universal surgiu em 1975, com os estudos de Murray Gell Mann à frente do acelerador de partículas da Stanford University.

Ele provou que, por si só, a matéria, ou melhor, a energia cósmica fundamental, jamais poderia se alterar para se tornar partículas, por mais elementares que fossem, e que o aludido Big-bang não mais poderia ser levado em conta para justificar tais transformações. Estava admitida a existência dos aludidos "agentes estruturadores" capazes de atuar sobre a dita energia cósmica e dar-lhe formas e vida. Posteriormente, esses agentes foram chamados de frameworkers.

Todavia, restava saber como tais agentes poderiam atuar sobre a energia cósmica para dar-lhe as aludidas formas. Foram as próprias pesquisas que admitiram que esses agentes pudessem atuar sobre a energia como o ímã sobre as limalhas de ferro e níquel, num fenômeno semelhante; ou seja, tais agentes possuiriam um campo de energia compatível com o sistema material, que atuaria sobre a energia da mesma forma que o campo magnético do ímã atuaria sobre as aludidas limalhas.

Não foi difícil assimilar tal hipótese às enterradas experiências italianas do bebê de proveta.

E tudo foi revolucionariamente aceito quando a Teoria de Campo tomou forma e consistência. A ciência estava coerente com a idéia de que um agente externo às energias cósmicas seria capaz de atuar sobre a mesma, modulando-a. Portanto, também era fácil admitir que tal campo fosse responsável pelo sistema biológico existente; em termos gerais, responsável pela vida em si e de forma indistinta, incluindo a humana.

Por volta dessa época, Henrique Rodrigues fora convidado por colegas e correspondentes russos para visitar aquele país e participar das experiências soviéticas correlatas com um novo estudo sobre a vida, isto é, aquilo que os russos chamavam de psicossoma ou o correspondente ao campo de existência da vida no planeta.

Mais uma vez, algo sugeriria a hipótese de estudo de Kardec correlata com a existência do perispírito.

O psicossoma, até pela origem grega do termo - psikê = alma + soma = o corpo em oposição à alma -, representa, em si, para seus pesquisadores, a alma que ocupa um corpo e dá-lhe vida ou condição de existência vital.

A importância de tais pesquisas reside no fato de que uma sociedade materialista por excelência foi obrigada a se curvar ante a existência de um elemento estranho à matéria (ou à energia em si) que seria responsável pela vida somática, sem o qual esta não existiria.

O conceito de alma apresenta uma diversidade enorme, desde o sopro divino até o simples campo elementar responsável pela vida. Kardec a definiu como sendo a parte do Espírito encarnada em um corpo. Por que "parte do Espírito"? Sem dúvida, analisando-se os conceitos espíritas relativos a Espírito, temos de admitir que o que se encarna por vez em cada corpo não é o Espírito em si, com toda sua plenitude, mas apenas uma parte dele.

Senão, vejamos. Dentro dos princípios da codificação, o Espírito tem condições simultâneas de nascer como homem ou como mulher; e tem necessidade, para sua evolução, de saber viver em ambas as condições. Por si só isso significa dizer que, quando nasce em um determinado corpo, não põe em jogo suas ditas "linhas de força" correspondentes ao sexo oposto, embora nem sempre ponha em jogo a personalidade correspondente, o que justificaria a formação dos homossexuais que têm um corpo e o comportamento do sexo oposto.

Isso só bastaria para provar que o Espírito só põe em jogo, durante cada encarnação, uma parte de si e não seu todo; assim, a alma é esta parte, segundo Kardec.

Há outras considerações de análise que poderiam ser usadas para mostrar que o Espírito não põe em jogo toda sua plenitude, e uma delas é o "inconsciente" ou memória plena de todas as suas existências, que só entra na consciência do encarnado em alguns casos de transes psíquicos, nos quais ele pode identificar até existências de vidas pretéritas, pela regressão da memória.

A última série de pesquisas importantes para o conceito perispiritual advém da Suécia e mereceu o nome de "pesagem da alma", e que levou Harold Saxton Burr às suas conclusões num trabalho que intitulou Life's Fie/d. Este é baseado naquele e, embora não o cite, tem rigorosamente a mesma conotação.

Os suecos, impressionados com o registro por aparelhos da existência do aludido "campo de vida" que eles chamam de alma, partiram para um estudo mais sério com uma aparelhagem, sem dúvida, altamente sofisticada e que corresponde àqueles aparelhos existentes nas salas cirúrgicas e nas CTI ou UTI dos hospitais, que registram o dito "campo de vida" do paciente. Quando este deixa de ser registrado por essa aparelhagem, os médicos concluem que o paciente faleceu.

