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quinta-feira, 22 de março de 2012

Entrevista para ANESP PRESS

A entrevista abaixo deveria circular no jornal O PENSADOR.
Entretanto devido a situações singulares envolvendo a justiça e direitos de resposta
de um espirita que se sentiu magoado com algumas colocações do jornal, este não
pode circular.

Portanto estou postando a mesma aqui no site.

Agência de Notícias Espíritas da Paraíba – Desde 13 de Agosto de 1998.
Pauta de Entrevista com FRANCISCO AMADO,
blogueiro e pesquisador espírita de Porto Alegre, RS.


01 – Todos sabemos que o aspecto religioso do Espiritismo sofreu graves deturpações por parte dos espíritas místicos, que adotaram Os Quatro Evangelhos – A Revelação da Revelação, de J. B. Roustaing, como obra norteadora do movimento espírita brasileiro em detrimento das obras básicas kardequianas. Esse misticismo agravou-se depois do mediunato missionário de Francisco Cândido Xavier?
Na verdade colocar todas as coisas erradas que ocorre com a doutrina espírita nas costas de Francisco Xavier não é ser honesto, eu não faço isso, pois a verdade é que o que deter-minou o misticismo no espiritismo brasileiro não foi uma só pessoa, mas um conjunto de fatos. Exemplo compare um exemplar do Livro dos Espíritos traduzido por J.Herculano e outro por Guillon Ribeiro a mesma questão 671 Um traduz desta maneira “conhecer a sua doutrina pela persuasão e a doçura,” Já o outro desta ‘conhecer a doutrina do Salvador”
Na verdade o mediunato de Chico não agravou, apenas reforçou aquilo que já fazia e faz parte da sociedade Brasileira, junte-se a tudo isso a preguiça mental e o analfabetismo funcional e temos um seita de crentes religiosos, que não admitem que se questione as obras de Chico Xavier.

02 – A vidência, assim como todas as outras formas de mediunidade, quando ocorre permanen-temente nos casos de mediunato, pode bloquear a razão e excitar o misticismo. Teria Chico Xavi-er, um médium vidente e psicógrafo de formação católica, sofrido os efeitos desse misticismo e cometido equívocos doutrinários com a bênção de Emmanuel, seu mentor intelectual e espiritual?
Não, o problema não é a mediunidade, a questão é não aplicar a metodologia de Kardec que está bem claro no livro 0 que é o espiritismo “O primeiro controle é, sem sombra de dúvida, o da razão, à qual é preciso submeter, sem exceção, tudo quanto vem dos Espíritos. Toda teoria em manifesta contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos que se possuem, por mais respeitável que seja a sua assinatura, deve ser rejeitada.”


03 – Dentre os mais de 400 livros recebidos por Chico Xavier, com a supervisão de Emmanuel, quais a seu ver que contribuíram para sedimentar dogmas igrejeiros no movimento, não permitindo abertura para a análise e o debate alteritário tendo em vista a evolução do conhecimento e das práticas no Centro Espírita? Bem, na verdade o problema principal é a preguiça mental, pois eu tenho todas as obras de Chico Xavier e por muito tempo ministrei palestras falando das obras de André Luiz. Tanto que cunhei esta frase “O ortodoxo sabe avaliar o místico, porque já foi um místico; mas o místico não pode avaliar o ortodoxo, porque nunca foi ortodoxo.”
Todavia destacaria dois livros, o primeiro é de onde saiu os Dragões, magos negros e serve de nas-cente para todas as fantasias mediúnicas, que abarrotam as livrarias. A fantasia mediúnica Nosso Lar. O segundo o Coração do mundo Pátria do Evangelho. Imagine que neste livro Jesus é apresen-tado como Dr. Smith aquele do seriado Perdidos no Espaço. Sim, porque este Jesus não sabia para que lado ficava o Brasil, tem como acreditar na seriedade de uma obra destas?

04 - O Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos (CUEE) fez falta na análise criteriosa da produção literária mediúnica do saudoso médium mineiro?
Fez falta e ainda faz nas obras atuais. O que o Espiritismo objetiva é a transformação interior das criaturas, para que se tornem mais esclarecidas e com isso, dotadas de mente mais arejada e coração mais puro. O Controle Universal serve para separar o que é espírita do que é espiri-tualista, separar o racional da crendice, é o que temos de melhor. O restante é abismo, é debater a carnavalização da Doutrina.

05 – Uma das missões do Espiritismo é esclarecer as multidões, alargar o conhecimento humano e reeducá-lo para uma realidade integral da vida, além da morte física. Você acha que Emmanuel e André Luiz prejudicaram esses aspectos da Doutrina implementando uma carga cultural religiosa que lembra o velho e místico sistema igrejeiro? Não, eu diria que as instituições que fazem propaganda massiva em torno destas obras é que prejudicaram esses aspectos da doutrina. Pois, não podemos pedir para quem não era espírita conhecer o espiritismo. André Luiz era um ateu, isto ele mesmo afirma no Livro Nosso Lar Emmanuel era católico então nem um nem outro conhecia a doutrina, basta ver que a maioria da serie Andre Luiz, não existe citações sobre as obras básicas.

