As melhores respostas daqueles que acham que são "RACIONAIS"
Não li o artigo inteiro, mais recomendo ao autor ler o Livro dos Médiuns pra explica melhor sobre os fenômenos, enquanto as questões interpretativas poderíamos ficar anos discutindo sem sair do lugar, sou espírita e já li o Livro dos Espíritos, e ele com as demais obras de Allan Kardec tem caráter sagrado e são uma continuação natural da bíblia
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Todo mundo é estúpido, todos somos burros, crentes e idiotas.
São oito milhões de espíritas em todo o mundo completamente tapados, subraças, fanáticos, mentes demoníacas.
Só o autor é inteligente, observador e desmascarador de fraudes.
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Obras psicografadas
POR QUE UM CÉTICO NÃO ACREDITA NO "O LIVRO DOS ESPÍRITOS".
O artigo abaixo, escrito por um internauta que prefere se manter anônimo, mas oferece um email para contato, analisa a metodologia de Kardec, encontrando numerosas falhas.
Kardec apresenta três conceitos distintos de Alma.
1) Um conceito materialista.
2) Um conceito panteísta.
3) Um conceito espiritualista (individualidade da alma, consciência após a morte física). Alma independente do corpo físico.
Kardec diz:
é por isso que denominamos ALMA o ser imaterial e individual que existe em nós e que sobrevive ao corpo. Ainda que esse ser não existisse e fosse apenas um produto da imaginação, seria preciso assim mesmo um termo para designá-lo.
Ou seja, alma para o Espiritismo é o que Kardec define no conceito 3.
Kardec também diz que há vida sem alma. Corrobora-se isso no seguinte trecho:
Na falta de uma palavra especial para cada uma das outras duas idéias, denominamos princípio vital o princípio da vida material e orgânica, qualquer que lhe seja a origem, e que é comum a todos os seres vivos, desde as plantas até o homem. Podendo existir vida sem depender da capacidade de pensar, o princípio vital é assim uma propriedade distinta e autônoma.
Kardec diz sobre ela:
Como se vê, tudo isso é uma questão de palavras, mas uma questão muito importante para entender. De acordo com isso, a alma vital seria comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual seria própria dos animais e dos homens; e a alma espírita,apenas do homem.
Qual a origem dessa “alma vital”? Kardec abre interpretações para que ela possa ser fruto da própria matéria. Mas que, a “alma intelectual” não poderia ser fruto da própria matéria.
Sobre os fenômenos:
Lembremos primeiramente e em poucas palavras a série progressiva dos fenômenos que deram origem à Doutrina Espírita.
Kardec agora fala sobre os supostos fenômenos que originaram a Doutrina Espírita.
O primeiro fato observado foi o de que diversos objetos se movimentavam; de maneira geral, chamaram-no de mesas girantes ou dança das mesas. Esse fenômeno, observado primeiramente nos Estados Unidos, ou melhor, que se repetiu e foi anunciado naquele país, porque a história prova que remonta à mais alta Antiguidade, se produziu acompanhado de circunstâncias estranhas, como barulhos anormais, pancadas sem causa aparente ou conhecida.
Kardec nos diz que observado foi fenômenos de objetos se movendo cuja causa parecia ser desconhecida pela ciência da época.
A primeira pergunta que fica é:
1) Sob quais condições tais fenômenos aconteciam?
Kardec alegou ser testemunha ocular de vários.
Variáveis:
a) Iluminação. A iluminação abre brechas para fraudes. Na época não se tinha a tecnologia de câmeras noturnas e outrem. Se os fenômenos que Kardec observou (que não era mágico) foram truques, o mesmo fora enganado por eles, pois, a iluminação poderia ter ajudado. Não encontramos referências de iluminação sobre os fenômenos que Kardec diz ter presenciado.
A importância das condições de segurança parecem não ter sido tratadas com relevância por Kardec, por mais que tenha se preocupado com algumas dessas questões (tratarei disso posteriormente).
b) Detectar a presença de fraude.
- Os que relataram tais fenômenos tinham mágicos por perfeito? Peritos especializados em detectar fraude?
Cientistas não são mágicos. Se for um truque, e, se por acaso houver desconhecimento de tais práticas, o cientista pode se ver obrigado, por pura ingenuidade ou ignorância de tais práticas, supor hipóteses alternativas para explicar tais fenômenos “paranormais”.
Dos Estados Unidos se propagou rapidamente pela Europa e em seguida por todo o mundo. A princípio houve muita incredulidade, mas a multiplicidade das experiências não mais permitiu duvidar da realidade.
Kardec diz que a replicação excessiva está relacionada com a veracidade de tais fenômenos, no sentido de que não são causados por humanos.
Seria isso verdadeiro? Continuemos.
Ocorre que o movimento nem sempre era circular; muitas vezes era brusco, desordenado; outras vezes o objeto era violentamente sacudido, derrubado, levado numa direção qualquer e, contrariamente a todas as leis da estática, levantado do chão e mantido no espaço.
Eu me pergunto: se tudo isso realmente aconteceu, como interpretar tais fenômenos?
Analisemos as medidas de fraude que Kardec tomou, ou não.
Ainda não havia nada nesses fatos que não pudesse ser explicado pelo poder de um agente físico invisível. Não vemos a eletricidade derrubar edifícios, destruir árvores, lançar ao longe os mais pesados corpos, atraí-los ou repeli-los?
Kardec dá muita importância ao estudo científico das causas desses supostos fenômenos, alegando poderiam ser explicados por leis físicas, como as da eletricidade.
Mas a pergunta é a que fica:
Por que Kardec não ressaltou também, em pé de igualdade, a hipótese de fraude, mágica, ilusionismo?
Quais fatores pessoais poderiam impedir Kardec de fazê-lo?
Percebemos na leitura do texto a preocupação de Kardec em observar os fenômenos e tentar explicá-los com leis físicas, mas não a preocupação devida com a fraude e ilusionismo. Por quê?
Continuemos.
Kardec questiona:
Os ruídos anormais, as pancadas, supondo-se que não fossem um dos efeitos normais da dilatação da madeira ou de qualquer outra causa acidental, poderiam muito bem ser produzidos pelo acúmulo de um fluido oculto: a eletricidade não produz os ruídos mais violentos?
Poderíamos perguntar também: poderiam ter sido reproduzidos com má intenção, fraude, mágica ou ilusionismo?
Vemos que Kardec, a priori, parece não se preocupar com tais questões.
Até aí, como se vê, tudo podia ocorrer no domínio dos fatos puramente físicos e fisiológicos.
Com certeza senhor Kardec, assim como também por truques de ilusionismo e fraude. O que incomoda é a não pretensão de Kardec a ponto de não ser cético a tal ponto, como deveria.
Entretanto, alguns sábios, bastante modestos por admitir que a natureza poderia muito bem não lhes ter dito sua última palavra, quiseram ver, para tranqüilizar as suas consciências. Mas aconteceu que o fenômeno nem sempre correspondeu à expectativa que tinham, e como o fato não se produziu conforme a sua vontade e segundo seu modo de experimentação, concluíram pela negativa. Apesar do que decretaram, as mesas continuaram a girar, e podemos dizer como Galileu: “Todavia elas se movem! ” Diremos mais: “É que os fatos se multiplicaram de tal modo que hoje têm direito à cidadania e que não se trata senão de achar-lhes uma explicação racional”.
Novamente não vemos a hipótese de fraude e ilusionismo no que Kardec chamou de “explicação racional”.
Vemos então, depois de muita pouca preocupação com tais questões, Kardec falar sobre a hipótese de fraude:
Mas algumas pessoas alegam que muitas vezes há fraudes evidentes. Em primeiro lugar, devemos perguntar se estão bem certas disso e se não tomaram por fraudes os efeitos que não conseguiram entender, como o camponês que confundiu um sábio professor de física realizando experiências como um mágico habilidoso.
Kardec parte do pressuposto que as pessoas alegam que há fraudes evidentes. Não sei se a tradução dessa obra nos permite afirmar isso. Mas, se caso o for, podemos dizer que a postura mais racional seria:
“Algumas pessoas alegam que pode haver fraudes”.
Kardec não tomou por esse rumo, mas criticou os que alegam fraude. De fato alegar que há fraude faz com que o ônus da prova recaia sobre os acusadores. Suspeitar de fraude é praticamente o oposto de ato, partindo para a investigação.
Não vemos, por conseguinte, uma postura cética metodológica por parte de Kardec, ainda. Vemos que ele aparenta não se preocupar como deveria com a hipótese de fraude.
Não entendemos por que Kardec tem esse tipo de atitude, mas continuemos:
Mas, mesmo supondo que a fraude pudesse acontecer algumas vezes, seria razão para negar o fato? Deve-se negar a física porque há ilusionistas e mágicos que dão a si mesmo o título de físicos?
Kardec quase chega na questão. E vemos uma atitude muito interessante por parte de Kardec:
Aliás, é preciso levar em conta o caráter das pessoas e o interesse que podiam ter em enganar. Então seria um gracejo?
Kardec diz que devemos levar em conta o caráter das pessoas. Talvez essa seria uma das questões chaves dessa crítica. Antes de entrar em uma análise dessa postura, evidentemente ingênua do francês positivista, continuemos:
Admite-se que uma pessoa possa se divertir por um instante, mas uma brincadeira indefinidamente prolongada seria tão cansativa para o mistificador.
Kardec em outras palavras quer dizer que não haveria sentido para as pessoas tentarem enganar umas às outras. Admiro com o coração nobre do francês, mas isso é ingenuidade pura.
Esse não é um dos argumentos que esperaríamos de um investigador. Metodólogos sabem que têm de deixar de lado as questões emocionais para realizarem suas pesquisas. Por mais desagradável que seja, supostos fenômenos como esse pareciam existir em quase toda a Europa, como o próprio Kardec diz no livro.
Logo Kardec continua:
quanto para o mistificado.
Eu particularmente, se, antes de ter um pensamento crítico e não suscitasse a hipótese de fraude, ficaria maravilhado em ver mesas pulando e girando. Naquela época, em pleno período vitoriano, deveria ser muito desagradável suspeitar desse modo das pessoas, em plena França e especialmente com a classe social das pessoas com que Kardec convivia. A verdade é que não temos exatamente como saber por que Kardec não se preocupava com a questão de fraude como deveria.
De resto, numa mistificação que se propaga de um lado a outro do mundo e entre pessoas mais sérias, mais veneráveis e mais esclarecidas, haveria algo tão extraordinário quanto o próprio fenômeno.
Kardec descarta a hipótese de ilusionismo por fatores pessoais, como discutido. Novamente vemos a ingenuidade de Kardec em vigor.