Portanto, já é de domínio público e usual que a vida é definida por um campo cujas pesquisas, ainda incipientes, mostram que, sem o mesmo, não existe nem a vida nem suas decorrências, no caso, a personalidade. Embora as células orgânicas continuem latentes, com vida própria e existentes durante algum tempo que varia conforme o cadáver -, o que evidencia, contrariando por inteiro as teses materialistas, que estas células possam ser as responsáveis pela vida em si, já que o cadáver continua com as mesmas atuantes e, porém, sem o aludido campo registrado pela aparelhagem, sua vida dita espiritual humana inexiste de forma cabal.

Na observação de moribundos, os suecos acoplaram à aparelhagem um dinamômetro, que registrou a perda de um campo com 2,2 dag* (decagramas peso) no exato momento do trespasse. Por isso, a experiência passou a ser conhecida como "pesagem da alma".

O fato é que, independentemente de qualquer critério, a vida é definida por um campo que estrutura o feto, dando-lhe forma e existência, comanda sua vida terrena e abandona o corpo no momento da morte.

Sem dúvida, este campo foi o que Kardec, em seu estudo primitivo e sem maiores comprovações, intitulou de perispírito. Porém, infelizmente, a maioria dos militantes no movimento espírita só se preocupa com informações através de mensagens mediúnicas de Espíritos cujo conhecimento nessa área ainda é o do século passado, ignorando as novas descobertas a respeito da comprovação experimental de sua existência e que evidenciam que Kardec não se referiu a nenhum conceito arbitrário.

Finalmente, um apelo aos literatos espíritas: não escrevam sobre o que não conhecem simplesmente baseados em comunicações mediúnicas, nem sempre de origem procedente. Em certos casos, mesmo os grandes médiuns, transmitem apenas a incompetência dos Espíritos que se comunicam.

5. Conclusão
Atualmente, a ciência admite que 73% do universo sejam constituídos de algo que não seja a energia cósmica, e apenas 27% dele contenha a referida energia que, em síntese, vem a ser sua consistência, que se apresenta em diversos estados físicos, sendo que um deles é a matéria.

Um Espírito humano poderia atuar sobre as partículas orgânicas no ventre materno, dando-lhes forma estrutural.

Evidentemente, ainda não se pode caracterizar que essa parte desconhecida seja a espiritual idade, por falta de pesquisas. Todavia, uma das hipóteses atuais é que ela represente o domínio de existência dos agentes que atuam sobre a energia cósmica dando-lhe forma e vida. Seria a Espiritualidade.

E, em decorrência, para que possa atuar sobre a referida energia, como agente, o mais elementar fenômeno conhecido é o do ímã, em que um agente, que seria o dito cujo, através de seu campo energético (ou magnético), estrutura a figura que se constitui no seu espectro, formando uma figura, ao agrupar as limalhas de ferro e níquel.

Neste caso, a origem dos estruturadores seria essa parte desconhecida do universo; seus agentes teriam a condição e o poder de atuar na energia cósmica por intermédio de um campo estruturador que aglutinaria a energia dando-lhe forma. Do mesmo modo, um Espírito humano poderia atuar sobre as partículas orgânicas do ventre materno, dando-lhes forma estrutural (feto) na qual se incorporaria para lhe dar a vida.

Aí surgiria o conceito de perispírito: seria exatamente esse campo gerado pelo Espírito que induziria no ventre materno a energia capaz de estruturar o feto no qual nasceria.

Este fenômeno é perfeitamente coerente com tudo o que a ciência já registrou relativamente ao campo de vida que existe no útero, que comanda a fecundação e que nasce junto com o feto, abandonando sua posição inicial e que, posteriormente, abandona o corpo no momento da morte.

Eis, pois, o perispírito de Kardec.



FONTE: Revista Espiritismo e Ciência. Ano 4. nº46

O Perispírito



O Perispírito


Perispírito - (do grego: em torno, e do latim: Spiritus, alma, espírito) é o envoltório sutil e perene da alma, que possibilita sua interação com os meios espiritual e físico. Empregada pela primeira vez por Allan Kardec, no item 93 de “O Livro dos Espíritos”. Alma e perispírito constituem o espírito.
O homem é um ser triplo:
• Espírito;
• Perispírito
• e Corpo físico

