O crivo da razão (2º PARTE)
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Albino A. C. de Novaes
Mas se uma guerra acontecer, ela terá necessariamente causas – mesmo as mais absurdas e inaceitáveis, e se ela acontecer terá como efeito as mortes. Mas as causas dessa guerra são somente dessa guerra e de nenhuma outra. Embora se possa considerar uma causa comum – O EGOÍSMO – a causa de praticamente todas as necessidades humanas.
OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PRINCÍPIOS RACIONAIS
Há ainda a considerar algumas características importantes para os PRINCÍPIOS DA RAZÃO:
I - NÃO POSSUEM UM CONTEÚDO DETERMINADO: são apenas formas – indicam como as coisas devem ser e como devemos pensar, mas não nos dizem QUAIS AS COISAS SÃO, nem os CONTEÚDOS que devemos ou vamos pensar.
II - POSSUEM VALIDADE UNIVERSAL: onde houver RAZÃO, nos seres humanos, nas coisas, nos fatos e nos acontecimentos, em todo o tempo e em todos os lugares, tais princípios são verdadeiros e empregados por todos os seres humanos e obedecidos por todos – COISAS, FATOS e ACONTECIMENTOS.
III - SÃO NECESSÁRIOS: são indispensáveis para o pensamento e para a VONTADE, indispensáveis para AS COISAS, os FATOS e os ACONTECIMENTOS. Indicam que algo é assim e não pode ser de outra maneira. NECESSÁRIO significa: É IMPOSSÍVEL QUE NÃO SEJA DESSA MANEIRA E QUE PODE SER DE OUTRA. A idéia da RAZÃO constitui o IDEAL da RACIONALIDADE criado pela SOCIEDADE EUROPÉIA OCIDENTAL, que depois do abalo que sofreu no início do século passado, mais se aproxima do que já defendia Kardec na Codificação Espírita. Kardec antecipou os princípios que viriam a ser conclusivos em termos de racionalidade para os filósofos contemporâneos. Temos, na Ciência e na Filosofia modernas, à disposição, ferramentas intelectuais para construirmos solidamente o CONHECIMENTO ESPÍRITA. Quem não o faz, das duas uma:
1- não está atento à finalidade da vida e vive iludido pelo materialismo efêmero;
2- ignora os instrumentos intelectuais indispensáveis ao Conhecimento Espírita.
Muitos simpatizantes espíritas, advertimos, encontram-se nesta segunda alternativa e enveredam por caminhos falsos, caminhos traçados por estados mentais que se opõem aos da mais pura RAZÃO.
A Filosofia, nos dias atuais, introduziu um novo princípio da racionalidade: O PRINCÍPIO DA INDETERMINAÇÃO. Assim, o PRINCÍPIO DA RAZÃO SUFICIENTE é valido para os fenômenos menos MICROSCÓPICOS, enquanto o PRINCÍPIO DA INDETERMINAÇÃO é válido para escalas HIPERMICROSCÓPICAS. Podemos estender sua aplicação para a área da fenomenologia ESPIRITISTA.
A aceitação dos fatos não condicionados à CRÍTICA significa ENGESSAMENTO INTELECTUAL, condenado por Jesus em seu “SIM, SIM... NÃO, NÃO” ou na opção morna: “EU SEI AS TUAS OBRAS, QUE NÃO ÉS FRIO NEM QUENTE: OXALÁ FORAS FRIO OU QUENTE!”; “ASSIM PORQUE ÉS MORNO, E NÃO ÉS FRIO NEM QUENTE, VOMITAR-TE-EI DA MINHA BOCA” (Apocalipse 4:15-16).
A dificuldade em aceitarmos a CRÍTICA como COADJUVANTE no processo de CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, talvez seja decorrente da INTELIGÊNCIA HUMANA SER LENTA. Isto pode significar que passamos por um lento processo intelectual até vencermos os obstáculos pessoais e culturais e alcançarmos a EXATA COMPREENSÃO DE UMA MENSAGEM. Esta nem sempre se mostra de imediato no momento da comunicação. É necessário dispensar um espaço de tempo considerável para que possamos DECODIFICAR e ASSIMILAR o que foi revelado através de alguma forma de verbalização ou de escrita.
O TRABALHO DA CRÍTICA DO PENSAMENTO
Afirma a filósofa Marilena Chauí: “...Normalmente se imagina que a crítica permite opor um PENSAMENTO VERDADEIRO a um PENSAMENTO FALSO. Na verdade, a CRÍTICA não é isso. Não é um conjunto de conteúdos verdadeiros que se oporia a um conjunto de conteúdos falsos. A CRÍTICA É UM TRABALHO INTELECTUAL com a finalidade de EXPLICITAR o conteúdo de um pensamento qualquer, de um DISCURSO QUALQUER, para encontrar o que está sendo silenciado por um pensamento ou por esse discurso.”