Mas a essa alegação cabe uma assertativa: nesse argumento houve uma generalização. Kardec duvidava que os fenômenos que alegou ter presenciado pudessem ter sido fraude, e levou tal idéia a suspeitar que os fenômenos por toda a Europa também não poderiam ter sido fruto de engodo, fraude ou ilusionismo.
O francês era muito cético para com o que não deveria: a hipótese de mágica, fraude, engodo, ilusionismo.
O positivista deveria ser cético para com as hipóteses desconhecidas pela ciência. Houve o contrário, como acabamos de ver e como se conclui ao decorrer da leitura.
Esse argumento é também chamado de argumento da incredulidade pessoal. Kardec não enxergava meios pelos quais, ou razões pelas quais fraudes poderiam ser feitas.
O século XIX não só foi o auge desses supostos fenômenos, mas também o século da mágica. É dessa época que surgem os maiores mágicos da história, como Houdini e outrem. É uma pena Kardec não ter se preocupado da forma como deveria fazê-lo.
A pergunta que poderia ficar para o espírita que isso ler, é:
“Poderia os fenômenos que Kardec alegou ter sido causados por ilusionismo e mágica?”
Temos todas as razões para suspeitar que sim. Houdini e outros mágicos, na época, faziam coisas inacreditáveis. É claro que para exemplificar e enriquecer essa hipótese teríamos que cair em uma pesquisa bibliográfica sobre os grandes truques de mágica do séc. XIX (que é o que vou me propor a fazer) e relacioná-los com o que suspeitamos ser fraude.
4 – O MÉTODO
E o que vemos nessa parte do livro é que Kardec parece mesmo ter desprezado a hipótese de fraude.
Se os fenômenos de que nos ocupamos ficassem restritos ao movimento dos objetos, estariam dentro, como dissemos, do domínio das ciências físicas. Mas não foi isso que aconteceu: estavam destinados a nos colocar no caminho de fatos de uma natureza estranha. Acreditou-se descobrir, não sabemos por iniciativa de quem, que a impulsão dada aos objetos não era somente produto de uma força mecânica cega, mas que havia nesse movimento a intervenção de uma causa inteligente. Esse caminho, uma vez aberto, revelou um campo totalmente novo de observações: era o véu levantado de sobre muitos mistérios. Há, de fato, um poder inteligente? Essa é a questão. Se esse poder existe, qual é ele, qual é a sua natureza, sua origem? Ele está acima da humanidade? Essas são as outras questões decorrentes da primeira.
Não vemos uma ressalta a hipótese de “mistificadores”.
Agora vemos que Kardec interpretou os fenômenos, que poderiam ter sido truques por parte dos realizadores, como fenômenos inteligentes.
O que não vemos novamente são as questões:
1) Qual a iluminação do ambiente?
2) Onde aconteceram esses fenômenos?
3) Quais tipos de controle adotado?
Obtiveram-se, em seguida, respostas mais desenvolvidas por meio das letras do alfabeto: o objeto móvel, batendo um número de vezes correspondente ao número de ordem de cada letra, chegava a formular palavras e frases respondendo às perguntas propostas. A precisão das respostas e sua correlação com a pergunta causaram espanto.
Kardec observou que as mesas e objetos pareciam responder perguntas.
O ser misterioso que assim respondia, quando interrogado sobre sua natureza, declarou que era um Espírito ou gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações a seu respeito.
Subentende-se que o “objeto móvel” seria uma mesa ou algo do tipo. O que quer que seja não alterará a argumentação: o que importa é que temos objetos físicos respondendo perguntas. Então, vemos que as mesas “respondiam” que eram espíritos os causadores de tais turbulências.
Aqui há um fato muito importante que convém ressaltar: ninguém havia imaginado os Espíritos como um meio de explicar o fenômeno. Foi o próprio fenômeno que se revelou. Muitas vezes, nas ciências exatas, formulam-se hipóteses para se ter uma base de raciocínio, mas isso não ocorreu nesse caso.
Pergunto-me: se esses fenômenos das mesas foram causados por fraude, por mágica, por brincadeira dos participantes que, poderiam ter inúmeros motivos pessoais, subjetivos para isso, então o Espiritismo nasceu de um erro de interpretação.
Se essa hipótese for verdadeira, o Espiritismo nasceu de um erro, de um engodo. As conseqüências nem precisam ser ditas.
Esse meio de comunicação era demorado e incômodo. O Espírito, e isso ainda é uma circunstância digna de nota, indicou um outro processo. Foi um desses seres espirituais que ensinou a prender um lápis a um pequeno cesto ou a um outro objeto. Esse cesto, colocado sobre uma folha de papel, foi posto em movimento pelo mesmo poder oculto que fazia mover as mesas; mas, em vez de um simples movimento regular, o lápis traçou, por si mesmo, letras formando palavras, frases e discursos inteiros de muitas páginas, tratando das mais altas questões da filosofia, da moral, da metafísica, da psicologia, etc., e isso com tanta rapidez como se fosse escrito à mão.
Não vemos referências às questões, novamente:
1) Iluminação. Como esse processo era feito?
2) Presença de peritos em fraude.
3) Que tipo de controle fora adotado?
Não temos todos detalhes completos de como isso era feito, de como tudo isso realmente acontecia (se é que aconteceu, se realmente Kardec presenciou tais feitos).
Kardec não alude, novamente como deveria, à hipótese de mágica e ilusionismo.
O cesto ou a prancheta apenas podem ser colocados em movimento sob a influência de algumas pessoas dotadas, para esse fim, de um poder especial e que são designadas como médiuns, isto é, intermediários entre os Espíritos e os homens. As condições de que se origina esse poder especial têm causas ao mesmo tempo físicas e morais ainda desconhecidas, visto que se encontram médiuns de todas as idades, de ambos os sexos e em todos os graus de desenvolvimento intelectual. Essa faculdade, esse dom, se desenvolve pelo exercício.
Aqui vemos uma pequena alusão aos processos com que os “médiuns” desenvolverão seu processo de comunicação com os mortos, entre eles o processo de psicografia.
Mais tarde se reconheceu que o cesto e a prancheta, na realidade, eram apenas um substituto da mão, e o médium, pegando diretamente o lápis, pôs-se a escrever por um impulso involuntário e quase febril.
Vemos a crença exposta de que o “médium” realmente acreditava estar escrevendo mensagens de mortos.
Isso pode ser completamente questionado e explicado de inúmeros meios, entre eles o de que o “médium” poderia realmente acreditar que estava escrevendo de espíritos. Qual o limite da crença?
(Uso o termo médium entre aspas pois se as tirasse admitira que a pessoa realmente comunicava-se com os mortos. Apesar de isso ser apenas um detalhe que em nada altera a argumentação, mantê-lo-ei).
Dessa forma, as comunicações tornaram-se mais rápidas, fáceis e completas. Hoje é o meio mais empregado, tanto é que o número de pessoas dotadas dessa aptidão é muito grande e multiplica-se todos os dias.
Essa questão envolve inúmeras questões, e inúmeras possibilidades.
1) Se os primeiros fenômenos de mesas “respondendo” perguntas tiveram causa em mágica, fraude ou ilusionismo, então quantos casos futuros desse não foram de pura superstição?
2) É claro que essas questões também abrem espaço para hipóteses defendidas pela Parapsicologia, sem a necessidade de explicá-las com espíritos. Essa possibilidade não pode ser descartada.
A experiência fez conhecer outras variedades da faculdade mediúnica e constatou-se que as comunicações poderiam igualmente ter lugar pela fala, pela audição, pela visão, pelo tato, etc. e até mesmo pela escrita direta dos Espíritos, ou seja, sem a interferência da mão do médium nem do lápis.
Cabe a nós uma questão social-antropológica básica:
1) O Espiritualismo se espalhou no século XIX de maneira rápida e por vários países. As pessoas adotavam a crença em espíritos como verdadeiras, e por isso poderiam pensar que viam, ouviam, sentiam espíritos, fazendo com que também caíssemos em uma questão de âmbito psicológico.
A alegação de uma pessoa não tem critério algum de verdade sem que seja evidenciada posteriormente por meios confiáveis.
Também devemos lembrar que, por mais que tudo tenha sido verdade, que os mortos realmente se comunicaram através de mesas, um fato verídico acontecido no passado não garante que outras pessoas também o façam de forma verdadeira. Quantas pessoas não acreditaram receber espíritos e assim o proceder, escrevendo mensagens cujo texto acreditava ser dos mortos? Poderiam ter sido milhares e milhares.
Se os espíritos realmente existirem, muitas pessoas podem ter sido enganadas por seu próprio espírito encarnado ao adotar uma crença como essa.
Não cairei na questão de obtenção de informação, por agora.
Comprovado o fato, era preciso estabelecer e demonstrar um ponto essencial: qual era o papel do médium nas respostas e a parte que poderia nelas tomar, mecânica e moralmente.
Comprovado? Não senhor Kardec, não se comprovou. Alegações não são comprovações.
As pessoas poderiam alegar escrever mensagens cuja fonte era de pessoas mortas. Isso não é prova de espíritos senhor Kardec, mas alegação de comunicação.
Também não fora “comprovado” que a causa de mesas responderem perguntas eram entes mortos. O positivista não eliminou a hipótese de fraude como deveria fazê-lo, mas ao invés, usou de argumentos emocionais e de incredulidade pessoal.
O Espiritismo, evidentemente, não foi uma doutrina que nasceu com o devido escrutínio científico.
Duas circunstâncias fundamentais, que não poderiam escapar a um observador atento, podem resolver a questão. A primeira é a maneira pela qual o cesto se movia sob influência do médium, somente pela imposição dos dedos sobre a borda.
Kardec alega que somente ao se pôr os dedos sobre a borda, as mensagens eram escritas.
Como o francês nos elimina a possibilidade de truques? A questão é que ele não apresentou, nessa edição do LE, nenhuma referência de como isso não poderia ter sido feito por mágica (obviamente por não ter tratado a questão como deveria). E que por sinal, poder-se-ia realizar esse truque (se for um truque) de forma muito simples quando comparado a vários outros de mágica.
Suspeito que se Kardec visse esse questionamento no século XIX, ele usaria dos mesmos argumentos de incredulidade pessoal e emocional. Os ventos mudaram de direção. Não só pelos inúmeros casos de fraudes espiritualistas existentes (deveria citar vários?), mas pelos próprios fenômenos que Kardec alegou não terem referências sobre os cuidados que deveriam ter sido tomados e os controles que deveriam ter sido adotados.
Kardec fala os exames sobre isso:
O exame demonstra a impossibilidade de que o médium pudesse lhe impor qualquer direção.
Quais exames?
Ele não nos apresentou quais exames foram feitos.