O Espírito tira o seu invólucro semimaterial do fluido_universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando_de_um_mundo_a_outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa. Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais grosseiro.
No livro A Gênese [38 cap. XIV pág.277 it. 7 ] -Kardec explica
O perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, é um dos mais importantes produtos do fluido_cósmico; é uma condensação desse fluido e tem seu princípio de origem nesse mesmo fluido condensado e transformado em matéria tangível.
No perispírito, a transformação molecular se opera diferentemente, porquanto o fluido conserva a sua imponderabilidade e suas qualidades etéreas.
O corpo perispirítico e o corpo carnal têm pois origem no mesmo elemento primitivo; ambos são matéria, ainda que em dois estados diferentes.
Figuremos, primeiramente, o Espírito em união com o corpo.
• O Espírito é o ser principal, pois que é o ser que pensa e sobrevive.
• O corpo humano não passa de um acessório seu, de um invólucro, uma veste, que ele deixa, quando usada.
• Além desse invólucro material (corpo humano), tem o Espírito um segundo corpo, semimaterial (o perispírito), que liga o Espírito ao corpo humano.
Por ocasião da morte, o Espírito despoja-se do corpo humano, porém não do perispírito. Esse invólucro semimaterial, que tem a forma humana, constitui para o Espírito um corpo fluídico, vaporoso, mas que, pelo fato de nos ser invisível no seu estado normal, não deixa de ter algumas das propriedades da matéria.
O Espírito não é, pois, um ponto, uma abstração; é um ser limitado e circunscrito, ao qual só falta ser visível e palpável, para se assemelhar aos seres humanos.
• Por que, então, não haveria de atuar sobre a matéria?
• Por ser fluídico o seu corpo?
• Mas, onde encontra o homem os seus mais possantes motores, senão entre os mais ratificados fluidos, mesmo entre os que se consideram imponderáveis, como, por exemplo, a eletricidade?
• Não é exato que a luz, imponderável, exerce ação química sobre a matéria ponderável?
Não conhecemos a natureza_íntima_do_perispírito. Suponhamo-lo, todavia, formado de matéria elétrica, ou de outra tão sutil quanto esta: por que, quando dirigido por uma vontade, não teria propriedade idêntica à daquela matéria?

O perispírito é indestrutível como a própria alma. Nem os milhões de graus de calor dos sóis, nem os frios do espaço infinito têm ação sobre esse corpo incorruptível e espiritual. Somente a Vontade o pode modificar, não porém, mudando-lhe a substância, mas expurgando-a dos fluidos grosseiros de que se satura no começo de sua evolução. É o transmissor de nossas impressões, sensações e lembranças.
O perispírito, assinala KARDEC, "é o princípio de todas as manifestações."
Funções:

O perispírito é responsável pela interação entre espírito e matéria, ele é capaz de absorver as emanações fluídicas do ambiente passando para o espírito as sensações que são refletidas no corpo físico, podendo ser boas ou más, de acordo as suas constituições.
Nas comunicações mediúnicas ele faz o intercâmbio entre o espírito desencarnado e o médium, na seguinte ordem estabelecida conforme quadro abaixo:


1- O espírito comunicante (desencarnado) passa a mensagem ao seu perispírito.
2- O perispírito do desencarnado envia a mensagem através do pensamento para o perispírito do médium.
3- O perispírito do médium recebe a mensagem, que é enviada ao seu espírito, onde é processada, e retorna novamente ao perispírito do médium.
4- O perispírito do médium atua nos órgãos sensoriais do corpo físico, finalizando assim todo o processo da comunicação.

Constituições:
O Perispírito tem a sua origem a partir do fluído cósmico universal e é caracterizado de acordo com o fluído ambiental do mundo em que habita, o que equivale também a afirmar que conforme o espírito vai progredindo moralmente, nas várias encarnações, ele vai se tornando mais etéreo e consequentemente menos denso.
Podemos dizer que o perispírito é a identidade do espírito, ele possui individualidade própria, pois nele está o registro de todas as vivências e acompanha o espírito durante todo o seu processo evolutivo. Por ser o molde do corpo físico, ele possuí também os órgão equivalentes a esse corpo, formados por moléculas necessárias a sustentação a vida extra física, através da assimilação das energias e fluídos absorvidos.

Propriedades:
São propriedades do perispírito:

Visibilidade - pode se tornar visível através da ação mediúnica, ou seja, sempre por intermédio de um médium.

Tangibilidade - pode se tornar tangível, também por influência mediúnica nas chamadas materializações.

Penetrabilidade - pode ultrapassar qualquer obstáculo no plano físico, nenhuma matéria lhe constitui impedimento.

Transfiguração - pode mudar de aparência, assumindo por muitas vezes uma fisionomia diferente da que lhe é própria. Podemos exemplificar as manifestações em que os médiuns assumem uma aparência muito próxima ao do espírito comunicante.

Emancipação - Durante o sono ou desdobramento mediúnico ele se liberta do corpo físico, ficando assim unido a esse pelo conhecido cordão de prata.

Bicorporeidade - O perispírito do encarnado pode isolar-se momentaneamente do corpo físico, se tornar tangível e apresentar-se fisicamente em dois lugares diferentes ao mesmo tempo. Ocorre normalmente que o corpo físico nesse momento apresenta-se de forma estática.

FONTE: Livro dos Médiuns – Livro dos Espíritos

ESPIRITISMO (O que é a CEPA?)




