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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cruzando Revista Espírita e Livro dos Espíritos.


Cruzando Revista Espírita e Livro dos Espíritos.

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Este estudo foi feito por Vital Cruvinel
As mais polêmicas discussões travadas no meio espírita envolvem questões relacionadas ao momento da união da alma ao corpo. Isto porque tal "detalhe" é a base de argumentação a várias questões bioéticas como o direito ao aborto ou o uso de células tronco embrionárias em pesquisas científicas.

Sabemos que o Livro dos Espíritos é a pedra angular do Espiritismo e, por isso, damos um alto valor ao que nele está escrito. E maior será esse valor quanto mais informações tivermos sobre ele.

Sobre o retorno do espírito a vida corporal e, mais especificamente, sobre a união da alma ao corpo não existem muitas respostas na primeira edição do Livro dos Espíritos. Por outro lado, elas eram objetivas e traziam muita informação.
Primeira edição
86. Em que momento a alma se une ao corpo?
"Ao nascimento."
__ Antes do nascimento a criança tem uma alma?
"Não."
__ Como vive então?
"Como as plantas."
A alma ou espírito se une ao corpo no momento em que a criança vê a luz e respira.
Antes do nascimento a criança só tem vida orgânica sem alma. Ela vive como as plantas, tendo apenas o instinto cego de conservação, comum em todos os seres vivos.

Muito provavelmente a intuição de Kardec lhe mostrava que estas respostas estariam entre aquelas que considerou como as mais espinhosas. E, como ele mesmo declara em suas anotações pessoais reproduzidas em Obras Póstumas, para estas ele aproveitava o contato com outros médiuns para confirmá-las.

Foi dessa forma que em 1858 Kardec fez de uma conversa familiar uma bela entrevista a respeito das questões que envolvem o retorno do espírito ao corpo. Esta conversa se deu com o espírito de um médico que tinha falecido há alguns meses e que havia deixado um manuscrito sobre o Magnetismo que, pensava ele, faria uma revolução na ciência.

De acordo com as respostas obtidas nesta conversa, o espírito, que não acreditava em Deus, sofria pelo mal que havia causado na Terra e esperava novas provas para a sua próxima reencarnação. Ainda assim, pela honestidade que as suas respostas aparentavam Kardec procurou extrair o melhor do que este espírito poderia oferecer.

Dentre várias perguntas interessantes que Kardec fez, uma delas é exatamente a mesma pergunta que tinha feito para a compilação da primeira edição do Livro dos Espíritos e que acabamos de observar.
Revista Espírita, março de 1858
O doutor Xavier
24. Em que momento se opera a união da alma e do corpo, na criança?
"Quando a criança respira; como se recebesse a alma com o ar exterior."

Esta resposta vem confirmar a idéia contida na primeira edição do Livro, mas, tempos depois, Kardec a abandona e escreve uma nota logo em seguida desta resposta e uma outra ao final do artigo.
Revista Espírita, março de 1858
O doutor Xavier
Nota. Essa opinião é conseqüência de dogma católico. Com efeito, a Igreja ensina que a alma não pode ser salva senão pelo batismo; ora, como a morte natural intra-uterina é muito freqüente, em que se tornaria essa alma privada, segundo ela, desse único meio de salvação, se ela existia no corpo antes do nascimento? Para ser conseqüente, seria preciso que o batismo tivesse lugar, se não de fato, pelo menos de intenção, desde o instante da concepção.

Nota. A teoria, dada por esse Espírito, sobre o instante da união da alma e do corpo, não é inteiramente exata. A união começa desde a concepção; quer dizer, desde esse momento, o Espírito, sem estar encarnado, liga-se ao corpo por um laço fluídico que vai se apertando, mais e mais, até o nascimento; a encarnação não se completa senão quando a criança respira. (Ver O Livro dos Espíritos, n 344 e seguintes.)

Vamos observar com atenção estas notas... A segunda tem uma informação importante para a sua contextualização: ela foi editada após a publicação da segunda edição do Livro dos Espíritos. Isto se vê pela indicação, no final, dos números dos diálogos relacionados ao tema e esta nota já teria sido incluída em 1861 (*).

Esta observação é importante porque demonstra a preocupação com as informações passadas nos periódicos da Revista Espírita. E também porque mostra que Kardec não se contentou com a confirmação da idéia.

Outra observação interessante a ser feita é que, pela primeira nota, vemos Kardec considerando a influência que as idéias estabelecidas podem ter sobre as comunicações quando declara que 'essa opinião é conseqüência de dogma católico'. De toda forma, Kardec compreendia que o espírito tinha uma visão limitada do processo de união e, assim, destacou que a idéia 'não é inteiramente exata'.

Dirigindo-se ao espírito, Kardec rebate a resposta anterior com uma pergunta semelhante a do diálogo 86 da primeira edição.
Revista Espírita, março de 1858
O doutor Xavier
25. Como explicais, então, a vida intra-uterina?
"Como a planta que vegeta. A criança vive a sua vida animal."

Novamente, a resposta confirma a primeira edição e deixa claro que o espírito está convicto de que não há alma antes do nascimento (ver também a 29). É interessante que esta resposta é aproveitada na segunda edição, mas de forma mais desenvolvida.
Segunda edição
354. Como explicar a vida intra-uterina?
"É aquela da planta que vegeta. A criança vive a vida animal. O homem possui em si a vida animal e a vida vegetal que ele completa, no nascimento, pela vida espiritual."