A velha questão metodológica deve ser seguida: métodos falhos nos conduzem a métodos falhos.
Essa impossibilidade torna-se mais evidente quando duas ou três pessoas colocam ao mesmo tempo as pontas dos dedos nas bordas de um mesmo cesto.
Se não temos a descrição dos rigores metodológicos e de escrutínios adotados, não temos condições de dizer se era “impossível” fazê-lo.
Se não temos as devidas referências, como podemos eliminar a possibilidade de truques em mensagens escritas como essas?
Seria preciso uma concordância de movimentos entre elas verdadeiramente fenomenal, e ainda seria preciso mais, a concordância de seus pensamentos para que pudessem se entender quanto à resposta a dar à questão formulada.
Se isso for um truque, e por acaso através de truques uma pessoa fizer a cesta escrever, as demais apenas poderiam acompanhar, como fazemos em brincadeiras “do copo”. Quando colocamos o dedo em cima do copo e um brincalhão faz com que o copo se mova em alguma direção, os outros dedos apenas acompanham.
Como não temos muitos detalhes sobre como esses fenômenos de cestas eram realizados, não devemos confiar na palavra de Kardec. Devemos nos manter céticos, metódicos e racionais. Devemos analisar todas as possibilidades que poderiam explicar esses fenômenos. A mágica não somente é uma possibilidade real, como perfeitamente possível.
A incredulidade pessoal dos espíritas não altera na questão. Muitos usam do argumento de incredulidade e de autoridade dizendo que Kardec era um grande intelectual. Oras isso não o faz um conhecedor de truques, e, sem falar que o mesmo não deu atenção para essa hipótese.
Duvidar que não eram simples mágicas não resolve a questão. Duvidamos de espíritos pois esses fenômenos que Kardec relatou podem ter muitas outras explicações alternativas, sem entes mortos, e que as explicações têm chances de ser verdadeiras.
Um outro fato, não menos importante, ainda vem se juntar à dificuldade: é a mudança radical que se constata na caligrafia, conforme o Espírito que se manifesta;
Kardec era perito em grafoscopia? Espíritas, devidos os casos grafotécnicos das psicografias de Chico Xavier, dizem que a grafoscopia pode fornecer evidência para sua hipótese de sobrevivência. Leigos podem simplesmente dizer: “essa caligrafia é muito semelhante, logo é a da pessoa.”
Kardec, nessa parte do LE não nos deixa informações sobre como esse tipo de conclusão fora obtida, se as escritas que alegou ter observado foram analisadas por peritos. É exatamente por isso que nós, com uma postura crítica, devemos questionar.
Se devemos questionar até os casos que têm algum grau de escrutínio (por mais falhos que possam ser), imagine caro leitor, os que não têm.
porém, cada vez que o mesmo Espírito retorna, sua escrita se reproduz. Seria preciso, portanto, que o médium fosse capaz de mudar sua própria escrita de 20 maneiras diferentes e, principalmente, que pudesse se lembrar da que pertence a este ou àquele Espírito.
Kardec novamente não nos fornece documentação suficiente para sabermos exatamente como esses processos eram feitos, quem os analisava, sob quais condições eles ocorriam.
Eu não me conformo que, diante de toda essa fragilidade metodológica, que o Espiritismo tenha crescido com algum grau positivo. Onde está o pensamento crítico das pessoas?
A segunda circunstância resulta da própria natureza das respostas que são, na maioria, principalmente quando se trata de questões abstratas ou científicas, notoriamente fora dos conhecimentos e algumas vezes além da capacidade intelectual do médium, que não tem consciência do que escreve sob influência do Espírito.
Essa afirmação é completamente vazia. Diz-se que os médiuns não tinham conhecimento do que escreviam. Como podemos ter algum grau de certeza? Por que deveríamos acreditar nisso?
Primeiramente que é vazia pois Kardec novamente não nos fornece detalhes sobre a forma como isso se dava. Segundo que não cita nenhum argumento capaz de eliminar a possibilidade de os “médiuns” obterem informação. Por terceiro que não sabemos quem os médiuns eram.
Com freqüência, o médium não ouve ou não compreende a questão proposta, uma vez que pode ser feita numa língua que lhe é estranha, ou mesmo mentalmente; e a resposta pode ser dada por escrito ou falada nessa mesma língua.
Outra alegação, e novamente Kardec apenas diz que os “médiuns” não sabiam falar outros idiomas. Novamente ele não apresentou nenhum meio do qual pudesse sustentar essa crença. Que razão então deveríamos ter para crer nisso? Não vejo razão alguma.
Enfim, acontece que muitas vezes o cesto escreve espontaneamente, sem pergunta prévia, sobre um assunto qualquer e inteiramente inesperado.
Kardec realmente acreditava nisso. Já comentamos sobre as condições. Nada de positivo, por enquanto.
Essas respostas, em alguns casos, têm uma tal marca de sabedoria, profundidade e oportunidade, revelam pensamentos tão elevados, tão sublimes, que somente podem proceder de uma inteligência superior, fundamentada na mais pura moralidade.
Essa alegação é muito mais ingênua do que a postura de Kardec com a hipótese de fraude. Alega-se que as mensagens têm “pensamentos elevados”. Essa análise subjetiva de Kardec não nos prova absolutamente nada.
Primeiro que não temos informações de quem eram esses “médiuns”. Segundo que Kardec não apresentou os critérios que fizeram com que ele considerasse as mensagens com “marca de sabedoria, profundidade, pensamentos elevados, morais”.
Não é por acaso que na própria introdução do LE, em “A História”, Kardec nos diz:
A Doutrina Espírita, como toda idéia nova, tem seus adeptos e seus opositores. Vamos tentar responder a algumas das objeções, examinando o valor dos motivos em que se apóiam, sem termos, entretanto, a pretensão de convencer a todos, porque há pessoas que acreditam que a luz tenha sido feita exclusivamente para elas. Dirigimo-nos às pessoas de boa-fé, sem idéias preconcebidas ou obstinadas e sinceramente desejosas de se instruir, e demonstraremos que a maior parte das objeções à Doutrina provém de uma observação incompleta dos fatos e de um julgamento feito com muita leviandade e precipitação.
Kardec admite que muitas objeções vêm de observações incompletas dos fatos (digo eu, supostos fatos). Mas o próprio não apresentou todos os dados, referências, meios pelos quais os supostos fenômenos se davam, como está sendo demonstrando ao longo do texto.
O próprio Kardec demonstra agir de maneira hipócrita ao dizê-lo pois, ele mesmo ignorou o que não deveria (hipóteses de fraude, mágica e ilusionismo).
Como o positivista poderia dizer algo desses se não analisou o todo? Na verdade, ele analisou o todo, mas não deu atenção ao que deveria.
Essa diversidade da linguagem e dos ensinamentos somente se pode explicar pela diversidade das inteligências que se manifestam.
Essa é realmente uma falácia, e muito desprezível.
Falácia pois:
1) Kardec não deu atenção à hipóteses alternativas, como fraude, truques, mágicas. Logo, dizer que somente pode-se explicar com essa hipótese espírita é, no mínimo, uma atitude desprezível com tão grande engodo.
2) Kardec não nos apresentou os detalhes exatos de como os fenômenos se davam. Logo, não há razão alguma para considerar essa alegação se que só se explicam por “inteligências diversas”. O caso das escritas diferente é o grande exemplo disso.
Estarão essas inteligências na humanidade ou fora dela? Esse é o ponto a esclarecer, para o qual se encontrará a explicação completa nesta obra, exatamente como foi revelada pelos próprios Espíritos.
Ao se admitir sem o devido escrutínio e rigor cético metodológico a existência de “inteligências superiores”, eis que agora começa a crença espírita.
Devo lembrar o leitor que, no decorrer dessa leitura ao LE, (e somente do LE), ressaltei a hipótese que Kardec não considerou: fraude.
Lembremos que há inúmeras hipóteses parapsicológicas alternativas paralelamente às espiritualistas para explicar esses supostos fenômenos, isso é, caso consideremos esses fenômenos como não explicados pelas ciências atuais. Muitas delas, de acordo com alguns pesquisadores, com rigor científico. Considerando a igualdade de explicação (para não desmerecer nenhuma hipótese espiritualista), não há razão alguma para escolher e acreditar nas hipóteses espíritas.
Não devemos crer em hipóteses, mas usá-las para explicar fatos e colocá-las à prova. A crença espírita nesse ponto não difere da de outras religiões pois a maioria dos espíritas simplesmente crêem em espíritos. Usam-se do pouco rigor metodológico que Kardec demonstrou nas obras para dizer que há um grau de cientificidade no Espiritismo. Como questionado, não há razão alguma através desse grau para defender a veracidade da crença espírita. Esse grau é fraquíssimo pois não está devidamente corroborado.
A maioria dos espíritas não defende essa crença pelo seu rigor experimental, mas somente por crerem na hipótese (por inúmeros fatores pessoais). Se assim o fosse, não haveria espíritas, mas investigadores paranormais ou céticos metodológicos. Os que defendem deveriam saber que, ao ler um livro como o LE, o rigor metodológico que Kardec disse ter adotado é aberto a falhas, fraudes e truques.
Estou convencido que o espírita não crê em espíritos pelo rigor científico de sua doutrina, mas simplesmente por crer e considerar a hipótese plausível.
O que os espíritas normalmente não fazem é comparar a plausibilidade de hipóteses alternativas. Se existem tais hipóteses, e se não são inferiores às espíritas (cabe a ser demonstrado epistemologicamente que não são inferiores, caso contrário caímos em um argumento circular), que razão há em crer em espíritos?
Saindo dessa digressão sobre a crença espírita, continuemos a leitura do LE:
Eis que os efeitos ou fenômenos evidentes e incontestáveis que se produzem fora do círculo habitual de nossas observações não se processam misteriosamente, mas sim à luz do dia, e todos podem vê-los e constatá-los, porque não são privilégio de um único indivíduo, uma vez que milhares de pessoas os repetem todos os dias à vontade. Esses efeitos têm necessariamente uma causa, e a partir do momento que revelam a ação de uma inteligência e de uma vontade saem do domínio puramente físico.
Kardec nos diz que os fenômenos também se realizavam à luz do dia. Ótimo, o que nada altera a possibilidade de truques.
William Crookes por exemplo realizou inúmeros experimentos com Home e outros em situações de luminosidade precária (Ver a tese dissertação de mestrado de Juliana).
Kardec também nos dá a mesma conclusão: os fenômenos têm causa em espíritos.
Já analisamos que essa conclusão têm grande chance de ser falsa, devido a falta de preocupação de Kardec com hipóteses alternativas.