ESPIRITISMO (O que é a CEPA?)

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• O que é a CEPA?
• Um pouco de sua história.
• As dificuldades e os avanços de seu relacionamento com os espíritas
religiosos do Brasil e de outras partes do mundo.
• A questão da atualização do espiritismo.
• Por que a CEPA não considera o espiritismo uma religião?
• Por que diz que o espiritismo não é cristão?


Entrevista
Cynthya – Este veículo da Internet, um grupo de discussão patrocinado pela CEPA, tem atraído espíritas de diferentes regiões do mundo, e especialmente do Brasil, que pouco ou nada conhecem da história e do pensamento da Confederação Espírita Pan-Americana. Eles perguntam resumidamente o que é a CEPA, qual sua história e quais seus objetivos e, muito particularmente, qual a relação histórica da CEPA com o movimento espírita brasileiro, já que só há muito pouco tempo passaram a ouvir falar nela, dentro do movimento espírita do Brasil.
Você poderia, Milton, lhes esclarecer brevemente sobre esses pontos?

Milton – Bem, a CEPA, Confederação Espírita Pan-Americana, foi fundada em 1946, em Buenos Aires, Argentina, com o objetivo de congregar o movimento espírita da América, que não tinha nenhum organismo pan-americano, com essa dimensão. Nessa época, o Brasil já contava com um movimento espírita forte, sob a coordenação da Federação Espírita Brasileira, fundada ainda nos finais do Século 19. Mas, a FEB nunca participou formalmente da CEPA, pois sempre sustentou uma visão marcadamente religiosa de espiritismo, não inteiramente coincidente com a visão científica, filosófica, sociológica, inspiradora de uma moral laica e livre-pensadora que caracterizou a CEPA desde sua fundação.

A ausência formal da FEB junto à CEPA, entretanto, não significou a ausência do Brasil na CEPA. Desde seu Congresso de fundação, intelectuais espíritas contribuíram eficazmente na formação e na trajetória da CEPA, especialmente através de uma instituição que hoje não mais existe no Brasil, que foi a Liga Espírita do Brasil. E foi exatamente no Rio de Janeiro, promovido pela Liga Espírita do Brasil, que se realizou o II Congresso Espírita Pan-Americano em 1949.

Dele participaram personalidades como Aurino Barbosa Souto, Deolindo Amorim (que foi o Secretário Geral do Congresso), Artur Lins de Vasconcellos, Carlos Imbassahy, Lauro Sales, Francisco Klörs Werneck, Campos Vegal, Leopoldo Machado e Delfino Ferreira. Este último foi eleito Presidente da CEPA no Congresso do Rio de Janeiro.

Uma das conclusões desse Congresso versou exatamente sobre a "questão religiosa", e se expressou nestes termos: "Considerando que a religião é matéria de foro íntimo, não podendo, portanto, ser determinada por normas e regras humanas; considerando que ainda não existe unanimidade quanto à maneira de interpretar o Espiritismo frente ao problema religioso, o Congresso não estabelece normas a respeito e resolve dar plena liberdade nesse sentido, afirmando, entretanto, os aspectos científico e filosófico do Espiritismo, segundo a codificação de Allan Kardec, tendo por base moral os ensinos de Jesus...".

Cynthya– Essa posição bastante plural e abrangente, ao que parece, já dissentia do posicionamento da FEB, que, a essa altura, já tinha como princípio firmemente estabelecido o chamado tríplice aspecto do espiritismo: ciência, filosofia e religião, com forte predominância desse último aspecto. Não é isso?

Milton – É verdade. Por isso, e especialmente, pela convicção assumida pela FEB, presente no livro "Brasil, Coração do Mundo e Pátria do Evangelho", de que o Brasil teria essa "missão divina" de conduzir e coordenar o movimento espírita mundial, a FEB historicamente sempre manteve um distanciamento da CEPA. Em seguida, o chamado "Pacto Áureo" (um grande movimento de unificação do movimento espírita, comandado pela FEB, e que, casualmente, foi assinado aproveitando-se a presença de lideranças espíritas no Congresso da CEPA no Rio de Janeiro, em 1949) terminou por decretar o fim da Liga Espírita Brasileira que, no processo de unificação resultou enfraquecida. Desaparecida a Liga, a CEPA restou sem base no Brasil. Apesar disso, daí por diante, a CEPA sempre buscou um relacionamento fraterno com a FEB, convidando sistematicamente seus dirigentes, que se faziam presentes à maioria dos Congressos Espíritas Pan-Americanos promovidos pela CEPA.

Cynthya– Mas, houve um esfriamento dessas relações a partir de um
determinado momento. Quando?