06 – Qual a metodologia utilizada por você para fundamentar suas pesquisas e concluir que a Colônia NOSSO LAR e o UMBRAL são criações fantasiosas geradas pela carga cultural religiosa mística que acompanhou André Luiz além da morte física?
A metodologia deixada nas obras básicas ex; “não aceiteis nada cegamente. Que cada fato seja submetido a um exame minucioso, aprofundado e severo.” (O Livro dos Médiuns– item 98)
O trabalho de analise de nosso lar foi um pedido do Jorge Mutra que é editor do site Espiritismo com profundidade. Ele pediu um estudo sobre as excrescências de nosso lar o que resultou no pequeno livro online “Nosso Lar uma fantasia Mediunica” que está disponível a todos que quise-rem refutar ponto por ponto. Um pequeno exemplo de como foi feito.
Nosso Lar, capítulo 3: Clarêncio, que se apoiava num cajado de substância luminosa, deteve-se à frente de grande porta encravada em altos muros, cobertos de trepadeiras floridas e graciosas. Tateando um ponto da muralha, fez-se longa abertura, através da qual penetramos, silenciosos.
Por que uma pessoa se apóia em uma muleta?
ANÁLISE A resposta é simples: algum problema físico. Muleta e cajado são a mesma coisa? Não! Um cajado é uma vara de pastor, caracteristicamente tendo a extremidade superior re-curvada em forma de gancho ou semicírculo. Ele é usado para tocar nas patas das ovelhas de leve para que elas retornem ao seu caminho, não se desviando do caminho. Em algumas oca-siões, o cajado podia ser utilizado como arma. A ovelha conhecia o Pastor pelo cheiro do cajado que se apegava a sua mão, sendo assim, ela conhecia o Pastor e o seu cajado.
Mas como supor que um espírito superior tenha problemas físicos? Então, vemos aqui a mito-logia do bom pastor. André é a ovelha que veio marcar profundamente uma mentalidade igre-jeira no movimento espírita.
É da essência de um Espírito elevado se ligar mais ao pensamento que à forma e à matéria, de onde se segue que a elevação do Espírito está em razão da elevação das ideias; portanto, todo Espírito meticuloso nos detalhes da forma, que prescreve puerilidades, em uma palavra, que liga importância aos sinais e às coisas materiais, acusa, por isso mesmo, uma pequenez de ideias, e não pode ser verdadeiramente superior.( Revista Espírita 1860 pág206)
Toda a metodologia segue esta linha trazendo o contra ponto com as obras básicas.

07 – A seu ver, o que levou a Federação Espírita Brasileira publicar tantas obras divergentes com o pensamento sensato e racional de Allan Kardec? O que importa é o mercado de livros, cujo conteúdo a FEB criminosamente deixou de corrigir, permitindo a infiltração de preconceitos e dogmas de fé cega do passado (principalmente católicos), com distorções e contrariedades doutrinárias que misturam o conteúdo do espiritismo num escandaloso sincretismo com o catolicismo que lhe dá mercado.
Um mercado rento$o.

08 – O misticismo religioso que grassa em nosso movimento não é um “mal necessário” para a divulgação massificadora do Espiritismo? Curioso que todo mundo alega que Chico foi o maior divulgador da Doutrina e que, se não fosse ele, não teríamos o surpreendente número de 1,3% da população brasileira como espíritas. Só que o número de viciados em crack é de 3% da população. E o que tem a ver uma coisa com outra? Ora, se uma sociedade é o resultado das forças, boas ou más, para se melhorar essa sociedade é preciso agir primeiro sobre a inteligência e sobre a consciência dos indivíduos. Mas, como a Federação resolve propagar a fé cega em médiuns duvidosos, a Doutrina ficou restrita ao número atual e a grande reforma que poderia estar fazendo na mentalidade das pessoas ficou só na teoria.

09 – Suas considerações finais. A primeira reação que temos quando alguém chega e coloca em dúvida tudo aquilo que alimentamos como verdade, são a negação e a fuga, o temor de encarar a realidade. Todavia, se realmente adotamos a Doutrina Espírita em nossa vida, não podemos nos manter tolhidos como estátuas, indiferentes ao estudo sério e continuado.
Temos que ter em mente que a sociedade espírita não é lugar para curar dor de cabeça, unha encravada ou qualquer outra doença, e sim local de estudo e aprendizado, sem assumir a condição piegas dos comportamentos estereotipados, dos sorrisos melífluos, das promessas impossíveis de cumprimento, enfim, das condições que caracterizam as religiões formalistas.
Agradeço o amigo Carlos cedendo este espaço, gostaria de ver mais jornais espíritas que pautasse seus artigos com o contraditório, pois é o embate de idéias que nos faz evoluir e é para isso que estamos todos aqui.
No portal http://ensinoespirita.blogspot.com você encontra vídeos, artigos e livros para baixar, aguardo a visita de todos e seus comentários.


João Pessoa (PB), Janeiro de 2012.
CARLOS ANTONIO DE BARROS,

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