Teria o Espiritismo nascido de um grande erro? René Guenón, autor de uma obra intitulada “O erro espírita” defende essa idéia, mas também por vias filosóficas. Guenón defendeu essa idéia baseando-se na idéia de que os fenômenos observados por Kardec poderiam ser explicados por hipóteses parapsicológicas alternativas. Guenón também não deu o interesse que deveria à hipótese de fraude. Então, se a resposta é sim, desnecessário seria decorrer sobre isso. Os espíritas já teriam em mente toda essa conseqüência ao admitir essa desastrosa possibilidade.
Kardec se propõe a analisar hipóteses alternativas no decorrer do livro. Vemos:
Muitas teorias foram anunciadas a esse respeito. Elas serão examinadas em seguida e veremos se podem fornecer a razão de todos os fatos que se produzem. Admitamos, em princípio, antes de chegar até lá, a existência de seres distintos da humanidade, uma vez que esta é a explicação fornecida pelas inteligências que se revelam, e vejamos o que nos dizem.
Guarde no bolso caro leitor a postura anterior de Kardec: a de não dar atenção à hipóteses alternativas.
Veremos se essa postura de Kardec sustenta ainda mais sua postura dogmática anterior.
O movimento dos objetos é um fato comprovado. A questão é saber se, nesse movimento, há ou não uma manifestação inteligente e, caso haja, qual é a origem dessa manifestação.
Aqui Kardec começa sua assertativa sobre hipóteses alternativas. Continuemos:
Não trataremos somente do movimento inteligente de alguns objetos, nem de comunicações verbais, nem mesmo das diretamente escritas pelo médium. Esse gênero de manifestação, clara e evidente para aqueles que viram e se aprofundaram no assunto, não é à primeira vista muito convincente para um observador novato, por não a entender como independente da vontade do médium.
Kardec usa termos como: “não entender como independente a vontade do médium”.
Isso é apenas uma crença: a crença na comunicação.
Na verdade, o observador não compreende porque não crê, ou porque não traçou os caminhos que Kardec o fez para chegar a essa conclusão.
Não trataremos somente da escrita obtida com a ajuda de um objeto qualquer munido de um lápis, como o cesto, a prancheta, etc. A maneira como os dedos do médium ficam colocados sobre o objeto desafia, como já dissemos, a habilidade mais consumada de poder participar de qualquer modo que seja no traçado das letras.
Desafia, senhor Kardec? Então isso é uma evidência suficientemente concreta para admitirmos a existência de espíritos? Como vimos anteriormente, não, não é.
Mas admitamos ainda que, por efeito de uma habilidade maravilhosa, o médium possa enganar o olhar mais atento. De que maneira explicar a natureza das respostas, quando estão muito além de todas as idéias e de todos os conhecimentos do médium?
Kardec aqui atenta-se para a hipótese de fraude. Mas ele não vê meios pelos quais o “médium” poderia enganar os observadores.
Esse é novamente o argumento da incredulidade pessoal.
E, que se note bem, não se trata de respostas monossilábicas, mas muitas vezes de numerosas páginas escritas com a mais espantosa rapidez, seja espontaneamente, seja sobre um assunto determinado.
E novamente não temos as referências. Essa alegação já foi questionada anteriormente:
1) Não sabemos quem é o “médium”.
2) Não sabemos como ele, se por acaso conseguiu informações, as obteve.
3) Não sabemos de suas habilidades.
Pela mão do médium, mais alheio e avesso à literatura, nascem, algumas vezes, poesias de uma sublimidade e pureza irrepreensíveis, que os melhores poetas se dignariam em assinar.
Então, se eu alego receber uma mensagem de algum morto, e escrevo uma bela poesia, então é verdade que eu recebo poesias de mortos?
(Lembrando que não sabemos quem são os “médiums”.
Nem cairei em explicações da psicologia. O próprio senso comum aqui com que agora questionei demonstra a fragilidade dessa alegação. Imagine se eu caísse na Psicologia? Nem ao menos é necessário.
O que acrescenta ainda mais estranheza a esses fatos é que acontecem em todos os lugares, e que os médiuns se multiplicam ao infinito.
Kardec aqui agora leva sua crença a pensar que a mediunidade, além de um fato, acontece em todo mundo. Pois bem, se ela fosse um fato, aconteceria. Mas o que estamos questionando é: é um fato? Não temos certeza. Pode muito bem não ser pelos inúmeros motivos apresentados.
Esses fatos são reais ou não? Para isso, apenas temos uma resposta: vede e observai, ocasiões não faltarão; mas observai repetidamente, por um período e obedecendo às condições determinadas.
Aqui Kardec nos diz exatamente isso: “Veja, observe, observe repetidamente por longo período, e “obedecendo às condições determinadas” (quais condições? condições que os “médiuns impõem?), então você concluirá pela existência de espíritos”.
Se hoje existisse algum metodólogo como Kardec, com certeza ele perderia o emprego.
Vemos claramente a influência positivista de Kardec nesse argumento, dizendo que “quanto mais repetições de um fenômeno, mais certeza você tem dele ou mais factual ele o é”.
Essa concepção de ciência positivista está morta e muita bem enterrada (ou deveria estar!). Esse crivo científico foi muito bem enterrado por grandes epistemólogos críticos do pensamento positivista.
A repetição de um fato não o torna mais verdadeiro, e isso também acontece com a hipótese que o explica. O que nós fazemos hoje em dia para testar uma hipótese não é replicar os fenômenos para demonstrar “olhe, a hipótese é verdadeira!”. Não. O que fazemos é programar situações diferentes de testes rigorosos para analisarmos a consistência da hipótese aos testes. Se a hipótese se manter, então a corroboramos. Caso contrário, verificamos se há mesmo erros e a eliminamos.
Isso não significa que ela é falsa. A tecnologia é o meio pelos quais subordinamos as hipóteses aos testes. Conforme ela muda, nossa visão e possibilidade de teorias também. Conforme temos os aparelhos e técnicas específicas, podemos retomar teorias descartadas ou descartar novas. A teoria descartada poderá voltar no futuro, exatamente como aconteceram com os prós das teorias de aparecimento espontâneo da vida (abiogênse), que foram descartadas nos séc. XVI e XVII.
Diante da evidência, o que respondem os opositores? “Sois”, dizem, “vítimas do charlatanismo ou joguete de uma ilusão.” Diremos, primeiramente, que é preciso separar a idéia de charlatanismo de onde não há lucro;
Não há lucro, mas pode haver crença, vontade de que aquilo seja verdadeiro.
os charlatães não fazem seu trabalho de graça.
E isso prova espíritos? Não.
Isso seria, então, uma mistificação. Mas por que estranha coincidência tantos mistificadores teriam combinado em harmonia e concordância para, de um canto a outro do planeta, agir da mesma forma, produzir os mesmos efeitos e dar sobre os mesmos assuntos e em tão diversas línguas respostas idênticas, se não quanto às palavras, pelo menos quanto ao sentido?
O argumento de incredulidade francês ataca novamente.
Primeiro que Kardec se esquece que essa convergência de fenômenos se deram somente no séc. XIX. Isso poderia abrir a mente de Kardec? Teria Kardec uma parte do pensamento moderno, historicista e relativista antropológico? Não estou querendo supor que esses fenômenos não aconteciam, mas devido a um paradigma específico (uma crença espiritualista, no caso), houve essa “explosão” pela Europa. O pensamento de Kardec pouco se enquadra no moderno.
E o que levaria pessoas sérias, honradas, instruídas a se prestar a semelhantes artimanhas e com que objetivo?
Não sabemos senhor Kardec. O que sabemos é que sua ingenuidade pessoal nada prova. Sabemos que as pessoas são más, tem sua própria razão, muitas vezes acreditam cegamente em algo, não por maldade, mas por fé.
As pessoas têm diversos objetivos de vida, planos, atos.
Esse argumento emocional, baseado na pura incredulidade é o ponto fraco da argumentação de Kardec. E novamente a incredulidade pessoal vem em rigor.
Como encontrar entre as crianças a paciência e a habilidade necessárias para esse fim? Porque, se esses médiuns não são instrumentos passivos, será preciso reconhecer neles habilidade e conhecimentos incompatíveis com a idade infantil e com certas posições sociais.
Crianças, senhor Kardec? E quantas eram crianças entre seus “médiuns”? Qual a idade das “crianças”? Adolescentes? Como as sessões se deram? Em quais intervalos de tempo?
E por acaso, se forem muitos jovens, como isso determinaria a existência de espíritos? Quais hipóteses alternativas que a ciência nos dispõe para explicar tal fato?
A hipótese espiritualista não é a única, e mesmo se fosse, nada garante sua validez sem as devidas evidências. Também não temos novamente os detalhes de como isso acontece, o que não nos permite, nessa leitura do LE afirmar muitas coisas.
Então, dizem que, se não há trapaças, os dois lados podem ser vítimas de uma ilusão. Numa avaliação lógica, a qualidade dos testemunhos tem grande valor; portanto, é o caso de se perguntar se a Doutrina Espírita, que hoje conta com milhões de seguidores, apenas os recruta entre os ignorantes?
Kardec vai para o lado pessoal e usa-se de testemunhas, o que nada prova ou autentica os fenômenos espiritualistas.
De resto, Kardec nos apresenta a crença espírita, Deus, a revelação das mensagens por espíritos, e tudo o mais.
É claro que eu poderia ter obtido mais respostas a meus questionamentos se tivesse em mãos os documentos da Revista Espírita, e excertos, quem sabe, de “O Livro dos Médiuns”
Mas tenho minhas dúvidas se teria de alterar minha argumentação e os questionamentos. O objetivo não é esse, apesar de saber que receberei respostas para minhas dúvidas. O objetivo é demonstrar por que um cético não acredita em espíritos quando lê “O Livro dos Espíritos”.
Conclusão:
Essa leitura sobre os métodos e a investigação que Kardec apresentou em “O Livro dos Espíritos” não me fez acreditar em espíritos pois:
1) Kardec falhou em suas observações. Não deu a atenção que deveria à hipótese de fraude, engodo, mágica, ilusionismo, truques.
Ele justificou essa atitude com motivos emocionais, atitude devidamente ingênua, motivos pessoais e claro, na própria falácia da incredulidade pessoal.
2) Kardec não nos deu as referências específicas sobre como os fenômenos se davam.
Não se pode concluir algo sem as devidas referências sobre como os fenômenos se davam.
3) Podemos explicar tudo o que Kardec apresentou com hipóteses parapsicológicas, que devem ser científicas. Logo, não há razão alguma para crer em espíritos a não ser a vontade de crer no pós-morte.
Essas são as razões da descrença de um cético quando se depara com o livro mencionado. Se há documentos além desses capazes de nos convencer, então poder-se-ia dizer que esse não é.
A verdade sempre.