Milton – Bem, no início da década de 90, sob o impulso da FEB, criou- se o Conselho Espírita Internacional – CEI – que pretendeu, seguindo uma clara inspiração evangélica de nítida feição febeana, coordenar e unificar o movimento espírita internacional. A partir desse momento, explicitamente, a FEB passou a mostrar seu desagrado com a presença da CEPA no movimento. Essa situação teve seu ápice em 1994, quando a CEPA promoveu algumas ações visando concretamente criar uma base mais forte no Brasil.
Presidia então a CEPA o venezuelano Jon Aizpúrua que enviou uma circular ao movimento espírita brasileiro (que, a essa altura, muito pouco conhecia da CEPA) clarificando as posições doutrinárias, nitidamente kardecistas e livre-pensadoras da Confederação e convidando os espíritas brasileiros e suas instituições que concordassem com essas suas históricas posições a ingressassem na CEPA como instituições adesas, filiadas ou que, pessoalmente, os espíritas com essa visão se associassem à CEPA.
A FEB reagiu indignada a essa manifestação da CEPA. Em editorial publicado no Reformador de setembro de 1994 qualificou a circular da CEPA como uma tentativa de "divisão do Movimento Espírita brasileiro", representando "intervenção indevida, indigna das práticas doutrinárias, que fere os princípios éticos mais elementares de união e de fraternidade".

Cynthya– Intervenção? Divisão? Mas, sendo a CEPA um organismo pan- americano, criado com o fim específico de congregar o movimento espírita das Américas, não estaria no seu legítimo direito e até na obrigação estatutária de buscar a adesão formal de instituições espíritas em todo o Continente?

Milton - A FEB deixou claro que não via legitimidade da CEPA em atuar no Brasil, como a dizer que aqui era seu território exclusivo. Depois, em editorial ainda mais incisivo, publicado no Reformador de novembro de 1994, com o título de "O trigo e o joio" (o trigo seriam os "espíritas cristãos" e o joio os demais), assim se expressou: "Ainda há pouco o Movimento Espírita brasileiro experimentou injustificável agressão, partida de instituição que pretende liderar o movimento espírita nas Américas, mas que age de forma antiética e autoritária na defesa de interpretação restitiva da Doutrina".

Ora, é evidente que, com essas manifestações, as relações entre a CEPA e a FEB se tornaram muito delicadas. Nesse ponto, já diversas instituições espíritas estavam aderindo formalmente à CEPA e aqui se realizaria o Congresso de 2.000, em Porto Alegre, onde tive a honra de ser eleito presidente.
Com alguns meses de antecedência, o presidente da Comissão Organizadora do Congresso, Salomão Jacob Benchaya, enviou atenciosa carta ao presidente da FEB convidando-o para aquele conclave, que teria como tema central "Deve o Espiritismo Atualizar-se?". Seu presidente de então, Juvanir Borges de Sousa, respondeu a carta, agradecendo o convite, mas dizendo que a FEB não compareceria a um congresso que pretendia atualizar o Espiritismo, tarefa para a qual só teriam legitimidade, no entendimento da FEB, os "Espíritos Superiores".

Na mesma oportunidade, a Federação Espírita do Rio Grande do Sul, também convidada, reagiu ao convite com uma circular ao movimento espírita do Rio Grande do Sul recomendando que não comparecessem ao congresso.

Cynthya – Vê-se, então, que, pelo menos dois pontos ficam bem claros relativamente a divergências doutrinárias entre a FEB, e com ela o movimento espírita evangelico do Brasil, e a CEPA: 1º, a CEPA não considera o Espiritismo uma religião, diferentemente da FEB para quem o Espiritismo tem fundamentalmente um caráter religioso; 2º, a idéia da atualização, defendida pela CEPA em seus últimos eventos (Porto Alegre e São Paulo), também é rejeitado pela FEB . É isso?

Milton – Ocorre que para nós, da CEPA, não parece que essas questões sejam tão fundamentais assim que não possam ser objeto de discussão e muito menos que justifiquem a divisão dos espíritas. Veja bem, na questão de religião, Kardec foi muito claro ao explicitar que "o verdadeiro caráter do Espiritismo é de uma ciência e não de uma religião".
No seu famoso Discurso de Abertura, pronunciado no dia 1º de novembro de 1868, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Kardec admitiu que o "o Espiritismo é uma religião no sentido filosófico", para, adiante, fazer ele próprio a seguinte indagação: "Por que, então, afirmamos que o Espiritismo não é uma religião?". Seguem-se, então, argumentos muito fortes, mediante os quais Kardec enfatiza que não convém que o Espiritismo se declare uma religião.