Logo em seguida Kardec, de forma inteligente, propõe um problema a ser resolvido, a de ser ou não um crime o aborto de um ser que não seria um humano. Esta resposta também foi aproveitada na segunda edição com a adição de um reforço para que não se transgrida a lei de Deus. Note também que a pergunta é modificada para remover a idéia de que a criança não seria um humano.
Revista Espírita, março de 1858
O doutor Xavier
26. Há crime em privar uma criança da vida antes do seu nascimento, uma vez que, antes dessa época, a criança, não tendo alma, não é, de algum modo, um ser humano?
"A mãe, ou qualquer pessoa, cometerá sempre crime tirando a vida à criança antes de nascer, porque está impedindo, à alma, de suportar as provas das quais o corpo deveria ser o instrumento."

Segunda edição
358. O abortamento voluntário é um crime, qualquer que seja a época da concepção?
"Existe sempre crime quando transgredis a lei de Deus. A mãe, ou qualquer pessoa, cometerá sempre crime tirando a vida à criança antes de nascer, porque está impedindo, à alma, de suportar as provas das quais o corpo deveria ser o instrumento."

Preocupado em solucionar todos os problemas, Kardec propõe um outro: a escolha entre a vida da mãe ou do filho em situações de risco. E, de acordo com a idéia de que o espírito do filho não se encontra ligado ao corpo, o comunicante opta, na sua lógica, pelo ser que existe, isto é, que faz parte do mundo corporal. Contudo há uma mudança na ênfase da resposta na nova edição que ficou menos rigorosa.
Revista Espírita, março de 1858
O doutor Xavier
28. No caso em que a vida da mãe estivesse em perigo com o nascimento da criança, há crime em sacrificar a criança para salvar a mãe?
"Não; é preciso sacrificar o ser que não existe ao ser que existe."

Segunda edição
359. No caso em que a vida da mãe estivesse em perigo com o nascimento da criança, há crime em sacrificar a criança para salvar a mãe?
"É preferível sacrificar o ser que não existe ao ser que existe."

Continuando no diálogo com o doutor Xavier encontramos a pergunta sobre a predestinação da alma a um determinado corpo. E é interessante observar como Kardec substituiu a expressão "momento do nascimento" pelo "último momento" para ficar de acordo com a nova proposta, a de que a união é um processo que se inicia na concepção e se completa no nascimento.
Revista Espírita, março de 1858
O doutor Xavier
30. A união da alma, com tal ou tal corpo, está predestinada, ou não é senão no momento do nascimento que a escolha se faz?
"Deus a marcou; essa questão exige mais longos desenvolvimentos. O Espírito, escolhendo a prova que deve suportar, pede a encarnação. Ora, Deus que tudo sabe e tudo vê, sabe e vê antecipadamente que tal alma se unirá a tal corpo. Quando o Espírito nasce nas classes baixas da sociedade, sabe que sua vida não será senão trabalho e sofrimento. A criança que vai nascer tem uma existência que resulta, até certo ponto, da posição de seus pais."

Segunda edição
334. A união da alma, com tal ou tal corpo, é predestinada ou é apenas no último momento que se faz a escolha?
"O Espírito é sempre designado antes. O Espírito, escolhendo a prova que deve suportar, pede a encarnação. Ora, Deus que tudo sabe e tudo vê, sabe e vê antecipadamente que tal alma se unirá a tal corpo."

Outra minuciosa revisão foi feita em um diálogo da primeira edição onde a inclusão de uma única palavra transformou a idéia de que a união se realizaria apenas no nascimento. Observem:
Primeira edição
104. A alma ...
__ O corpo pode existir sem a alma?
"Sim; todavia, desde que cessa a vida do corpo, a alma o abandona. Antes do nascimento, a alma não está nele; não há ainda união entre a alma e o corpo; enquanto que depois que essa união está estabelecida, a morte do corpo rompe os laços que o unem à alma, e a alma o deixa. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica."
A alma ...

Segunda edição
136. A alma ...
__ O corpo pode existir sem a alma?
"Sim; todavia, desde que cessa a vida do corpo, a alma o abandona. Antes do nascimento, não há ainda união definitiva entre a alma e o corpo; enquanto que depois que essa união está estabelecida, a morte do corpo rompe os laços que o unem à alma, e a alma o deixa. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica."
__ Que ...

Com a palavra 'definitiva' passou-se a ter a idéia de que o espírito de alguma forma já estaria unido ao corpo antes do nascimento. E para completar esta revisão Kardec removeu o trecho 'a alma não está nele'.

Por fim, apenas para registro, colocamos abaixo outros mapeamentos entre esta conversa com o doutor Xavier e alguns diálogos publicados na segunda edição do Livro dos Espíritos:
• pergunta 22 da conversa com a segunda pergunta do diálogo 155
• pergunta 27 da conversa com a pergunta do diálogo 355
• pergunta 31 da conversa com a pergunta do diálogo 209
• pergunta 32 da conversa com a pergunta do diálogo 210
• pergunta 33 da conversa com a pergunta do diálogo 891

(*) Conforme se constata pela fotocópia da Revista Espírita de 1858 obtida na Biblioteca Virtual Espírita da Federação Espírita do Paraná.

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