FONTE: obraspsicografadas.org
Não li o artigo inteiro, mais recomendo ao autor ler o Livro dos Médiuns pra explica melhor sobre os fenômenos, enquanto as questões interpretativas poderíamos ficar anos discutindo sem sair do lugar, sou espírita e já li o Livro dos Espíritos, e ele com as demais obras de Allan Kardec tem caráter sagrado e são uma continuação natural da bíblia
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Todo mundo é estúpido, todos somos burros, crentes e idiotas.
São oito milhões de espíritas em todo o mundo completamente tapados, subraças, fanáticos, mentes demoníacas.
Só o autor é inteligente, observador e desmascarador de fraudes.
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Obras psicografadas
POR QUE UM CÉTICO NÃO ACREDITA NO "O LIVRO DOS ESPÍRITOS".
O artigo abaixo, escrito por um internauta que prefere se manter anônimo, mas oferece um email para contato, analisa a metodologia de Kardec, encontrando numerosas falhas.
Kardec apresenta três conceitos distintos de Alma.
1) Um conceito materialista.
2) Um conceito panteísta.
3) Um conceito espiritualista (individualidade da alma, consciência após a morte física). Alma independente do corpo físico.
Kardec diz:
é por isso que denominamos ALMA o ser imaterial e individual que existe em nós e que sobrevive ao corpo. Ainda que esse ser não existisse e fosse apenas um produto da imaginação, seria preciso assim mesmo um termo para designá-lo.
Ou seja, alma para o Espiritismo é o que Kardec define no conceito 3.
Kardec também diz que há vida sem alma. Corrobora-se isso no seguinte trecho:
Na falta de uma palavra especial para cada uma das outras duas idéias, denominamos princípio vital o princípio da vida material e orgânica, qualquer que lhe seja a origem, e que é comum a todos os seres vivos, desde as plantas até o homem. Podendo existir vida sem depender da capacidade de pensar, o princípio vital é assim uma propriedade distinta e autônoma.
Kardec diz sobre ela:
Como se vê, tudo isso é uma questão de palavras, mas uma questão muito importante para entender. De acordo com isso, a alma vital seria comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual seria própria dos animais e dos homens; e a alma espírita,apenas do homem.
Qual a origem dessa “alma vital”? Kardec abre interpretações para que ela possa ser fruto da própria matéria. Mas que, a “alma intelectual” não poderia ser fruto da própria matéria.
Sobre os fenômenos:
Lembremos primeiramente e em poucas palavras a série progressiva dos fenômenos que deram origem à Doutrina Espírita.
Kardec agora fala sobre os supostos fenômenos que originaram a Doutrina Espírita.
O primeiro fato observado foi o de que diversos objetos se movimentavam; de maneira geral, chamaram-no de mesas girantes ou dança das mesas. Esse fenômeno, observado primeiramente nos Estados Unidos, ou melhor, que se repetiu e foi anunciado naquele país, porque a história prova que remonta à mais alta Antiguidade, se produziu acompanhado de circunstâncias estranhas, como barulhos anormais, pancadas sem causa aparente ou conhecida.
Kardec nos diz que observado foi fenômenos de objetos se movendo cuja causa parecia ser desconhecida pela ciência da época.
A primeira pergunta que fica é:
1) Sob quais condições tais fenômenos aconteciam?
Kardec alegou ser testemunha ocular de vários.
Variáveis:
a) Iluminação. A iluminação abre brechas para fraudes. Na época não se tinha a tecnologia de câmeras noturnas e outrem. Se os fenômenos que Kardec observou (que não era mágico) foram truques, o mesmo fora enganado por eles, pois, a iluminação poderia ter ajudado. Não encontramos referências de iluminação sobre os fenômenos que Kardec diz ter presenciado.
A importância das condições de segurança parecem não ter sido tratadas com relevância por Kardec, por mais que tenha se preocupado com algumas dessas questões (tratarei disso posteriormente).
b) Detectar a presença de fraude.
- Os que relataram tais fenômenos tinham mágicos por perfeito? Peritos especializados em detectar fraude?
Cientistas não são mágicos. Se for um truque, e, se por acaso houver desconhecimento de tais práticas, o cientista pode se ver obrigado, por pura ingenuidade ou ignorância de tais práticas, supor hipóteses alternativas para explicar tais fenômenos “paranormais”.
Dos Estados Unidos se propagou rapidamente pela Europa e em seguida por todo o mundo. A princípio houve muita incredulidade, mas a multiplicidade das experiências não mais permitiu duvidar da realidade.
Kardec diz que a replicação excessiva está relacionada com a veracidade de tais fenômenos, no sentido de que não são causados por humanos.
Seria isso verdadeiro? Continuemos.
Ocorre que o movimento nem sempre era circular; muitas vezes era brusco, desordenado; outras vezes o objeto era violentamente sacudido, derrubado, levado numa direção qualquer e, contrariamente a todas as leis da estática, levantado do chão e mantido no espaço.
Eu me pergunto: se tudo isso realmente aconteceu, como interpretar tais fenômenos?
Analisemos as medidas de fraude que Kardec tomou, ou não.
Ainda não havia nada nesses fatos que não pudesse ser explicado pelo poder de um agente físico invisível. Não vemos a eletricidade derrubar edifícios, destruir árvores, lançar ao longe os mais pesados corpos, atraí-los ou repeli-los?
Kardec dá muita importância ao estudo científico das causas desses supostos fenômenos, alegando poderiam ser explicados por leis físicas, como as da eletricidade.
Mas a pergunta é a que fica:
Por que Kardec não ressaltou também, em pé de igualdade, a hipótese de fraude, mágica, ilusionismo?
Quais fatores pessoais poderiam impedir Kardec de fazê-lo?
Percebemos na leitura do texto a preocupação de Kardec em observar os fenômenos e tentar explicá-los com leis físicas, mas não a preocupação devida com a fraude e ilusionismo. Por quê?
Continuemos.
Kardec questiona:
Os ruídos anormais, as pancadas, supondo-se que não fossem um dos efeitos normais da dilatação da madeira ou de qualquer outra causa acidental, poderiam muito bem ser produzidos pelo acúmulo de um fluido oculto: a eletricidade não produz os ruídos mais violentos?
Poderíamos perguntar também: poderiam ter sido reproduzidos com má intenção, fraude, mágica ou ilusionismo?
Vemos que Kardec, a priori, parece não se preocupar com tais questões.
Até aí, como se vê, tudo podia ocorrer no domínio dos fatos puramente físicos e fisiológicos.
Com certeza senhor Kardec, assim como também por truques de ilusionismo e fraude. O que incomoda é a não pretensão de Kardec a ponto de não ser cético a tal ponto, como deveria.
Entretanto, alguns sábios, bastante modestos por admitir que a natureza poderia muito bem não lhes ter dito sua última palavra, quiseram ver, para tranqüilizar as suas consciências. Mas aconteceu que o fenômeno nem sempre correspondeu à expectativa que tinham, e como o fato não se produziu conforme a sua vontade e segundo seu modo de experimentação, concluíram pela negativa. Apesar do que decretaram, as mesas continuaram a girar, e podemos dizer como Galileu: “Todavia elas se movem! ” Diremos mais: “É que os fatos se multiplicaram de tal modo que hoje têm direito à cidadania e que não se trata senão de achar-lhes uma explicação racional”.
Novamente não vemos a hipótese de fraude e ilusionismo no que Kardec chamou de “explicação racional”.
Vemos então, depois de muita pouca preocupação com tais questões, Kardec falar sobre a hipótese de fraude:
Mas algumas pessoas alegam que muitas vezes há fraudes evidentes. Em primeiro lugar, devemos perguntar se estão bem certas disso e se não tomaram por fraudes os efeitos que não conseguiram entender, como o camponês que confundiu um sábio professor de física realizando experiências como um mágico habilidoso.
Kardec parte do pressuposto que as pessoas alegam que há fraudes evidentes. Não sei se a tradução dessa obra nos permite afirmar isso. Mas, se caso o for, podemos dizer que a postura mais racional seria:
“Algumas pessoas alegam que pode haver fraudes”.
Kardec não tomou por esse rumo, mas criticou os que alegam fraude. De fato alegar que há fraude faz com que o ônus da prova recaia sobre os acusadores. Suspeitar de fraude é praticamente o oposto de ato, partindo para a investigação.
Não vemos, por conseguinte, uma postura cética metodológica por parte de Kardec, ainda. Vemos que ele aparenta não se preocupar como deveria com a hipótese de fraude.
Não entendemos por que Kardec tem esse tipo de atitude, mas continuemos:
Mas, mesmo supondo que a fraude pudesse acontecer algumas vezes, seria razão para negar o fato? Deve-se negar a física porque há ilusionistas e mágicos que dão a si mesmo o título de físicos?
Kardec quase chega na questão. E vemos uma atitude muito interessante por parte de Kardec:
Aliás, é preciso levar em conta o caráter das pessoas e o interesse que podiam ter em enganar. Então seria um gracejo?
Kardec diz que devemos levar em conta o caráter das pessoas. Talvez essa seria uma das questões chaves dessa crítica. Antes de entrar em uma análise dessa postura, evidentemente ingênua do francês positivista, continuemos:
Admite-se que uma pessoa possa se divertir por um instante, mas uma brincadeira indefinidamente prolongada seria tão cansativa para o mistificador.
Kardec em outras palavras quer dizer que não haveria sentido para as pessoas tentarem enganar umas às outras. Admiro com o coração nobre do francês, mas isso é ingenuidade pura.
Esse não é um dos argumentos que esperaríamos de um investigador. Metodólogos sabem que têm de deixar de lado as questões emocionais para realizarem suas pesquisas. Por mais desagradável que seja, supostos fenômenos como esse pareciam existir em quase toda a Europa, como o próprio Kardec diz no livro.
Logo Kardec continua:
quanto para o mistificado.
Eu particularmente, se, antes de ter um pensamento crítico e não suscitasse a hipótese de fraude, ficaria maravilhado em ver mesas pulando e girando. Naquela época, em pleno período vitoriano, deveria ser muito desagradável suspeitar desse modo das pessoas, em plena França e especialmente com a classe social das pessoas com que Kardec convivia. A verdade é que não temos exatamente como saber por que Kardec não se preocupava com a questão de fraude como deveria.
De resto, numa mistificação que se propaga de um lado a outro do mundo e entre pessoas mais sérias, mais veneráveis e mais esclarecidas, haveria algo tão extraordinário quanto o próprio fenômeno.
Kardec descarta a hipótese de ilusionismo por fatores pessoais, como discutido. Novamente vemos a ingenuidade de Kardec em vigor.