Discorre longamente sobre o que o povo entende por religião, que não consegue dissociar de cultos, de sacerdócio organizado, de sistemas fechados de crença, coisas que o Espiritismo não tem e não é. Então, por uma questão de estratégia, e por fidelidade ao seu objeto de estudo, que se afasta do mundo fechado do fideísmo, para se inserir no campo aberto da ciência, da filosofia e da ética, Kardec recomendou que não tratássemos do Espiritismo como uma religião. Ele próprio, quando o Padre Chesnel qualificou o espiritismo como uma nova religião, protestou veemententemente dizendo ao abade que era ele, o padre, quem estava jogando o espiritismo num novo caminho, que sequer fora pensado antes pelo espiritismo.
Diante de tudo isso, a CEPA tem essa posição histórica, que é genuinamente kardecista, o que não afasta o espiritismo da moral de Jesus, reconhecido como modelo e guia da humanidade.
Mesmo assim, temos um respeito muito grande por pensadores espíritas, especialmente brasileiros, que consideram o espiritismo uma religião, mas que têm de religião um conceito filosófico, não sectário, que não diviniza Jesus e nem o coloca na posição de mito, meio deus e meio homem, como o fazem os roustainguistas. Esse conceito superior de religião é bem compreendido pela CEPA, mesmo que defenda o caráter laico do pensamento espírita, que consideramos espiritualista e não religioso. Mas, esses são detalhes conceituais, semânticos, que não chegam a ser fundamentais, embora institucionais. Atendem a uma necessidade de precisão terminológica, firmemente recomendada por Kardec.
Não são questões, porém, que nos devem separar dos outros espíritas, que têm visão diferente da nossa, mas que guardam as mesmas convicções nos pontos essenciais da doutrina espírita: existência de Deus, como inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas; imortalidade e comunicabilidade dos espíritos; pluralidade dos mundos habitados; pluralidade de vidas; lei de causa e efeito; conseqüências morais e éticas derivadas desses conhecimentos.

De nossa parte, não há nenhum impecilho ao bom relacionamento com todas as correntes espíritas, ao trabalho conjunto, respeitando o pluralismo de idéias e guardando a união e a unidade em torno do essencial. Kardec mesmo previu que o espiritismo teria essas nuanças diferenciadas, que lhe dariam perfis diversos, em diferentes partes do mundo, preservando-se a unidade em torno dos princípios basilares que, naquele mesmo discurso (Revista Espírita, dezembro 1868), ele sintetizaria no que chamou de "credo espírita".

Cynthya– E a questão da atualização do Espiritismo, bandeira ultimamente desfraldada pela CEPA que, também, gerou incompreensões e críticas de parte do movimento espírita chamado religioso ou evengélico?

Milton – Também aqui, estamos diante de um procedimento tipicamente kardeciano, expresso claramente por Kardec quando afirmou: "Marchando passo a passo com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado por ele, pois se novas descobertas lhe demonstrassem que estava errado sobre um certo ponto, ele se modificaria nesse ponto, e se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará" (A Genese).
A CEPA, desde seus primódios, também levantou a bandeira da atualização permanente. O artigo 4º do Estatuto da CEPA, que trata de seus objetivos, proclama como um deles (letra b): "Pretender a revisão periódica da doutrina, para adaptar seus postulados científicos, filosóficos e morais às exigências do momento e definir sua posição com respeito às distintas correntes do pensamento moderno, de acordo com seu caráter fundamentalmente evolucionista".

Então essa é uma vocação que se fez expressa e que se tornou programa de ação da CEPA desde seu nascimento. Nos últimos eventos da CEPA, especialmente no Congresso de 2.000 em Porto Alegre (Tema: "Deve o Espiritismo Atualizar-se?") e na Conferência de São Paulo de 2002 (Tema: "Atualizar para Permanecer"), se deu ênfase a esse caráter progressista do espiritismo, com dezenas de trabalhos que vincularam os postulados básicos espíritas a temas epistemológicos, de linguagem, de atualização científica, etc. Esse é um trabalho permanente na CEPA e que, evidentemente, não queremos que fique restrito ao âmbito da CEPA mas para o qual contamos com o apoio, a participação e a interlocução com todos os segmentos do pensamento espírita.

Cynthya– Essa parece ser uma característica muito forte da CEPA: a disposição de interlocução com as mais amplas áreas do pensamento e do movimento espírita. É uma instituição que expressa muita clareza no seu pensamento, mas que, ao mesmo tempo, se abre ao diálogo, ao pluralismo, à alteridade. É difícil manter essa política?