“O que interessa para a crítica não é o que está EXPLICITAMENTE PENSADO ou EXPLICITAMENTE DITO e, que muitas vezes, nem sequer está sendo PENSADO DE MANEIRA CONSCIENTE. Ou seja, a tarefa da CRÍTICA é fazer o silêncio, colocar em movimento um pensamento que possa DESVENDAR todo o silêncio contido em outros pensamentos, em outros discursos.”
QUAL A FINALIDADE DE FAZER FALAR O SILÊNCIO, OU DE TORNAR EXPLÍCITO O QUE SE ENCONTRA IMPLÍCITO?
Se quando EXPLICITO um pensamento ou um discurso, fazemos aparecer tudo aquilo que estava em silêncio, tudo aquilo que estava implícito, se ao fazermos isso, o PENSAMENTO ou o DISCURSO que estamos examinando se revela INSUSTENTÁVEL, se começa a se DESMANCHAR, a se DISSOLVER e a se DESTRUIR à medida que vou EXPLICITANDO tudo o que nele havia, mas que ele não dizia, então a CRÍTICA encontrou ALGO MUITO PRECISO, encontrou a IDEOLOGIA.
A IDEOLOGIA é exatamente aquele tipo de DISCURSO, aquele tipo de PENSAMENTO que contém o SILÊNCIO que, se for dito DESTRÓI, A COERÊNCIA, a LÓGICA DA IDEOLOGIA. Deixa de ser IDEOLOGIA o discurso cujo silêncio é quebrado.
Mas esse trabalho CRÍTICO pode encontrar uma outra coisa: é perfeitamente possível fazer FALAR O SILÊNCIO de um pensamento ou de um discurso, ao EXPLICITAR o seu IMPLÍCITO, o que revela para nós UM PENSAMENTO MAIS RICO DO QUE HAVÍAMOS IMAGINADO, AINDA MAIS COERENTE DO QUE HAVÍAMOS IMAGINADO, AINDA MAIS IMPORTANTE, CAPAZ DE NOS DAR PISTAS PARA PENSAR CAMINHOS NOVOS, e que nos faz perceber mais do que parecia à primeira vista estar contido nele.
O que a CRÍTICA procura encontrar é um pensamento VERDADEIRO e, mais que um pensamento verdadeiro, procura encontrar UMA OBRA DO PENSAMENTO propriamente dita. O que diferencia uma OBRA DO PENSAMENTO de um IDEOLOGIA é o fato de que, na OBRA DE PENSAMENTO a descoberta de tudo o que estava silenciosamente contido nela, de tudo aquilo que nela pedia INTERPRETAÇÃO, de tudo aquilo que nela pedia REVELAÇÃO, EXPLICITAÇÃO, DESDOBRAMENTO, é aquilo que faz, no caso de uma IDEOLOGIA, a destruição do próprio PENSAMENTO.
Assim, a tarefa da CRÍTICA não é trazer VERDADES para se opor a FALSIDADES; mas realizar um trabalho interpretativo com relação a pensamentos e discursos dados, para EXPLICITAR o IMPLÍCITO ou fazer falar seu SILÊNCIO de tal modo que a abertura de um novo campo de pensamento, enquanto a destruição da coerência e da lógica do que foi explicitado revela que descobrimos uma IDEOLOGIA.
A CRÍTICA não é, portanto, um conjunto de verdadeiros, mas uma forma de trabalhar. A forma de um trabalho intelectual, que é o trabalho filosófico por excelência. Nesse sentido, EXLUIR A CRÍTICA DO TRABALHO ESPÍRITA É NO MÍNIMO ABOLIR O LUGAR PRIVILEGIADO DA REALIZAÇÃO DE UM TRABALHO DE CONSTRUÇÃO DO SABER ESPÍRITA. Obviamente, tem-se medo da CRÍTICA, pois se a CRÍTICA não traz conteúdos prévios, mas a descoberta de conteúdos escondidos, então ela é muito perigosa para aqueles que pretendem conservar suas IDEOLOGIAS. Quem tem algo a esconder abomina a CRÍTICA. Sem a CRÍTICA não há estudo da Codificação Espírita – ela é imprescindível ao SABER.
BIBLIOGRAFIA
Chauí, Marilena – Convite à Filosofia. 4ª edição – 1999. Editora Ática
Skinner, Burrhus Frederic – Ciência e Comportamento Humano. Tradução de João Cláudio Todorov e Rodolpho Azzi – 5ª edição – São Paulo: Martins Fontes - 1981.
Galliano, A. Guilherme – O Método Científico – Editora Harper & Row do Brasil Ltda.- 1979
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