Mas a essa alegação cabe uma assertativa: nesse argumento houve uma generalização. Kardec duvidava que os fenômenos que alegou ter presenciado pudessem ter sido fraude, e levou tal idéia a suspeitar que os fenômenos por toda a Europa também não poderiam ter sido fruto de engodo, fraude ou ilusionismo.
O francês era muito cético para com o que não deveria: a hipótese de mágica, fraude, engodo, ilusionismo.
O positivista deveria ser cético para com as hipóteses desconhecidas pela ciência. Houve o contrário, como acabamos de ver e como se conclui ao decorrer da leitura.
Esse argumento é também chamado de argumento da incredulidade pessoal. Kardec não enxergava meios pelos quais, ou razões pelas quais fraudes poderiam ser feitas.
O século XIX não só foi o auge desses supostos fenômenos, mas também o século da mágica. É dessa época que surgem os maiores mágicos da história, como Houdini e outrem. É uma pena Kardec não ter se preocupado da forma como deveria fazê-lo.
A pergunta que poderia ficar para o espírita que isso ler, é:
“Poderia os fenômenos que Kardec alegou ter sido causados por ilusionismo e mágica?”
Temos todas as razões para suspeitar que sim. Houdini e outros mágicos, na época, faziam coisas inacreditáveis. É claro que para exemplificar e enriquecer essa hipótese teríamos que cair em uma pesquisa bibliográfica sobre os grandes truques de mágica do séc. XIX (que é o que vou me propor a fazer) e relacioná-los com o que suspeitamos ser fraude.
4 – O MÉTODO
E o que vemos nessa parte do livro é que Kardec parece mesmo ter desprezado a hipótese de fraude.
Se os fenômenos de que nos ocupamos ficassem restritos ao movimento dos objetos, estariam dentro, como dissemos, do domínio das ciências físicas. Mas não foi isso que aconteceu: estavam destinados a nos colocar no caminho de fatos de uma natureza estranha. Acreditou-se descobrir, não sabemos por iniciativa de quem, que a impulsão dada aos objetos não era somente produto de uma força mecânica cega, mas que havia nesse movimento a intervenção de uma causa inteligente. Esse caminho, uma vez aberto, revelou um campo totalmente novo de observações: era o véu levantado de sobre muitos mistérios. Há, de fato, um poder inteligente? Essa é a questão. Se esse poder existe, qual é ele, qual é a sua natureza, sua origem? Ele está acima da humanidade? Essas são as outras questões decorrentes da primeira.
Não vemos uma ressalta a hipótese de “mistificadores”.
Agora vemos que Kardec interpretou os fenômenos, que poderiam ter sido truques por parte dos realizadores, como fenômenos inteligentes.
O que não vemos novamente são as questões:
1) Qual a iluminação do ambiente?
2) Onde aconteceram esses fenômenos?
3) Quais tipos de controle adotado?
Obtiveram-se, em seguida, respostas mais desenvolvidas por meio das letras do alfabeto: o objeto móvel, batendo um número de vezes correspondente ao número de ordem de cada letra, chegava a formular palavras e frases respondendo às perguntas propostas. A precisão das respostas e sua correlação com a pergunta causaram espanto.
Kardec observou que as mesas e objetos pareciam responder perguntas.
O ser misterioso que assim respondia, quando interrogado sobre sua natureza, declarou que era um Espírito ou gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações a seu respeito.
Subentende-se que o “objeto móvel” seria uma mesa ou algo do tipo. O que quer que seja não alterará a argumentação: o que importa é que temos objetos físicos respondendo perguntas. Então, vemos que as mesas “respondiam” que eram espíritos os causadores de tais turbulências.
Aqui há um fato muito importante que convém ressaltar: ninguém havia imaginado os Espíritos como um meio de explicar o fenômeno. Foi o próprio fenômeno que se revelou. Muitas vezes, nas ciências exatas, formulam-se hipóteses para se ter uma base de raciocínio, mas isso não ocorreu nesse caso.
Pergunto-me: se esses fenômenos das mesas foram causados por fraude, por mágica, por brincadeira dos participantes que, poderiam ter inúmeros motivos pessoais, subjetivos para isso, então o Espiritismo nasceu de um erro de interpretação.
Se essa hipótese for verdadeira, o Espiritismo nasceu de um erro, de um engodo. As conseqüências nem precisam ser ditas.
Esse meio de comunicação era demorado e incômodo. O Espírito, e isso ainda é uma circunstância digna de nota, indicou um outro processo. Foi um desses seres espirituais que ensinou a prender um lápis a um pequeno cesto ou a um outro objeto. Esse cesto, colocado sobre uma folha de papel, foi posto em movimento pelo mesmo poder oculto que fazia mover as mesas; mas, em vez de um simples movimento regular, o lápis traçou, por si mesmo, letras formando palavras, frases e discursos inteiros de muitas páginas, tratando das mais altas questões da filosofia, da moral, da metafísica, da psicologia, etc., e isso com tanta rapidez como se fosse escrito à mão.
Não vemos referências às questões, novamente:
1) Iluminação. Como esse processo era feito?
2) Presença de peritos em fraude.
3) Que tipo de controle fora adotado?
Não temos todos detalhes completos de como isso era feito, de como tudo isso realmente acontecia (se é que aconteceu, se realmente Kardec presenciou tais feitos).
Kardec não alude, novamente como deveria, à hipótese de mágica e ilusionismo.
O cesto ou a prancheta apenas podem ser colocados em movimento sob a influência de algumas pessoas dotadas, para esse fim, de um poder especial e que são designadas como médiuns, isto é, intermediários entre os Espíritos e os homens. As condições de que se origina esse poder especial têm causas ao mesmo tempo físicas e morais ainda desconhecidas, visto que se encontram médiuns de todas as idades, de ambos os sexos e em todos os graus de desenvolvimento intelectual. Essa faculdade, esse dom, se desenvolve pelo exercício.
Aqui vemos uma pequena alusão aos processos com que os “médiuns” desenvolverão seu processo de comunicação com os mortos, entre eles o processo de psicografia.
Mais tarde se reconheceu que o cesto e a prancheta, na realidade, eram apenas um substituto da mão, e o médium, pegando diretamente o lápis, pôs-se a escrever por um impulso involuntário e quase febril.
Vemos a crença exposta de que o “médium” realmente acreditava estar escrevendo mensagens de mortos.
Isso pode ser completamente questionado e explicado de inúmeros meios, entre eles o de que o “médium” poderia realmente acreditar que estava escrevendo de espíritos. Qual o limite da crença?
(Uso o termo médium entre aspas pois se as tirasse admitira que a pessoa realmente comunicava-se com os mortos. Apesar de isso ser apenas um detalhe que em nada altera a argumentação, mantê-lo-ei).
Dessa forma, as comunicações tornaram-se mais rápidas, fáceis e completas. Hoje é o meio mais empregado, tanto é que o número de pessoas dotadas dessa aptidão é muito grande e multiplica-se todos os dias.
Essa questão envolve inúmeras questões, e inúmeras possibilidades.
1) Se os primeiros fenômenos de mesas “respondendo” perguntas tiveram causa em mágica, fraude ou ilusionismo, então quantos casos futuros desse não foram de pura superstição?
2) É claro que essas questões também abrem espaço para hipóteses defendidas pela Parapsicologia, sem a necessidade de explicá-las com espíritos. Essa possibilidade não pode ser descartada.
A experiência fez conhecer outras variedades da faculdade mediúnica e constatou-se que as comunicações poderiam igualmente ter lugar pela fala, pela audição, pela visão, pelo tato, etc. e até mesmo pela escrita direta dos Espíritos, ou seja, sem a interferência da mão do médium nem do lápis.
Cabe a nós uma questão social-antropológica básica:
1) O Espiritualismo se espalhou no século XIX de maneira rápida e por vários países. As pessoas adotavam a crença em espíritos como verdadeiras, e por isso poderiam pensar que viam, ouviam, sentiam espíritos, fazendo com que também caíssemos em uma questão de âmbito psicológico.
A alegação de uma pessoa não tem critério algum de verdade sem que seja evidenciada posteriormente por meios confiáveis.
Também devemos lembrar que, por mais que tudo tenha sido verdade, que os mortos realmente se comunicaram através de mesas, um fato verídico acontecido no passado não garante que outras pessoas também o façam de forma verdadeira. Quantas pessoas não acreditaram receber espíritos e assim o proceder, escrevendo mensagens cujo texto acreditava ser dos mortos? Poderiam ter sido milhares e milhares.
Se os espíritos realmente existirem, muitas pessoas podem ter sido enganadas por seu próprio espírito encarnado ao adotar uma crença como essa.
Não cairei na questão de obtenção de informação, por agora.
Comprovado o fato, era preciso estabelecer e demonstrar um ponto essencial: qual era o papel do médium nas respostas e a parte que poderia nelas tomar, mecânica e moralmente.
Comprovado? Não senhor Kardec, não se comprovou. Alegações não são comprovações.
As pessoas poderiam alegar escrever mensagens cuja fonte era de pessoas mortas. Isso não é prova de espíritos senhor Kardec, mas alegação de comunicação.
Também não fora “comprovado” que a causa de mesas responderem perguntas eram entes mortos. O positivista não eliminou a hipótese de fraude como deveria fazê-lo, mas ao invés, usou de argumentos emocionais e de incredulidade pessoal.
O Espiritismo, evidentemente, não foi uma doutrina que nasceu com o devido escrutínio científico.
Duas circunstâncias fundamentais, que não poderiam escapar a um observador atento, podem resolver a questão. A primeira é a maneira pela qual o cesto se movia sob influência do médium, somente pela imposição dos dedos sobre a borda.
Kardec alega que somente ao se pôr os dedos sobre a borda, as mensagens eram escritas.
Como o francês nos elimina a possibilidade de truques? A questão é que ele não apresentou, nessa edição do LE, nenhuma referência de como isso não poderia ter sido feito por mágica (obviamente por não ter tratado a questão como deveria). E que por sinal, poder-se-ia realizar esse truque (se for um truque) de forma muito simples quando comparado a vários outros de mágica.
Suspeito que se Kardec visse esse questionamento no século XIX, ele usaria dos mesmos argumentos de incredulidade pessoal e emocional. Os ventos mudaram de direção. Não só pelos inúmeros casos de fraudes espiritualistas existentes (deveria citar vários?), mas pelos próprios fenômenos que Kardec alegou não terem referências sobre os cuidados que deveriam ter sido tomados e os controles que deveriam ter sido adotados.
Kardec fala os exames sobre isso:
O exame demonstra a impossibilidade de que o médium pudesse lhe impor qualquer direção.
Quais exames?
Ele não nos apresentou quais exames foram feitos.
A velha questão metodológica deve ser seguida: métodos falhos nos conduzem a métodos falhos.