Milton – Não tem sido realmente muito fácil. E, no entanto, ela é sincera e muito honesta. Parte de um sentimento de muito respeito que temos por todos os segmentos do pensamento e da organização espírita. As dificuldades que acima relatamos de relacionamento com a FEB ou com outras federativas no Brasil e nos demais países da América, por exemplo, jamais partem de nós. Como não poderia deixar de ser, temos um respeito muito grande pela FEB e por todo o movimento espírita que ela coordena e lidera, não apenas no Brasil mas em todo o mundo. Sem a ação da FEB, o espiritismo não teria o significado que tem entre nós.
Não seria a expressão que é. Mas, temos uma visão diferente de alguns aspectos conceptuais e organizacionais. Diferentemente do temor às vezes expresso pelos segmentos evangélicos do espiritismo, não estamos em busca de poder. A CEPA, hoje, mais do que nunca, não se comporta como uma "confederação", em busca de adesões de federações e centros espíritas.
É, claramente, hoje, um movimento de idéias. O momento que vivemos, pensamos nós, não se compatibiliza mais com os ideais do início do século passado, onde, no movimento espírita, a palavra de ordem era "unificação". O espiritismo constituia, então, um movimento incipiente, com enorme influência religiosa, católica, e tendente a um sincretismo afro-cristão.
Eram necessárias instituições de caráter bastante normatizador, com propósitos básicos de orientação. Hoje, o espiritismo, no Brasil e na América, é um respeitável repositório de conhecimento, onde estão pensadores, intelectuais, estudiosos das mais diferentes áreas do conhecimento, conectando esses conhecimentos aos pressupostos espíritas.
Há centenas de instituições amadurecidas pelo estudo, pela pesquisa, que não cabem mais nesse modelo de subordinação a uma orientação central. Por isso, a CEPA não orienta, congrega. Estimula o estudo, a pesquisa. Promove eventos culturais: congressos, conferências, simpósios, que não são torneios de oratórias de alguns "ungidos", mas fóruns de discussão, de debate, de troca de experiência. E, assim, abandonamos, pouco a pouco, a idéia da unificação, substituindo-a por um forte sentimento de união. A união é corolário do conhecimento.
Da identidade comum, fundada nos princípios básicos que devem formar esse "laço" entre todos os espíritas. Diante disso, uma instituição que adere à CEPA não está subordinada a regramentos de obediência a normas emanadas da CEPA. É um relacionamento que se dá sob o fio condutor da identidade de pensamento. Além do mais, essas instituições podem, simultaneamente, pertencer a outros movimentos federativos. Podem estabelecer os vínculos que quiserem, com as instituições que desejarem. São, enfim, livres. Mas, têm de apresentar esse perfil genuinamente kardecista e livre-pensador.

Cynthya– Em razão desse entendimento é que a CEPA estaria por abrir mão da condição de Confederação paa assumir estatutariamente um outro nome e uma outra formatação institucional?

Milton – Bem, esse é um tema onde estamos buscando construir um consenso dentro da CEPA. O próximo Congresso da CEPA, que se realiza na cidade argentina de Rafaela, de 3 a 7 de setembro de 2004, tem na sua ordem do dia uma grande reforma estatutária. No contexto do que explicitamos acima, há uma proposta de estatuto, oferecida pelo Centro Cultural Espírita de Porto Alegre (CCEPA), que sugere que a denominação "confederação" seja substituída por um termo menos formal, que poderia ser, por exemplo, "movimento" ou "conselho", mantendo, entretanto, a denominação CEPA (termo que, inclusive, coincide, tanto em português como em espanhol, com o substantivo comum "cepa" relativo à videira, e que foi um símbolo utilizado pelos espíritos para caracterizar o espiritismo, conforme se vê nos prolegômenos de O Livro dos Espíritos").

Uma ampla consulta quefizemos a todas as instituições espíritas, com vistas à reformaestatutária, mostrou uma tendência muito ampla para um modelo organizacional mais leve, liberto de qualquer resquício de autoritarismo e contemplando mesmo essa característica de movimento de idéias, e não mais de um organismo confederativo. Mas, isso será questão a ser definida no Congresso de Rafaela. Permanecendo ou não com a denominação "confederação", o certo é que a CEPA não tem hoje mais a menor preocupação com esse objetivo de unificar o movimento espírita.

Cada vez mais, nos caracterizamos como um movimento qualificado de idéias, progressista, livre-pensador, horizontalizado, democrático, firmemente inspirado em Kardec e com uma preocupação adicional voltada à união fraterna entre todos os espíritas, mesmo que em diversificadas estruturas institucionais. União, no nosso entender, é muito mais importante que unificação. Esta última traz em seu bojo algumas pretensões de poder, de hierarquização, de hegemonia, com as quais a CEPA não tem a menor relação.

Cynthya– Por fim, Milton, há uma outra questão que, parece, assusta um pouco o movimento espírita evangélico, relativamente à CEPA. É que esta estaria procurado desvincular espiritismo de cristianismo. Fala- se que isso contraria algumas afirmaçõs do próprio Kardec. Dá para esclarecer essa divergência. Ou será que é apenas mais uma divergência meramente aparente? Enfim, o que pode haver de verdadeiro nessa afirmação de que "a CEPA quer tirar Jesus do espiritismo"?

Milton – O substantivo "cristianismo" e o adjetivo "cristão", tanto quanto outros termos que Kardec recomendou não se utilizassem, emrazão de sua dubiedade (como é o caso de religião), têm sofrido alterações nos seus signfiicados ao curso da História. Ainda no tempo de Kardec, era muito comum falar-se em "cristianismo" e em "cristão" simplesmente para designar a doutrina "do Cristo" (expressão muito usada por Kardec e os espíritos, para aludirem a Jesus). Por uma marcada influência eclesiástica no meio em que vivia Kardec, a Europa do Século 19, ainda se confundia Jesus, o homem, com Jesus Cristo, produto das crenças e dos dogmas cristãos.
Mas quando Allan Kardec fala em "espiritismo cristão" (expressão usada algumas poucas vezes em sua obra) claramente ele adjetiva o espiritismo para vinculá-lo não ao Jesus das igrejas mas ao pensamento, à moral de Jesus de Nazaré. Com relação a essa questão de fundo, não temos nenhuma objeção a fazer. A moral de Jesus é a própria moral espírita. Entretanto, na questão da forma, está na hora de fazermos reparos a essa expressão, mesmo que Kardec a tenha utilizado (há diversas expressões usadas por Kardec e que hoje estão fora de contexto).
Ao curso do Século 20 e nestes primeiros anos do Século 21, está sendo possível estabelecer a distinção entre estas duas figuras:
a) a de Jesus de Nazaré, o homem, com algumas referências históricas que estão sendo resgatadas, que nasceu da relação carnal de José e Maria, que teve irmãos e que foi um pensador fecundo, um reformador moral, e
b) a de "Jesus Cristo", que é o mito das Igrejas, aquele que "foi concebido sem pecado", filho da Virgem Maria, Deus encarnado, 3ª pessoa da Santíssima Trindade, responsável por alguns dogmas e crenças que foram tecendo essa cultura cristã que hoje já tem 2.000 de existência e que pouco tem a ver com o outro Jesus, o homem de Nazaré.
Com o primeiro personagem, o Jesus histórico, sistematizador de um código de moral que tem validade universal, coincidente com aquilo que o espiritismo chama de "lei natural", e que é divina, mas não religiosa (jamais Kardec identificou a lei natural com as leis religiosas), com esse Jesus, a CEPA concorda. Jamais pensou em retirá-lo do Espiritismo. É uma forte referência moral e ética, especialmente porque o espiritismo surgiu no seio de uma cultura onde os referenciais éticos e morais dos ensinos de Jesus nos são amplamente disponíveis e fazem parte de nosso patrimônio moral, como indivíduos e como comunidade de espíritos.
Mas, com esse Jesus Cristo, o salvador das igrejas cristãs, do cristianismo, tal qual este se tornou conhecido, com este a CEPA não concorda. E, no entanto, esse é que hoje identifica o "cristianismo real". Nas últimas décadas firmou-se muito bem o conceito de "cristão" e de "cristianismo" reais. Esse conceito foi plasmado num amplo acordo entre as igrejas, no contexto de um movimento que se chamou "ecumenismo cristão", onde foi possível estabelecer o vínculo que une os crentes nos chamados dogmas cristãos fundamentais: o da divindade de Jesus, o de sua condição de "único Senhor e Salvador", aquele que com seu "sacrifício", com o seu "derramamento de sangue", possibilitou a "salvação" dos homens que nele cressem e fossem em seu nome batizados. Queiramos ou não, nós, espíritas, é isso que identifica na cultura contemporânea o cristianismo, a condição de cristão.
Ora, evidentemente, o espiritismo está fora disso. E, por isso, não é cristão. É quase uma usurpação a uma cultura de dois mil anos, que foi construída demoradamente até se sedimentar nesses princípios, querermos, nós, que temos uma outra visão de Deus, de mundo e do próprio Jesus, nos declararmos cristãos. Por isso, os cristãos reagem, e com toda a razão, quando um espírita se diz cristão. A reação é a mesma que nós muitas vezes temos, quando um umbandista se declara espírita.

O espiritismo é uma doutrina nova. Nasceu no meio cristão. Como todo o paradigma novo, ele precisou se apoiar no paradigma antigo que ele desejou superar, para poder ser proposto. Mas, nestes 150 anos de existência, já podemos postular uma identidade própria, que não se confunde com o cristianismo, especialmente porque este, também, tomou seu próprio caminho.

Por todas essas razões, diríamos como Kardec disse em relação à religião: não convém que o espiritismo se diga cristão. Isso geraria confusão, ambigüidade, e nós precisamos ser firmes naquilo que diz com a nossa identidade.
Somos espíritas, simplesmente. E não espíritas-cristãos.

FONTE: espiritualidades.com.br/index.htm

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Yeda Crusius e suas realizações


Yeda Crusius e suas realizações

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