Essa impossibilidade torna-se mais evidente quando duas ou três pessoas colocam ao mesmo tempo as pontas dos dedos nas bordas de um mesmo cesto.
Se não temos a descrição dos rigores metodológicos e de escrutínios adotados, não temos condições de dizer se era “impossível” fazê-lo.
Se não temos as devidas referências, como podemos eliminar a possibilidade de truques em mensagens escritas como essas?
Seria preciso uma concordância de movimentos entre elas verdadeiramente fenomenal, e ainda seria preciso mais, a concordância de seus pensamentos para que pudessem se entender quanto à resposta a dar à questão formulada.
Se isso for um truque, e por acaso através de truques uma pessoa fizer a cesta escrever, as demais apenas poderiam acompanhar, como fazemos em brincadeiras “do copo”. Quando colocamos o dedo em cima do copo e um brincalhão faz com que o copo se mova em alguma direção, os outros dedos apenas acompanham.
Como não temos muitos detalhes sobre como esses fenômenos de cestas eram realizados, não devemos confiar na palavra de Kardec. Devemos nos manter céticos, metódicos e racionais. Devemos analisar todas as possibilidades que poderiam explicar esses fenômenos. A mágica não somente é uma possibilidade real, como perfeitamente possível.
A incredulidade pessoal dos espíritas não altera na questão. Muitos usam do argumento de incredulidade e de autoridade dizendo que Kardec era um grande intelectual. Oras isso não o faz um conhecedor de truques, e, sem falar que o mesmo não deu atenção para essa hipótese.
Duvidar que não eram simples mágicas não resolve a questão. Duvidamos de espíritos pois esses fenômenos que Kardec relatou podem ter muitas outras explicações alternativas, sem entes mortos, e que as explicações têm chances de ser verdadeiras.
Um outro fato, não menos importante, ainda vem se juntar à dificuldade: é a mudança radical que se constata na caligrafia, conforme o Espírito que se manifesta;
Kardec era perito em grafoscopia? Espíritas, devidos os casos grafotécnicos das psicografias de Chico Xavier, dizem que a grafoscopia pode fornecer evidência para sua hipótese de sobrevivência. Leigos podem simplesmente dizer: “essa caligrafia é muito semelhante, logo é a da pessoa.”
Kardec, nessa parte do LE não nos deixa informações sobre como esse tipo de conclusão fora obtida, se as escritas que alegou ter observado foram analisadas por peritos. É exatamente por isso que nós, com uma postura crítica, devemos questionar.
Se devemos questionar até os casos que têm algum grau de escrutínio (por mais falhos que possam ser), imagine caro leitor, os que não têm.
porém, cada vez que o mesmo Espírito retorna, sua escrita se reproduz. Seria preciso, portanto, que o médium fosse capaz de mudar sua própria escrita de 20 maneiras diferentes e, principalmente, que pudesse se lembrar da que pertence a este ou àquele Espírito.
Kardec novamente não nos fornece documentação suficiente para sabermos exatamente como esses processos eram feitos, quem os analisava, sob quais condições eles ocorriam.
Eu não me conformo que, diante de toda essa fragilidade metodológica, que o Espiritismo tenha crescido com algum grau positivo. Onde está o pensamento crítico das pessoas?
A segunda circunstância resulta da própria natureza das respostas que são, na maioria, principalmente quando se trata de questões abstratas ou científicas, notoriamente fora dos conhecimentos e algumas vezes além da capacidade intelectual do médium, que não tem consciência do que escreve sob influência do Espírito.
Essa afirmação é completamente vazia. Diz-se que os médiuns não tinham conhecimento do que escreviam. Como podemos ter algum grau de certeza? Por que deveríamos acreditar nisso?
Primeiramente que é vazia pois Kardec novamente não nos fornece detalhes sobre a forma como isso se dava. Segundo que não cita nenhum argumento capaz de eliminar a possibilidade de os “médiuns” obterem informação. Por terceiro que não sabemos quem os médiuns eram.
Com freqüência, o médium não ouve ou não compreende a questão proposta, uma vez que pode ser feita numa língua que lhe é estranha, ou mesmo mentalmente; e a resposta pode ser dada por escrito ou falada nessa mesma língua.
Outra alegação, e novamente Kardec apenas diz que os “médiuns” não sabiam falar outros idiomas. Novamente ele não apresentou nenhum meio do qual pudesse sustentar essa crença. Que razão então deveríamos ter para crer nisso? Não vejo razão alguma.
Enfim, acontece que muitas vezes o cesto escreve espontaneamente, sem pergunta prévia, sobre um assunto qualquer e inteiramente inesperado.
Kardec realmente acreditava nisso. Já comentamos sobre as condições. Nada de positivo, por enquanto.
Essas respostas, em alguns casos, têm uma tal marca de sabedoria, profundidade e oportunidade, revelam pensamentos tão elevados, tão sublimes, que somente podem proceder de uma inteligência superior, fundamentada na mais pura moralidade.
Essa alegação é muito mais ingênua do que a postura de Kardec com a hipótese de fraude. Alega-se que as mensagens têm “pensamentos elevados”. Essa análise subjetiva de Kardec não nos prova absolutamente nada.
Primeiro que não temos informações de quem eram esses “médiuns”. Segundo que Kardec não apresentou os critérios que fizeram com que ele considerasse as mensagens com “marca de sabedoria, profundidade, pensamentos elevados, morais”.
Não é por acaso que na própria introdução do LE, em “A História”, Kardec nos diz:
A Doutrina Espírita, como toda idéia nova, tem seus adeptos e seus opositores. Vamos tentar responder a algumas das objeções, examinando o valor dos motivos em que se apóiam, sem termos, entretanto, a pretensão de convencer a todos, porque há pessoas que acreditam que a luz tenha sido feita exclusivamente para elas. Dirigimo-nos às pessoas de boa-fé, sem idéias preconcebidas ou obstinadas e sinceramente desejosas de se instruir, e demonstraremos que a maior parte das objeções à Doutrina provém de uma observação incompleta dos fatos e de um julgamento feito com muita leviandade e precipitação.
Kardec admite que muitas objeções vêm de observações incompletas dos fatos (digo eu, supostos fatos). Mas o próprio não apresentou todos os dados, referências, meios pelos quais os supostos fenômenos se davam, como está sendo demonstrando ao longo do texto.
O próprio Kardec demonstra agir de maneira hipócrita ao dizê-lo pois, ele mesmo ignorou o que não deveria (hipóteses de fraude, mágica e ilusionismo).
Como o positivista poderia dizer algo desses se não analisou o todo? Na verdade, ele analisou o todo, mas não deu atenção ao que deveria.
Essa diversidade da linguagem e dos ensinamentos somente se pode explicar pela diversidade das inteligências que se manifestam.
Essa é realmente uma falácia, e muito desprezível.
Falácia pois:
1) Kardec não deu atenção à hipóteses alternativas, como fraude, truques, mágicas. Logo, dizer que somente pode-se explicar com essa hipótese espírita é, no mínimo, uma atitude desprezível com tão grande engodo.
2) Kardec não nos apresentou os detalhes exatos de como os fenômenos se davam. Logo, não há razão alguma para considerar essa alegação se que só se explicam por “inteligências diversas”. O caso das escritas diferente é o grande exemplo disso.
Estarão essas inteligências na humanidade ou fora dela? Esse é o ponto a esclarecer, para o qual se encontrará a explicação completa nesta obra, exatamente como foi revelada pelos próprios Espíritos.
Ao se admitir sem o devido escrutínio e rigor cético metodológico a existência de “inteligências superiores”, eis que agora começa a crença espírita.
Devo lembrar o leitor que, no decorrer dessa leitura ao LE, (e somente do LE), ressaltei a hipótese que Kardec não considerou: fraude.
Lembremos que há inúmeras hipóteses parapsicológicas alternativas paralelamente às espiritualistas para explicar esses supostos fenômenos, isso é, caso consideremos esses fenômenos como não explicados pelas ciências atuais. Muitas delas, de acordo com alguns pesquisadores, com rigor científico. Considerando a igualdade de explicação (para não desmerecer nenhuma hipótese espiritualista), não há razão alguma para escolher e acreditar nas hipóteses espíritas.
Não devemos crer em hipóteses, mas usá-las para explicar fatos e colocá-las à prova. A crença espírita nesse ponto não difere da de outras religiões pois a maioria dos espíritas simplesmente crêem em espíritos. Usam-se do pouco rigor metodológico que Kardec demonstrou nas obras para dizer que há um grau de cientificidade no Espiritismo. Como questionado, não há razão alguma através desse grau para defender a veracidade da crença espírita. Esse grau é fraquíssimo pois não está devidamente corroborado.
A maioria dos espíritas não defende essa crença pelo seu rigor experimental, mas somente por crerem na hipótese (por inúmeros fatores pessoais). Se assim o fosse, não haveria espíritas, mas investigadores paranormais ou céticos metodológicos. Os que defendem deveriam saber que, ao ler um livro como o LE, o rigor metodológico que Kardec disse ter adotado é aberto a falhas, fraudes e truques.
Estou convencido que o espírita não crê em espíritos pelo rigor científico de sua doutrina, mas simplesmente por crer e considerar a hipótese plausível.
O que os espíritas normalmente não fazem é comparar a plausibilidade de hipóteses alternativas. Se existem tais hipóteses, e se não são inferiores às espíritas (cabe a ser demonstrado epistemologicamente que não são inferiores, caso contrário caímos em um argumento circular), que razão há em crer em espíritos?
Saindo dessa digressão sobre a crença espírita, continuemos a leitura do LE:
Eis que os efeitos ou fenômenos evidentes e incontestáveis que se produzem fora do círculo habitual de nossas observações não se processam misteriosamente, mas sim à luz do dia, e todos podem vê-los e constatá-los, porque não são privilégio de um único indivíduo, uma vez que milhares de pessoas os repetem todos os dias à vontade. Esses efeitos têm necessariamente uma causa, e a partir do momento que revelam a ação de uma inteligência e de uma vontade saem do domínio puramente físico.
Kardec nos diz que os fenômenos também se realizavam à luz do dia. Ótimo, o que nada altera a possibilidade de truques.
William Crookes por exemplo realizou inúmeros experimentos com Home e outros em situações de luminosidade precária (Ver a tese dissertação de mestrado de Juliana).
Kardec também nos dá a mesma conclusão: os fenômenos têm causa em espíritos.
Já analisamos que essa conclusão têm grande chance de ser falsa, devido a falta de preocupação de Kardec com hipóteses alternativas.
Teria o Espiritismo nascido de um grande erro? René Guenón, autor de uma obra intitulada “O erro espírita” defende essa idéia, mas também por vias filosóficas. Guenón defendeu essa idéia baseando-se na idéia de que os fenômenos observados por Kardec poderiam ser explicados por hipóteses parapsicológicas alternativas. Guenón também não deu o interesse que deveria à hipótese de fraude. Então, se a resposta é sim, desnecessário seria decorrer sobre isso. Os espíritas já teriam em mente toda essa conseqüência ao admitir essa desastrosa possibilidade.
Kardec se propõe a analisar hipóteses alternativas no decorrer do livro. Vemos:
Muitas teorias foram anunciadas a esse respeito. Elas serão examinadas em seguida e veremos se podem fornecer a razão de todos os fatos que se produzem. Admitamos, em princípio, antes de chegar até lá, a existência de seres distintos da humanidade, uma vez que esta é a explicação fornecida pelas inteligências que se revelam, e vejamos o que nos dizem.
Guarde no bolso caro leitor a postura anterior de Kardec: a de não dar atenção à hipóteses alternativas.
Veremos se essa postura de Kardec sustenta ainda mais sua postura dogmática anterior.
O movimento dos objetos é um fato comprovado. A questão é saber se, nesse movimento, há ou não uma manifestação inteligente e, caso haja, qual é a origem dessa manifestação.
Aqui Kardec começa sua assertativa sobre hipóteses alternativas. Continuemos:
Não trataremos somente do movimento inteligente de alguns objetos, nem de comunicações verbais, nem mesmo das diretamente escritas pelo médium. Esse gênero de manifestação, clara e evidente para aqueles que viram e se aprofundaram no assunto, não é à primeira vista muito convincente para um observador novato, por não a entender como independente da vontade do médium.
Kardec usa termos como: “não entender como independente a vontade do médium”.
Isso é apenas uma crença: a crença na comunicação.
Na verdade, o observador não compreende porque não crê, ou porque não traçou os caminhos que Kardec o fez para chegar a essa conclusão.
Não trataremos somente da escrita obtida com a ajuda de um objeto qualquer munido de um lápis, como o cesto, a prancheta, etc. A maneira como os dedos do médium ficam colocados sobre o objeto desafia, como já dissemos, a habilidade mais consumada de poder participar de qualquer modo que seja no traçado das letras.
Desafia, senhor Kardec? Então isso é uma evidência suficientemente concreta para admitirmos a existência de espíritos? Como vimos anteriormente, não, não é.
Mas admitamos ainda que, por efeito de uma habilidade maravilhosa, o médium possa enganar o olhar mais atento. De que maneira explicar a natureza das respostas, quando estão muito além de todas as idéias e de todos os conhecimentos do médium?
Kardec aqui atenta-se para a hipótese de fraude. Mas ele não vê meios pelos quais o “médium” poderia enganar os observadores.
Esse é novamente o argumento da incredulidade pessoal.
E, que se note bem, não se trata de respostas monossilábicas, mas muitas vezes de numerosas páginas escritas com a mais espantosa rapidez, seja espontaneamente, seja sobre um assunto determinado.
E novamente não temos as referências. Essa alegação já foi questionada anteriormente:
1) Não sabemos quem é o “médium”.
2) Não sabemos como ele, se por acaso conseguiu informações, as obteve.
3) Não sabemos de suas habilidades.
Pela mão do médium, mais alheio e avesso à literatura, nascem, algumas vezes, poesias de uma sublimidade e pureza irrepreensíveis, que os melhores poetas se dignariam em assinar.
Então, se eu alego receber uma mensagem de algum morto, e escrevo uma bela poesia, então é verdade que eu recebo poesias de mortos?
(Lembrando que não sabemos quem são os “médiums”.
Nem cairei em explicações da psicologia. O próprio senso comum aqui com que agora questionei demonstra a fragilidade dessa alegação. Imagine se eu caísse na Psicologia? Nem ao menos é necessário.
O que acrescenta ainda mais estranheza a esses fatos é que acontecem em todos os lugares, e que os médiuns se multiplicam ao infinito.
Kardec aqui agora leva sua crença a pensar que a mediunidade, além de um fato, acontece em todo mundo. Pois bem, se ela fosse um fato, aconteceria. Mas o que estamos questionando é: é um fato? Não temos certeza. Pode muito bem não ser pelos inúmeros motivos apresentados.
Esses fatos são reais ou não? Para isso, apenas temos uma resposta: vede e observai, ocasiões não faltarão; mas observai repetidamente, por um período e obedecendo às condições determinadas.
Aqui Kardec nos diz exatamente isso: “Veja, observe, observe repetidamente por longo período, e “obedecendo às condições determinadas” (quais condições? condições que os “médiuns impõem?), então você concluirá pela existência de espíritos”.
Se hoje existisse algum metodólogo como Kardec, com certeza ele perderia o emprego.
Vemos claramente a influência positivista de Kardec nesse argumento, dizendo que “quanto mais repetições de um fenômeno, mais certeza você tem dele ou mais factual ele o é”.
Essa concepção de ciência positivista está morta e muita bem enterrada (ou deveria estar!). Esse crivo científico foi muito bem enterrado por grandes epistemólogos críticos do pensamento positivista.
A repetição de um fato não o torna mais verdadeiro, e isso também acontece com a hipótese que o explica. O que nós fazemos hoje em dia para testar uma hipótese não é replicar os fenômenos para demonstrar “olhe, a hipótese é verdadeira!”. Não. O que fazemos é programar situações diferentes de testes rigorosos para analisarmos a consistência da hipótese aos testes. Se a hipótese se manter, então a corroboramos. Caso contrário, verificamos se há mesmo erros e a eliminamos.
Isso não significa que ela é falsa. A tecnologia é o meio pelos quais subordinamos as hipóteses aos testes. Conforme ela muda, nossa visão e possibilidade de teorias também. Conforme temos os aparelhos e técnicas específicas, podemos retomar teorias descartadas ou descartar novas. A teoria descartada poderá voltar no futuro, exatamente como aconteceram com os prós das teorias de aparecimento espontâneo da vida (abiogênse), que foram descartadas nos séc. XVI e XVII.
Diante da evidência, o que respondem os opositores? “Sois”, dizem, “vítimas do charlatanismo ou joguete de uma ilusão.” Diremos, primeiramente, que é preciso separar a idéia de charlatanismo de onde não há lucro;
Não há lucro, mas pode haver crença, vontade de que aquilo seja verdadeiro.
os charlatães não fazem seu trabalho de graça.
E isso prova espíritos? Não.
Isso seria, então, uma mistificação. Mas por que estranha coincidência tantos mistificadores teriam combinado em harmonia e concordância para, de um canto a outro do planeta, agir da mesma forma, produzir os mesmos efeitos e dar sobre os mesmos assuntos e em tão diversas línguas respostas idênticas, se não quanto às palavras, pelo menos quanto ao sentido?
O argumento de incredulidade francês ataca novamente.
Primeiro que Kardec se esquece que essa convergência de fenômenos se deram somente no séc. XIX. Isso poderia abrir a mente de Kardec? Teria Kardec uma parte do pensamento moderno, historicista e relativista antropológico? Não estou querendo supor que esses fenômenos não aconteciam, mas devido a um paradigma específico (uma crença espiritualista, no caso), houve essa “explosão” pela Europa. O pensamento de Kardec pouco se enquadra no moderno.
E o que levaria pessoas sérias, honradas, instruídas a se prestar a semelhantes artimanhas e com que objetivo?
Não sabemos senhor Kardec. O que sabemos é que sua ingenuidade pessoal nada prova. Sabemos que as pessoas são más, tem sua própria razão, muitas vezes acreditam cegamente em algo, não por maldade, mas por fé.
As pessoas têm diversos objetivos de vida, planos, atos.
Esse argumento emocional, baseado na pura incredulidade é o ponto fraco da argumentação de Kardec. E novamente a incredulidade pessoal vem em rigor.
Como encontrar entre as crianças a paciência e a habilidade necessárias para esse fim? Porque, se esses médiuns não são instrumentos passivos, será preciso reconhecer neles habilidade e conhecimentos incompatíveis com a idade infantil e com certas posições sociais.
Crianças, senhor Kardec? E quantas eram crianças entre seus “médiuns”? Qual a idade das “crianças”? Adolescentes? Como as sessões se deram? Em quais intervalos de tempo?
E por acaso, se forem muitos jovens, como isso determinaria a existência de espíritos? Quais hipóteses alternativas que a ciência nos dispõe para explicar tal fato?
A hipótese espiritualista não é a única, e mesmo se fosse, nada garante sua validez sem as devidas evidências. Também não temos novamente os detalhes de como isso acontece, o que não nos permite, nessa leitura do LE afirmar muitas coisas.
Então, dizem que, se não há trapaças, os dois lados podem ser vítimas de uma ilusão. Numa avaliação lógica, a qualidade dos testemunhos tem grande valor; portanto, é o caso de se perguntar se a Doutrina Espírita, que hoje conta com milhões de seguidores, apenas os recruta entre os ignorantes?
Kardec vai para o lado pessoal e usa-se de testemunhas, o que nada prova ou autentica os fenômenos espiritualistas.
De resto, Kardec nos apresenta a crença espírita, Deus, a revelação das mensagens por espíritos, e tudo o mais.
É claro que eu poderia ter obtido mais respostas a meus questionamentos se tivesse em mãos os documentos da Revista Espírita, e excertos, quem sabe, de “O Livro dos Médiuns”
Mas tenho minhas dúvidas se teria de alterar minha argumentação e os questionamentos. O objetivo não é esse, apesar de saber que receberei respostas para minhas dúvidas. O objetivo é demonstrar por que um cético não acredita em espíritos quando lê “O Livro dos Espíritos”.
Conclusão:
Essa leitura sobre os métodos e a investigação que Kardec apresentou em “O Livro dos Espíritos” não me fez acreditar em espíritos pois:
1) Kardec falhou em suas observações. Não deu a atenção que deveria à hipótese de fraude, engodo, mágica, ilusionismo, truques.
Ele justificou essa atitude com motivos emocionais, atitude devidamente ingênua, motivos pessoais e claro, na própria falácia da incredulidade pessoal.
2) Kardec não nos deu as referências específicas sobre como os fenômenos se davam.
Não se pode concluir algo sem as devidas referências sobre como os fenômenos se davam.
3) Podemos explicar tudo o que Kardec apresentou com hipóteses parapsicológicas, que devem ser científicas. Logo, não há razão alguma para crer em espíritos a não ser a vontade de crer no pós-morte.
Essas são as razões da descrença de um cético quando se depara com o livro mencionado. Se há documentos além desses capazes de nos convencer, então poder-se-ia dizer que esse não é.
A verdade sempre.
FONTE: obraspsicografadas.org
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